Ultraviolence

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Lua tinha acabado de vir da escola. Trazia na mão o seu livro de notas e desde o momento em que o recebeu, que não conseguia deixar de o olhar e sorrir toda feliz por saber que todo o seu estudo originou uma boa média.

Assim que chegou em casa, percebeu que a sua mãe já não estava. Entrou pela porta da cozinha e viu que o almoço estava feito. Cheirava bem, provavelmente era macarrão. Lua queria que a mãe estivesse em casa para lhe mostrar as suas notas, mas como não estava, decidiu mostrar ao pai.

Este encontrava-se na sala, de pernas cruzadas em frente à Tv. O seu rosto estava sério e aparentava uma certa irritação.

- Sua bênção pai.

- Que demora foi esta?

- Eu fui à escola, como tinha dito de manhã. E adivinha só... eu tenho média de 18.

- Tudo bem. - o pai nem ligou ao certo ao que a filha dizia com entusiasmo - Trouxeste o que eu te pedi? Estou com sede e... - o pai levantou-se e Lua levou a mão à cabeça. Havia se esquecido completamente.

- Pai, eu esqueci. - confessou - Mas eu vou buscar agora. É que eu vim da escola com muita vontade de...

- VONTADE TENHO EU DE TE BATER! - ele meteu a mão na cintura e ergueu a outra violentamente

- Não pai, eu vou lá, eu...

- EU NÃO QUERO SABER DE DESCULPAS! - e nesse momento, ele levou a mão ao rosto dela e lhe bateu forte.

A rapariga ainda tentou se defender, colocando as mãos à frente do rosto, mas o pai foi mais forte. Quando ela ia falar, o pai voltou a bater-lhe e a culpar-lhe por algo que ela tinha feito e por outro algo que ela nem tinha feito. Culpou-lhe de seguida por algo que ela nem entendeu, seguido de outra chapada na cara.

- Como assim pai? Eu... a mãe foi...

- A tua mãe saiu de casa, sua vagabunda! - o pai de Lua empurrou-a contra a parede - A tua mãe cansou-se da filha desgraçada que tinha. Não faz nada a não ser ler e pintar. Que graça de vida tem isso?

Tudo era mentira. O pai de Lua só gostava de a colocar para baixo, mesmo nos momentos em que ela tentava minimamente ser feliz. A mãe de Lua sofria de violência doméstica desde a gravidez de Lua. Provavelmente se cansou de apanhar todos os dias pelo marido e foi embora, deixando uma carta.

"Os seres humanos têm a obrigação de serem felizes. Cuidar e serem cuidados. Amar e serem amados. Proteger e serem protegidos. Eu não me lembro da última vez que recebi um carinho, um abraço ou um beijo do teu pai. O teu pai foi o primeiro homem da minha vida. Aquele que eu me entreguei e me casei. Foi aquele a quem eu disse 'sim' no altar.

Eu deixei a casa para trás e junto com ela a pessoa que mais amava neste mundo: tu. Tu, minha filha, que hoje tens 16 anos e vives como se tivesses a minha idade. Cheia de problemas e a fazeres, vives com um pai que troca a educação pela tareia. Que troca a comida pela bebida. Que gasta o dinheiro em vinho, em vez de poupar para o teu futuro.

Eu fiz o que podia. Eu aguentei o máximo que consegui. Mas estava farta de ser o saco de pancada.

Espero que me compreendas e não fiques revoltada com o que eu fiz. Segue os teus sonhos e não te esqueças de, todas as noites, olhares para as estrelas e imaginares realmente a vida que queres. Espero que as estrelas e a lua te guiem para um futuro melhor.

Com amor, Maria Blanco"

Chuva de Estrelas · LuArOnde histórias criam vida. Descubra agora