2. O que deseja proteger

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Capítulo 2 | O Som das Flores

𝒁𝒐𝒆𝒚

Às vezes, Zoey queria ser uma tartaruga — para poder encolher-se em seu casco em qualquer sinal de constrangimento. O seu antigo eu surgia, temerosa e intensa; pronta para escapar de qualquer ameaça inventada pela sua própria mente. Zoey sabia que ainda tinha muito a superar, mas odiava perceber que a ansiedade extrema a impedia de fazer tantas coisas.

Quando Liam a convidou para aquela viagem, a moça pensou em desistir várias vezes. Quase negou a princípio; mas Liam parecia tão animado com aquela ideia que Zoey não teve coragem de negar nada — disse apenas que conversaria com os pais. Seu pai e sua mãe, é claro, ficaram felizes com aquele convite repentino e aceitaram tranquilamente a ida da filha. Pareciam felizes pela reaproximação dos dois, apesar de nunca terem parado de se falar completamente. Além disso, os pais de Zoey adoravam Lana e confiavam nela.

Além disso, Zoey já tinha dezoito anos completos — o que não era tão bom quanto os mais jovens achavam. Pelo menos, não para Zoey; que ainda se sentia tão dependente dos adultos e tão perdida que aquele número não fazia diferença. Entretanto, sua suposta independência foi o bastante para que seus pais aprovassem aquela viagem.

Mas aquilo não a livrou do sermão constrangedor do pai.

A casa de Liam ficava a aproximadamente vinte minutos de seu bairro. Zoey acordara mais cedo que o necessário para conferir se tudo estava certo (e porque havia dormido apenas cinco horas). Enquanto fechava a mala, pensou mais uma vez em demarcar aquela viagem, apesar de estar estranhamente empolgada. O frio em sua barriga e pensamentos iniciados com e se começaram a adentrar em sua mente. E se Liam só me convidou por educação e não quer mesmo minha presença? E se ficarmos estranhos um com o outro? E se o carro estragar no meio da estrada? Se eu vomitar no carro de Lana? E se eu não conseguir conversar com o Liam como antes? E se Liam desconfiar que...

— Cale a boca — Zoey disse para si mesma (ainda que não estivesse falando realmente). — Vai ficar tudo bem. Cale a boca. — ela bateu na própria testa, como se aquilo a livrasse daqueles pensamentos conflituosos.

Ela tentou manter-se calma no caminho até a casa de Liam. Porém, seu pai, que combinou de levá-la naquela manhã, decidiu dar-lhe as últimas instruções. Seus pais já haviam aconselhado Zoey sobre coisas do tipo não fale com estranhos (como se ela ainda estivesse dez anos), deixe o celular sempre próximo, não vá muito fundo no mar, etc, etc. Mas Jonas, seu preocupado pai, começou a se preocupar com coisas menos infantis.

Zoey nunca achou que teria aquela conversa às cinco da manhã e depois do café. Ela quase quis vomitar.

— Zoey — o pai começou, quebrando o silêncio. A moça, ainda sonolenta, virou-se para ele.

— Oi? — ela estranhou o tom de voz sério dele.

— Hum. Bem, só uma última coisa. Mas não menos importante... — ele passou a marcha com dificuldade e se concentrou na rua a sua frente. — Sei que você e esse rapaz são bem próximos. Amigos, sim. Mas você já tem dezoito anos. Não vou proibi-la de fazer nada, mas precisa tomar alguns cuidados...

— Pai! — ela o interrompeu, cerrando os olhos com força ao perceber aonde o pai queria chegar. Tentou não ficar vermelha, mas tinha certeza que já estava cor de beterraba. — Por favor! Ele é meu amigo. E eu não vou...grrr, eu sei muito bem como funcionam as coisas!

— Minha filha — o homem continuou pacientemente. — Eu preciso falar sobre isso. Sei que te ensinaram na escola, mas é uma obrigação dos pais também. Caso aconteça algo a mais...preservativos sempre. Além de prevenir gravidez precoce, protege contra doenças sexualmente transmissíveis.

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