1. Aquela garota

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Capítulo 1 | O Som das Flores

𝑳𝒊𝒂𝒎

Liam soltou um suspiro e olhou para a mala e a mochila sobre sua cama. Repassou por cada item de sua lista mental, perguntando-se se não estava esquecendo de algo. Carregador do seu celular. Sete pares de cueca. Camisas leves e blusas de frio, caso o tempo mude. Um livro sobre contos arturianos, remédios, repelente para mosquitos e outros insetos irritantes, e...Ah, e o mais importante: seu headphone.

— Acho que está tudo aqui. — ele murmurou consigo mesmo. Zeus, seu gato cinzento, saltou sobre a mala aberta e soltou um meeow rouco; como se dissesse: Tem certeza que não está se esquecendo de nada?

O garoto passou a mão pelos cachos desgrenhados e olhou ao redor. Convencido de que havia pegado tudo que necessitava para a viagem, ele fechou a mala e a janela do seu quarto. O gato continuou observando-o, curioso, e Liam passou a mão em sua cabeça.

— Não se preocupe, menino. A mãe de Lana cuidará bem de você — ele disse. — Ela não esquecerá de seus sachês.

Liam sorriu e pegou a mala, jogando a mochila em suas costas em seguida. Com passos apressados, ele desceu as escadas de madeira e atravessou a sala. Ele ouviu a voz de sua irmã e sua cunhada na garagem. Marcela organizava as bagagens no porta-malas do carro enquanto Lana entregava-lhe algumas sacolas. O garoto estendeu a própria mala, e a cunhada a pegou.

No céu, os primeiros raios de sol surgiam. Liam ficou observando-o por um momento, sentindo o frescor da manhã e ouvindo um galo cantar ao longe. Ele enfiou as mãos no bolso do moletom e respirou fundo, lembrando-se da época que saía cedo para ir à escola. Agora, estava tudo acabado. Não havia mais escola. Não havia mais ensino médio. Ele mal podia acreditar naquilo.

— Tudo certo por aqui? — a cunhada perguntou. Liam assentiu, levantando o polegar. A mãe de Lana apareceu comendo uma manga, com Laila ao seu encalço. Seu queixo estava amarelo. Apesar de terem os mesmos cabelos castanhos claros, Lana e a mãe não se pareciam em quase nada.

— Isso aqui está muito bom! — a mulher disse, enfiando a manga na boca. — Ah, Liam...Acabou de parar um carro na porta. Acho que é sua amiga.

Liam ergueu os ombros de repente.

— Zoey! — ele jogou a mochila no banco de trás do automóvel. O garoto correu até o portão, pulando nas pedras cinzas que compunham o caminho até a garagem. Ele escutou o motor do carro na rua antes de abrir o portão.

Liam sorriu ao ver a sua amiga — sua melhor amiga, ele podia dizer — pela janela do carro. Zoey olhou surpresa para ele, como se não esperasse vê-lo ali. Parecia um pouco corada também; mas Zoey sempre estava corada pela timidez.

— Tchau, pai — Zoey disse apressadamente, abrindo a porta do carro. Ela levava uma bolsa transversal no corpo e uma mala azul-marinho na mão.

— Liam! — Jonas, o pai de Zoey, acenou para ele com um sorriso. — Cuide dela, hein?

— Pode deixar, senhor — ele sorriu, acenando de volta. — Ela vai gostar muito.

Zoey parou no meio do caminho até o pai ir embora e desaparecer pela esquina. Ela deu um sorrisinho sem graça, ajeitando a bolsa no corpo.

— Oi — ela disse. Havia um tempo que não se encontravam pessoalmente, o que provavelmente a deixou mais sem graça.

Zoey não havia mudado quase nada a não ser o corte de cabelos e alguns detalhes — Liam não sabia dizer exatamente o quê. Talvez a sobrancelha agora feita, o penteado menos rígido, os cabelos mais longos, os lábios brilhantes. Parecia um pouco mais madura também; mas era a mesma Zoey que ele havia conhecido na escola há quase três anos — com exceção de que, agora, Liam conhecia sua voz.

O Som das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora