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Capítulo 3 | O Som das Flores

𝑳𝒊𝒂𝒎

Ele não pensou duas vezes quando viu o homem estacionar o carro branco na beira da estrada, levando uma caixa de papelão consigo. A princípio, Liam achou que ele fosse urinar; mas o que ele estaria fazendo com uma caixa?

O rapaz já conhecia a maldade humana e não gostou nada daquela cena — ele sabia muito bem o que poderia conter em uma caixa de papelão no meio da estrada. Mal havia saído do banheiro e se viu pulando o parapeito da varanda que circundava o estabelecimento. Liam correu o máximo que pôde, mas o homem agiu rápido demais. Não conseguira ver seu rosto e nem a placa do carro. O automóvel saiu em disparada, sumindo de vista antes mesmo de o garoto chegar perto do local onde havia deixado a caixa. O mato ali estava alto e já havia se afastado muito da beira da estrada. De repente, temeu não achá-la. Mas ele ouviu — o choro baixinho e agudo de filhotes caninos.

Liam afastou o matagal com os pés e mãos, arranhando-se um pouco, e os viu: dois pequenos cachorrinhos se remexendo numa caixa pequena demais para eles. Ambos choravam e tremiam de frio.

— Oh — Liam tirou o próprio moletom para cobri-los, não se importando com o vento gelado que o atingira. Ele olhou para a curva da estrada, mas não havia nenhum carro branco. Liam soltou o ar dos pulmões, observando os cachorrinhos debaixo do seu moletom. — Lana vai me matar, mas vou tirar vocês daqui.

Liam tinha um histórico de animais resgatados, mas ninguém superava Lana. Depois de sofrer por vários animais — sobretudo cães — que tentava salvar, ela jurou não se envolver mais com aquele tipo de coisa. Tentava ser fria diante de situações como aquela, mas sabia que o coração de Lana para com animais era tão mole quanto gelatina.

Quando voltou à lanchonete, Marcela estava desesperada. Para Liam, tudo não passou de alguns segundos, mas sabia que a travessia e a subida naquele matagal havia durado bem mais que segundos. Sua irmã, com as pupilas dilatadas e fala ofegante, quase derrubou uma das cadeiras quando o viu. Como ele previra, Lana fechou a cara ao olhar os filhotes e para o rapaz, como se dissesse: era só o que me faltava! Eu odeio o ser humano e quero arrancar as orelhas do Liam. No entanto, para o seu alívio, ela acabou deixando que as levasse com eles. Os olhos de Zoey brilharam no primeiro contato com os pequenos, o que deixou Liam um pouco mais orgulhoso de si mesmo.

— Meg e Mel — disse Zoey, acarinhando-as. O carro já estava na estrada novamente, dessa vez com Marcela no volante. — O que acha?

— Perfeito — Liam sorriu para as cachorrinhas. — Eu pensei em Yin e Yang, mas deixa pra lá.

Zoey riu mostrando os dentes, baixando o rosto em seguida. Mel, a mais escura, deitou em seu colo e adormeceu. Agitada, Meg mordia os dedos de Liam, claramente feliz por ter sido salva por aquele garoto esguio e de voz rouca.

Liam sorriu para a cachorrinha. Aquela viagem começara melhor do que ele havia imaginado. Seriam aproximadamente sete horas de viagem até a pequena cidade litorânea — agora com dois filhotes fofos e famintos fazendo-lhes companhia.

Quando pararam na próxima cidade, Lana comprou-lhes ração — e sacos para recolher cocôs em todas as paradas; os quais Lana teve o prazer de entregar a Liam.

— As crianças agora são suas — ela disse, entregando as sacolas. — Já fiz minha parte. E se vomitarem no carro, você limpa.

— Obrigado, Lana. — Liam sorriu. — Você é demais.

Ela revirou os olhos e entrou no carro. Lana assumiu o volante e partiram, deixando a cidadezinha (a qual Liam nunca soube o nome) para trás. Uma hora depois, pararam em um restaurante à beira da estrada para almoçarem. Liam deixou os filhotes no carro, certificando-se se havia sombra e vento fresco adentrando a janela. Ambas dormiam entrelaçadas. Despreocupado, o garoto seguiu para o pátio arborizado do restaurante. Havia um pequeno lago ali, além de um belo jardim. Um casal de patos nadava tranquilamente na água. Peixinhos laranjas também podiam ser vistos.

O Som das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora