12. O som das flores

186 55 21
                                    

Capítulo 12 | O Som das Flores

𝒁𝒐𝒆𝒚

Zoey pressionava delicadamente a concha em seus dedos quando Liam tirou outra coisa do bolso — dessa vez, um pedaço de papel. O amigo lhe entregou sem dizer nada e, mais uma vez, seu coração bateu mais forte.

— A lista — ele revelou, entregando o papel dobrado várias vezes; formando um quadrado. Zoey desfez as dobras, deparando-se com uma lista de dez itens escritos à mão.

Ela nunca achou que veria aquela lista, mas ficou feliz por Liam compartilhá-la. Eram coisas simples; nada muito grandioso, o que inspiraria Zoey a fazer uma como aquela meses mais tarde. A moça começou a ler a lista com atenção, apreciando a letra de Liam e notando que várias coisas haviam sido acrescentadas:

COISAS PARA FAZER ANTES OS 18 ANOS ANTES DE MORRER:

Dirigir ✓

Ver o sol nascer em uma praia ✓

Fazer uma tatuagem legal ✓

Nadar pelado ✓ Isso foi muito louco!

Adotar um cachorrinho ✓ Esse foi em dose dupla :)

Ter um encontro (de verdade)

Rever um filme especial da infância ✓

Escrever um livro

Meditar sobre uma montanha

Escutar o som das flores ✓

— Antes de morrer? — Zoey observou, percebendo que Liam havia estendido bastante o prazo.

— Para que tanta pressa? — Liam questionou. — Acho que não temos muito controle do tempo. E eu já tenho dezoito anos, seria impossível cumprir tudo.

— Acho que você agora tem tempo de cumprir todas elas — Zoey leu a lista novamente. — Escrever um livro? Você escreve?

— Lana disse que me ajudaria — ele falou, dando de ombros. Zoey notou que ele ainda tinha dúvidas quanto àquele objetivo. — Ainda não faço a menor ideia do que quero escrever.

— É um objetivo legal — ela disse, devolvendo a lista. — Qual desses quer que seja o próximo?

Liam pegou o papel e analisou os itens. Zoey observou suas sobrancelhas claras franzidas.

— O item seis. Ter um encontro de verdade. — ele coçou os cachos. — Hum... Quer me ajudar a realizar esse objetivo?

Zoey consertou a postura, que tornou-se desconfortável de repente. Ela imaginou Liam tendo um encontro romântico com uma garota e não gostou nada do que viu. Mas ela jamais impediria o amigo.

— Você...precisa conhecer uma garota primeiro — ela tentou soar como uma amiga conselheira, e achou que se saiu bem. — Quem sabe o Tinder...

— Eu já conheço a garota — Liam a interrompeu. A firmeza na voz dele a deixou um pouco desconcertada.

— Por um acaso você está... — ela conseguiu olhar para ele. Com um olhar divertido, ela continuou: —...me convidando para um encontro?

— Sim — Liam afirmou. — Pensei que poderíamos tomar um sorvete. Ou fazermos um piquenique. Quem sabe eu faça um almoço pra você. Strogonoff? Ou quem sabe um cinema?

Zoey notou o nervosismo dele quando disparou aquelas palavras. Ela riu, sentindo-se mais leve quando viu que ele também estava nervoso com aquela possibilidade. Então ele tinha algum interesse por ela. Zoey nunca pensou que aquilo seria possível — na verdade, nunca achou que nenhum garoto se interessasse nela — mas a vida estava lhe mostrando o contrário. Muitas coisas estavam se tornando possíveis, por mais simples que possa parecer para outras pessoas. Afinal, o que a fazia pensar que ela não merecia um simples encontro?

Zoey começou a imaginar como seria, mas parou de imediato. Ela não queria estragar o momento futuro e o presente com tantas expectativas. Queria que as coisas fossem fluidas como as ondas daquele mar diante dela.

— O que seria "escutar o som das flores?" — ela perguntou, lembrando-se do último item (e o mais inusitado deles). Ela não fazia ideia do que aquilo poderia significar e muito menos como ele havia conseguido aquilo.

— Acho que não é exatamente escutá-las — Liam explicou. — É algo como...sentir as coisas e escutá-las mesmo que nossos ouvidos não consigam captar os sons.

Zoey franziu o cenho, confusa.

— Eu não entendi muito bem — a moça admitiu. — Das flores, eu só consigo escutar o silêncio.

— Acho que é isso... — Liam esticou a perna, deitando-se sobre a rocha. Agora ele olhava para o céu, e Zoey fez o mesmo. No fundo, ela entendeu o que ele queria dizer. Foi ele quem mais a escutou quando Zoey não conseguia usar sua voz. E foi ela que escutou a dor de Liam, naquele quarto escuro e abafado; quando ele negava abrir as janelas e ver o sol. De uma forma ou de outra, eles se escutavam no silêncio.

— Talvez algumas coisas tenham mudado — Zoey disse. — Mas outras continuam as mesmas.

Os lábios de Liam se esticaram em um sereno sorriso, e ele não precisou dizer nada para que Zoey compreendesse sua resposta.


Epílogo


O Som das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora