Enchendo uma jarra com água natural do filtro, Miya observava o de cabelos encaracolados, deitado no sofá da sala, dormindo tranquilamente, debaixo de um fino lençol branco.
Ainda estava cedo, o Sol acabara de nascer, o tempo estava fresco.
Após a decaída emocional de Sakusa no dia anterior, Miya tomou sua xícara de café e foi para o trabalho. Mais tarde, recebeu uma ligação de Sakusa, que perguntara se podia passar a noite em sua casa. Aquém de receber a ligação, o loiro já havia planejado convidá-lo para ir à sua moradia.
Talvez o sexo, tivesse feito com que Sakusa esquecesse um pouco seus problemas.
7:12, o de cabelos encaracolados acordou. A primeira visão que teve, foi de um homem loiro, trajando um roupão verde escuro, ligando a torradeira.
Deu um mísero sorriso.
Se levantou, e não se importou em estar apenas com sua roupa íntima.
Miya viu que o outro havia levantado, e o convidou para sentar num dos banquinhos, em frente a pequena ilha de mármore no meio da cozinha.
"Vou ao banheiro primeiro, tomar um banho." - Sakusa disse, dando um pequeno bocejo.
Quando a comida já estava servida, o de cabelos encaracolados voltou, enrolado em uma das toalhas brancas de Miya, enxugando seus cabelos cacheados e negros com uma toalha de mão.
Ambos se sentaram à mesa e se serviram da refeição preparada por Atsumu. Um café da manhã simples e improvisado. Torradas com manteiga e geleia de amora, acompanhadas de uma grande caneca de café com leite quente.
"Minha mãe faleceu." - Sakusa disse, como se estivesse guardando aquilo por bastante tempo. Sua garganta estava presa, se assemelhando a alguém engasgado. Desta vez, engasgado com palavras.
"E você só soube ontem?" - Miya perguntou, tentando manter a calma, para que o outro não desabasse novamente.
"Meu pai não é natural deste país, chegou ao Japão ontem, para me comunicar do ocorrido. O mesmo, me culpou por não estar com minha mãe durante esses anos, e a culpa da morte da mesma, caiu sobre mim." - O de cabelos encaracolados disse, contendo o choro e se mantendo calmo.
"Se seu pai, que esteve ao lado de sua mãe, não conseguiu impedir que a morte a levasse, você, mesmo que estivesse lá, também não seria capaz de fazer nada para impedir que isso ocorresse." - O loiro disse, com a mesma calmaria em sua fala.
Sakusa sorriu.
"Auch wenn die Ozeane trocken sind und die Sonne nicht mehr scheint." - Sakusa disse sorrindo, numa língua desconhecida pelo loiro.
"O que dissestes?" - O loiro perguntou confuso com as palavras ditas pelo moreno.
"É alemão. Meu pai me ensinara quando era jovem. Significa: Nem que os oceanos sequem e o Sol pare de brilhar. Isso quer dizer, que você deve proteger aqueles que ama, mesmo em condições impossíveis. O impossível, só se torna impossível, quando você para de tentar." - O de cabelos encaracolados explicou ao outro.
"Eu gostei disso... pode repetir?" - O loiro disse tirando sarro da cada do outro.
"Eu não vou dizer de novo." - Sakusa disse fazendo bico.
Mesmo que Sakusa estivesse magoado e entristecido por dentro, seu sorriso continuava o mesmo, belo e ofuscante.
Os dois riram como dois garotos, sem nenhum motivo em específico.
Neste dia, Sakusa não foi ao trabalho. Passou o dia na moradia de Miya, se divertindo como uma criança. Vendo o mundo da melhor forma possível.
A tarde, tocaram piano juntos. Houve briga para ver quem escolheria a música, pois os gostos musicais de ambos, eram distintos e incompatíveis. Por fim, Atsumu ganhou a discussão, e os dois tocaram blues norte-americano.
O tempo limpo, a brisa fresca entrando pela janela.
Por volta das 17:30, Miya varreu a casa, e Sakusa lavou o banheiro. Era dia de faxina, e não quiseram deixar para o outro dia, algo poderiam fazer hoje.
Às 19:00, Sakusa chamou o loiro para ir jantar, num restaurante recém inaugurado. Com receio de olhares impiedosos e julgadores, Miya recusou de início. Depois de muita persistência da parte de Sakusa, Atsumu cedeu, e aceitou ir.
Sakusa pegou emprestado, um dos ternos de Atsumu, que por um milagre, coube perfeitamente. Os dois se ajudaram a colocar as gravatas sociais, e aquém, calçaram seus sapatos.
Sakusa foi ao varal de roupas, pegar sua máscara que fora lavada mais cedo por Miya.
"Não use máscara." - Atsumu disse repreendendo o moreno.
"Terei de usar, o ar está cheio de germes." - Sakusa disse pegando sua máscara.
"Quando usas máscara, não posso ver seu sorriso." - O loiro disse envergonhado.
Sakusa não disse nada após isso. Guardou sua máscara, a pendurando de volta no varal.
Saíram da residência, e pediram um táxi para levá-los até o restaurante.
Em 20 minutos, o táxi que os levariam até o local, chegou.
O carro tinha cheiro de novo, com aroma de pêssego. A viagem até o restaurante não durou muito, chegaram rápido. Desceram do carro, e pagaram a viagem.
Miya amarelou, e pensou que aquela não era a melhor ideia. Quando estava para dar meia volta, sentiu o calor das mãos de Sakusa, apertarem sua mão trêmula e fria. A coragem o preencheu novamente, e os dois homens bem vestidos adentraram, no que seria o primeiro encontro de verdade que os dois já tiveram em quase um ano.
Pediram a receita da casa, confiando nos cozinheiros que iriam preparar a refeição de ambos, com a esperança de serem servidos com algo delicioso, e duas taças de champanhe simples, não muito caro.
Um pianista experiente, tocava no belo piano de cauda, no centro do salão, Für Elise, de Beethoven.
“Para Elisa”, em português, é uma pequena peça para piano solo, composta por Ludwig Van Beethoven em 1810, quando houve um certo interesse por Therese Malfatti, de 18 anos, filha de um de seus médicos em Viena. Há uma suspeita de que essa composição tenha sido dedicada a ela. O nome Elise pode ser um pseudônimo para não deixar transparecer a identidade, ou então, um erro do copista que a transcreveu pela primeira vez, devido à caligrafia confusa de Beethoven, que então já havia falecido.
A noite nunca fora tão boa. O céu nunca fora tão estrelado. A verdade, é que o dia estava mais bonito, e o céu havia recebido mais um anjo.
A beleza do mundo está nos pequenos momentos, em cada detalhe, em cada toque, em cada sentimento. Ao perceber toda a bagagem que carregamos, suspiramos e dizemos a nós mesmo: "Como o tempo passou rápido." De fato, a vida é curta, entretanto, é a experiência mais longa que iremos ter. Envelhecer nem sempre é ruim, isso depende do jeito que olhamos a vida. As coisas nem sempre serão perfeitas, talvez no final, tenhamos vivido a vida, que quando crianças, prometemos não ter. Outrora, passar a vida ao lado de alguém, é bem mais fácil do que encará-la sozinha.
Ao ouvir o badalar dos sinos da igreja da rua acima, Sakusa e Atsumu, se deram conta de que o Natal estava chegando.
Se conheceram numa manhã fria e tempestuosa de inverno do ano anterior, e agora estavam passando o inverno, juntos. Ora, pois assim como Sakusa preservava sua fé cristã, Atsumu, que também tivera influência do outro hemisfério, preservava sua cristandade, e aguardava pela comemoração do nascimento de Cristo.
A noite passou rápido. Momentos bons, são ligeiros. Depois de se banharem, os dois se deitaram, juntos na mesma cama, dois corações em uma casa. Com os olhos já fechados, o de cabelos encaracolados deixou os lábios semi abertos, como se quisesse dizer algo.
O único a quem o mesmo pertencia, estava deitado, sonolento em sua frente, sob cobertas avermelhadas, com listras brancas e pretas.
Sakusa sorriu, e disse as palavras que, nunca imaginaria que um dia, encontraria a pessoa, que as ouviria.
"Eu te adoro."
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Dourado - SakuAtsu.
FanficNas manhãs, sempre me recorri a pequena cafeteria no fim da rua. Sempre servido com a mais alta qualidade, acompanhados de sentimentos cujo a compreensão está fora de meu alcance. Agora estou indo para onde dizem ser meu lar. Deixei o ouro na cafete...