Capítulo final - Espero-te.

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Os dedos de Sakusa, percorriam uma trilha da moldura dourada, com pequenos detalhes em marrom, até os lábios da enorme pintura, de um homem majestoso, com madeixas loiras, e roupas simples. Atsumu Miya.

Na manhã de Natal, o de cabelos encaracolados fora até a casa do loiro, trajando um suéter horrível de dar arrepios. Em seus braços, carregava um pacote, não muito grande, embrulhado num papel brilhante vermelho, com uma fita branca. Lhe fora dado, as chaves da casa, assim, o moreno entrou na moradia de Miya.

Os móveis haviam desaparecido, mas o lugar não estava empoeirado. Aquele lugar escuro, gelado e vazio, não era a casa de Atsumu.

No chão, um pequeno bilhete chamou a atenção de Sakusa.

"Atrás do ouro de seus olhos, ei de correr."

Sakusa soube de imediato do que se tratava. Miya Atsumu não iria mais voltar.

Ainda com suas mãos sobre a enorme pintura, que havia colocado numa das paredes de sua cafeteria, o moreno pôde se lembrar, de cada toque, cada risada, cada suspiro que teve ao lado de seu amado. Memórias que, mesmo nos sonhos e pesadelos, seriam sempre lembrados e guardados por Sakusa.

A noite, o de cabelos encaracolados podia ver a silhueta de Miya, deitado seminu, em sua frente. Sakusa não podia tocar aquilo que via. Fechando os olhos, poderia reencontrar seu amado em outro mundo, fora da realidade. A realidade, era a coisa que passou a odiar mais do que qualquer outra coisa.

O Dourado, fora embora, levou toda a sua bagagem. Fora para onde disseram ser sua casa, e abandonou seu lar, juntamente com o ouro dos olhos daquilo que mantinha seu coração batendo.

A infinidade durou pouco. O infinito cujo ambos planejavam viver, se esvaiu.

Mão de Deus, entregue-me, leve-me até onde pertenço. Leve-me até onde posso sentir meu coração bater novamente.

Sakusa, deitado em meio a grama seca, debaixo de uma árvore sem folhas, suspirou, e deixou com que as lágrimas, escorressem pelo seu rosto cansado e sem vida.

O pequeno grão de pólen, em meio à um gigantesco campo de centeio, voou até onde encontraria o fim de sua jornada. Num rio, ou no meio da mata, isso não importava, desde que chegasse ao fim.

Oh! Maravilhas da natureza, deixem com que a brisa fria levem as lágrimas embora. Oh! Vento ligeiro e cruel, traga de volta aquilo que me mantém vivo. Não deixe com que ele crie asas, e voe para distante de mim.

Oh, as maravilhas cessarão? Bendito seja o mistério do amor.

"Siga em frente." - Eles dizem

Ora, pois a simplicidade na fala de quem tenta ajudar, mais lhe aborrecia do que lhe ajudava.

Como Heféstio, que morreu. Amante de Alexandre. Agora, meu leito de rio secou, não devo encontrar outro?

Onde ei de encontrar um rio de água límpida e pura? Bebi a água da fonte mais pura e cristalina, hoje esta água se provou traiçoeira, e me mata como veneno.

O pecado de amar nunca se provou tão real. A solidão de dormir sozinho, e a falta de motivação para fazer qualquer coisa.

Ao chegar na cafeteria para trabalhar, não fora mais recebido com o sorriso reluzente de Atsumu, e não pôde mais servir ao mesmo, uma xícara de café meio amargo.

Não comeu mais das torradas queimadas com geleia de amora que lhe eram servidas de café da manhã.

Não pôde mais ver a silhueta de um homem loiro, trajando um roupão verde escuro em sua frente, quando acordava.

Não sentiu mais os arrepios e o prazer do toque e beijos que recebia da parte de Miya.

Seu mundo de fantasia, onde Sakusa imaginava ser o protagonista de uma história dramática e gritante de amor, desabou quando seu deu conta, que a história era sobre Miya.

Se afundou em lástimas por suas inúmeras perdas e derrotas. Perguntou ao loiro, qual era seu nome, perguntou qual era seu sabor de café favorito, perguntou qual era seu seriado de televisão favorito. Entretanto, nunca perguntou, se ele estava bem.

Nunca pôde saber quem eram seus pais, como eles eram, ou qual era a relação que o mesmo tinha com eles.

Não pôde nem sequer, dar um último beijo de boa noite.

Depois de perceber o quanto perdeu, e deixou de fazer, a culpa recaiu sobre os ombros do pobre coitado.

O moreno caminhava de volta para casa, sem empolgação ou pressa.

Tentou não se lembrar daquilo que poderia ter feito, e se focou em se lembrar dos bons momentos que passou ao lado de seu verdadeiro amor.

As boas lembranças faziam com que, o de cabelos encaracolados ficasse com o peito estufado, orgulhoso de ter entrado no paraíso, mesmo sem nunca ter estado lá.

Quem era Miya Atsumu?

Miya Atsumu, era quem ensinara Sakusa, que filmes de política, seriam 98% sobre os Estados Unidos. Miya Atsumu, fora o homem que lhe ensinara que maçãs, com sal e limão, são uma combinação perfeita, quando somadas com uma noite de filme. Miya Atsumu, era o homem mais charmoso que pisara na cafeteria, e também o mais cavalheiro. Era o homem dotado do sorriso mais belo do mundo. Miya Atsumu, de olhos e cabelos dourados, fazendo jus ao nome da marca do café que ajudou a produzir, foi o homem que mostrou ao moreno, as coisas perfeitas do mundo, sem sair do bairro. Miya Atsumu, foi o homem misterioso, que sabia ser sério em momentos que exigiam seriedade, mas que quando estava a sós com Sakusa, agia como uma criancinha mimada. Fazia birra por coisas pequenas, como um pequeno pedaço de torta de carne moída. Miya Atsumu, o homem sério, que fazia birra, também era o homem que fazia coisas sujas na cama, e conseguia levar o moreno, ao ápice de prazer. Miya Atsumu, foi o homem que mostrou o infinito perfeito, dentro das coisas pequenas e imperfeitas.

Parando na praça, Sakusa observou a estátua do cão, Hachiko, que ainda aguardava pela chegada de seu dono, e deu um pequeno sorriso.

"Estarei sempre esperando por você."





Dourado - SakuAtsu.Onde histórias criam vida. Descubra agora