Valentim Garcia jura por tudo o que é mais sagrado que o seu ódio por Aart Duarte é genuíno.
Ele detesta tudo o que envolve o garoto, dos cabelos tingidos de verde-vômito à ponta dos tênis desbotados que sempre usa.
Ou, ao menos, pensa que sim.
Po...
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Pode ser que a gente acorde Fartos, deu Ou que o tempo, de atrasar, Se esquecer E o universo, de ajudar, Se cansar
Explodir - Rubel
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Eu tinha plena convicção de que odiava Aart Duarte com cada átomo minúsculo que existia dentro de mim.
Para começar, que tipo de apelido era aquele?
Uma vez, eu tinha decidido pesquisar no Google, e o resultado foi que era a forma encurtada de Arnout, um nome holandês que é traduzido como Arnaldo para o português - que, inclusive, era o nome completo do garoto em questão. Mas, para bancar o diferenciado, ele preferia ser chamado de Aart; com dois "as", do jeito que fazia questão de entoar, da forma mais irritante possível.
Eu achava insuportável a forma como sempre se destacava em tudo o que fazia. Ele elaborava os melhores trabalhos escolares, tocava três instrumentos, sendo dois de corda - também conhecidos como os mais difíceis do mundo, para mim - e conseguia conversar com qualquer garota que quisesse, embora não parecesse tirar muito proveito dessa parte.
Aart também parecia ter uma paixão incurável por colecionar hobbies, e, por ter adquirido preferência em se sentar na cadeira atrás da minha, eu sempre escutava suas conversas paralelas com os amigos, nas quais narrava seus últimos feitos com uma empolgação quase palpável.
Exibido do cacete.
Sempre com um par de tênis desbotados, calças de suspensório e um piercing metálico circundando o septo do nariz, ele era o que eu mais detestava sobre o colégio desde a segunda semana de aula do nono ano.
Foi quando achou que seria uma ótima ideia pegar uma bomba de São João classe C e jogar dentro do tubo oco de uma das gangorras do parque escola, quando eu estava por lá na hora da saída. Depois, fugiu como um ninja e a culpa por transformar o brinquedo em um canhão potencialmente assassino recaiu sobre mim, assim que o inspetor me encontrou logo depois.
Ganhar uma semana de suspensão, logo no início do ano letivo em um colégio novo, foi bom por um lado e péssimo por outro.
A pior parte foi ter que lidar com pais muito putos que não economizaram nos castigos que me deram, tanto por supostamente ter conseguido uma bomba para adultos sem a permissão deles, quanto pelo terrorismo que eu hipoteticamente fiz.
