Valentim Garcia jura por tudo o que é mais sagrado que o seu ódio por Aart Duarte é genuíno.
Ele detesta tudo o que envolve o garoto, dos cabelos tingidos de verde-vômito à ponta dos tênis desbotados que sempre usa.
Ou, ao menos, pensa que sim.
Po...
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Ai Quanto querer Cabe em meu coração
Samurai - Djavan
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Eu estava prestes a entrar em parafuso.
Meu cérebro girava em um amontoado de sentimentos bagunçados enquanto disparava pelas ruas da cidade sobre o skate, forçando minhas pernas o máximo que conseguia em uma tentativa de fuga condenada a dar errado, porque o que eu queria era sair de mim, e não dá para escapar da própria pele.
Quando meus músculos começaram a latejar, fervendo em uma exaustão que me impossibilitava de continuar girando rumo a lugar nenhum debaixo da lua que ameaçava me engolir, estacionei.
A praia se erguia na minha frente, com o mar se derramando em sua inquietude sobre a areia.
Enfiei o skate debaixo do braço e caminhei ao longo do litoral rumo a um lugar específico. Quando cheguei, subi os degraus da escada de segurança que dava para o topo da falésia imersa no breu da noite, em meio ao chiado das ondas que arrebentavam contra as rochas próximas e espalhavam sua espuma por entre os grãos que recobriam a praia.
Assim que despontei lá em cima, deixei meu corpo embebido em cansaço cair no chão, e mirei os inúmeros pontos luminosos que rasgavam o manto negro do céu.
Eu tinha descoberto aquele lugar logo depois do divórcio dos meus pais, e, sem perceber, fiz dele uma espécie de refúgio para noites como aquela.
Foi graças a ele que adquiri uma curiosidade inimaginável por estrelas e tudo que compõe o espaço. Movido por isso, assistia filmes de ficção científica com essa temática como um compulsivo, pesquisava sobre o universo por horas e já tinha, até mesmo, pensado em fazer faculdade de Astronomia.
Sabia que a única coisa capaz de me impedir era a minha própria cabeça, que tinha a mania incontrolável de querer me fazer afogar em mim mesmo, como uma âncora invisível feita de pensamentos frenéticos que me mergulhavam em uma imensidão cercada de vácuo.
O principal motivo pelo qual eu sempre tentava me manter ocupado com qualquer coisa que fosse, era o meu desejo de silenciar as palavras que gritavam no meu interior.
