1 - Sugar

441 50 284
                                    

Sintam-se à vontade para comentar e votar ;)

A porta emperra e farelos de ferrugem caem quando Harry a fecha. Seu coração dói tanto quanto sua carteira pesa em seu bolso quando ele pensa que precisará gastar dinheiro com alguns reparos. Sua mãe, algumas semanas atrás, sugeriu a compra de um carro novo, mas o garoto é demasiadamente apegado a sua picape, uma Chevrolet Truck 1953, presente dado por seu avô, para sequer pensar na aquisição de um carro novo e — Harry estremece com este pensamento — automático.

Apesar de a rádio funcionar apenas na frequência AM, com uma vasta opção de estações de rádio locais e independentes, construídas, majoritariamente, por pessoas aposentadas que sentem a necessidade de se envolver em um novo hobbie, e de jamais ter acelerado a ponto de fazer o velocímetro ir além dos oitenta quilômetros — o barulho que o motor faz quando chega a essa velocidade é preocupante, considerando que sua picape é uma idosa —, Carrie ainda é uma idosa prestativa e cheia de energia, que acompanhará Harry ao longo de sua jornada na faculdade, que começa em duas horas, se ele conseguir colocar todas as suas caixas na caçamba.

Anne, sua mãe, abre a porta da frente da casa, os olhos preocupados fixos na ferrugem que o filho tenta esconder com o pé, empurrando-a para debaixo de Carrie.

— Harry... você tem certeza que Carrie aguentará a viagem?

— Shh, mãe — ele diz, colocando as mãos no retrovisor, como se eles fossem os ouvidos automobilísticos de Carrie. — É deselegante falar assim, ela pode te ouvir.

Anne ri, balançando a cabeça. Ela ainda não acredita que seu bebê está a caminho da faculdade, pronto para começar uma nova etapa da vida, longe de seus olhos, assim como Gemma fez três anos atrás.

— Mãe, por favor, você não vai chorar de novo, certo?

— Ninguém aqui está chorando — ela diz, limpando as primeiras lágrimas teimosas que ousaram cair. — Vamos, eu te ajudo com as caixas.

֍

Anne chorou muito antes de Harry finalmente sair de casa, pela última vez, como um estudante de ensino médio. Na próxima vez, ele voltará como um calouro universitário. O pensamento também o fez chorar, porque esta é uma grande mudança em sua vida, que chegou mais rápido do que ele havia esperado. No entanto, Harry entende que algumas mudanças são necessárias. Assim, em meio a algumas lágrimas, as últimas sendo despejadas por ele, Carrie finalmente é ligada e Harry vê sua mãe acenando uma última vez pelo retrovisor, antes de sair de Holmes Chapel.

֍

Por ter se programado para fazer a viagem durante o começo da semana, com a esperança de possuir mais tempo para se organizar, Harry chega cedo ao pequeno apartamento que decidiu alugar, em conjunto com sua mãe e seu pai, Des, com a esperança de fugir da rotina de festas universitárias que os dormitórios estudantis oferecem.

Apesar de gostar muito de festas, Harry também sabe que deve manter o foco nos estudos. Ele quer se manter organizado, evitando ressacas e dores de cabeça desnecessárias.

֍

Descarregar caixas nunca foi tão maçante. Harry quer que elas magicamente apareçam no terceiro andar, todas desfeitas, com suas coisas devidamente arrumadas, porque ele jura que quer deixá-las na caçamba de Carrie. No entanto, ele também não quer que tudo seja molhado com a chuva que está prestes a cair. Assim, ele se apressa, empilhando as duas últimas de forma que não sejam necessárias mais viagens do apartamento até o estacionamento.

Ao chegar no elevador, ele percebe um problema: suas mãos estão ocupadas. Ele poderia colocar as caixas no chão, mas tem certeza que suas costas travariam no meio do processo e ele seria obrigado a ligar para os bombeiros ali mesmo, deitado no chão em um ângulo nada natural, com caixas em cima de si.

Untitled [l.s.]Onde histórias criam vida. Descubra agora