dançando sobre o nosso vidro quebrado - parte 1

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Vazio. Tudo que Jennie conseguia ver nos olhos de seu pai agora era um grande vazio. O homem sorria para ela, com sua aparência cinquentona e cabelos grisalhos e charme falso, e tudo que ela conseguia ver era... vazio. A cozinha cheirava a açafrão e as mangas do pijama branco de Jennie estavam molhadas, um acidente enquanto ela ajudava o pai a cozinhar. Os dois ignoravam as sobras de frango e macarrão no meio da mesa, trocando olhares que continham perguntas sem respostas. Jennie estava em seu ápice, cabelo preso, óculos de sol — a plena luz de absolutamente nada porque eram dez horas da noite e apenas uma lâmpada sofisticada presa ao teto de cabo preto e redoma amarela iluminava aquele lugar — e pantufas pretas esquentando seus pés frios. Ela estava começando a repensar ter jogado fora uma noite com Lisa para... isso.

— Então. — Jennie mudou sua postura na cadeira, forçando uma expressão de euforia. — Certeza que minha mãe não vai querer sua ajuda em Londres?

O homem ajeitou sua camisa social cinza, rolando as mangas para cima enquanto pensava em uma resposta. Ele bebeu do último gole de vinho tinto antes de falar.

— Ela é uma mulher independente, Jennie. — a menina riu de soslaio.

— Não foi isso que eu perguntei. Por que voltou agora? E sem ela?

— Jendeuk! O que há? Sua mãe e eu somos duas pessoas completamente independentes e não precisamos ficar juntos o tempo todo, e sua mãe não precisa de mim, tenho certeza que ela tem toda a ajuda e companhia que precisa. — os olhos dele fitaram a mesa de jantar no mesmo segundo, e Jennie retirou os óculos de sol, se levantando da mesa.

— Certo. Não, é bobagem. Que bom que voltou, papai. — ele sorriu, ainda com os olhos vidrados na mesa. Ela o deixou ali, silenciosamente, diferente da situação que ela guardava em sua cabeça. Nada era silencioso ali, e Jennie tinha perguntas, às quais ela temia não poder obter resposta alguma do mentiroso profissional que ela sabia que seu pai era, assim como sua mãe.

Ela ligou para Lisa assim que se deitou na cama, querendo se desculpar por sumir e ouvir aquela maldita voz outra vez. Após três toques, a mulher atendeu. A mesma mostrava cansaço na voz.

Oi estranha. O que houve com você? Achei que ia te encontrar aqui depois do trabalho. — as mãos de Jennie começaram a tremer, ouvindo Lisa outra vez, depois da noite desgastante com o pai.

— Fiquei presa em casa por causa de um probleminha com o meu pai. — ela arfou.

Achei que seus pais não estivessem aí?

— Meu pai apareceu, e tá tudo muito confuso agora. Acho que rolou alguma coisa entre ele e minha mãe, pra ele ter voltado assim de repente. Não sei. Ele não quer falar comigo sobre isso pelo visto.

Mhmm, por que você não pergunta pra sua mãe então?

— Ela vai enrolar, que nem ele. Minha vontade era de ir para Londres atrás dessa mulher e gritar com ela. — a outra linha ficou muda. — Lisa?

Sua mãe está em Londres? — Lisa perguntou após um breve momento, com uma risada baixa.

— Sim, ainda. Algum problema, Srta. Manoban? — perguntou sarcástica.

Não! Longe disso. Acho que você deveria ir até lá.

— Tá brincando, né? — Jennie riu, em dúvida.

Claro que não. Você não quer saber o que tá acontecendo? Vá atrás da sua mãe e pergunte. Simples. Posso ir com você se não quiser ir sozinha.

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