Passem-se os dias o mais rápido possível, Lisa pedia. Ela acordava todas àquelas mesmas manhãs para dar de cara com seu despertador vermelho no mais alto e agonizante de seu badalar. A semana passou lentamente, matando cada canto da mente de Lisa, aguentando o peso de dar aulas infinitas nas costas. Apesar de esconder um pequeno segredo em meio a multidão de meninas dançando a sua frente, Jennie, ali a fitando como se fosse a única ponta de esperança na terra, ignorando todo e qualquer movimento nos arredores das duas, Jennie fazia com que todo o peso se dissipasse, e quando a menina lhe jogava um sorriso, os minutos enfim, pareciam ser mais ligeiros.
Sexta-feira.
— Não exagera cara. — o timbre do outro lado do telefone era doce e familiar.
— Roseanne Park! Em nenhuma condição, você me peça para ficar calma, não exagerar, ou qualquer outra coisa do tipo! Você tinha que estar aqui, eu sou um desastre sem você.
— Se você se depreciar mais uma vez eu vou fazer questão de pegar um avião agora só pra te dar uma boa bofetada, bem nesse seu rosto redondo. Você não precisa de mim, é de você que a Lisa gosta.
— Mas... — um nó se formou na garganta de Jennie ao pensar na mentora.
— E para de se lamentar. Quando ela chega?
— Em uns dez minutos, eu acho. — Jennie balançou a cabeça em afirmação para si mesma ao checar o relógio dourado no pulso.
— Vai dar tudo certo, manduzinho. Te amo.
— Também te amo, Rosie. — Jennie se desfez do celular assim que a ligação foi terminada, ecoando o som da sola de seus Vans amarelos por todo o casarão até chegar na geladeira. Álcool? Não, ela não queria ficar nem brevemente bêbada antes de encontrar Lisa, então isso foi um adeus ao vinho tinto na porta do recipiente congelante.
Não muito depois de perambular até seu quarto e escolher uma bolsa que combinava com as roupas escolhidas da noite — jeans claros e largados e um top cinza de lã com mangas curtas — Jennie ouviu sua campainha tocar, duas vezes. Ela abriu a porta já em preces, vendo Lisa em sua frente tão perto. Ela usava uma jaqueta de couro preta e jeans da mesma cor, com uma gola alta vermelha e sem mangas por baixo da cobertura brilhante da jaqueta, suas botas que iam até o tornozelo brilhavam do mesmo jeito e graciosidade. Jennie fechou a porta indo para Lisa com um sorriso no rosto, as duas paradas na escadaria para a rua semi-apagada. O vento raspava pela parte delicada da nuca de Jennie, exposta pelo rabo de cavalo alto.
Lisa a examinou cautelosamente com os olhos, ela parecia pensar em mil e uma coisas antes de parar com as duas mãos nas costas finas de Jennie, olhando para os dois lados antes de aproximar seus rostos mais um pouco.
— Vamos. Estou doida pra te dar um choque de cultura. — ela viu o revirar de olhos de Jennie enquanto as duas entravam no carro.
— Você fala comigo como se fosse tão mais velha. Vou ter que te denunciar para a empresa por fazer bullying com uma aluna. — Lisa riu com a afirmação.
— Assim você vai ter que explicar também onde e quando eu fiz isso, e eu tenho certeza de que ninguém vai tolerar o fato de que foi quando você estava no meu carro sozinha comigo e, à noite.
— Realmente... isso renderia uma história boa.
— "Isso"? — Lisa franziu o cenho guardando um sorriso, seus cabelos jogados disfarçando as linhas na testa já prontas para se adequarem com a expressão boba.
— Nós.
— Eu e você somos "nós" agora?
— Não sei. É isso o que você quer?
