a primeira dança

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O silêncio da gigantesca sala de aula já era de se esperar. O piso de madeira corrida ainda cheirava a alvejante, e por cima dele nenhum passo era marcado. Jennie havia sido a primeira a chegar, se sentindo incomodada pelo silêncio. Tecnicamente, ela não sabia o que fazer, senão encarar o vasto espelho em sua frente. As paredes ao seu redor eram pretas, com cabideiros em cada um dos lados do lugar. Seus dedos tremiam e ela não sabia distinguir se pelo frio ou nervosismo, e em poucos segundos ela não faliu em escondê-los por baixo das mangas do casaco preto de lã. Sua calça era da mesma cor, grossa. E seu tênis, branco, dando uma certa altura para Jennie a qual ela não possuía naturalmente.

Não se passaram muitos minutos até que mais pessoas adentraram a sala, tão animadas quanto Jennie. O grupo constituía-se de jovens irritadas com a matina e outras um tanto mais ansiosas. Porém todas elas, incluindo Jennie, tinham em seus rostos o mesmo semblante. Era um dia novo, pesando ainda mais nos ombros e veias pulsantes de quem aguardava na sala ainda em anseio. Hoje, as coisas mudariam. Jennie lembrava ainda, do antigo mentor do grupo. Um homem alto e loiro, branco, talvez russo, mas ela não sabia. Sua pele era de um tom cor de neve e os olhos a lembravam o mar, puro e denso. As memórias foram imediatamente levadas de volta ao subconsciente quando a porta da grande sala foi aberta uma última vez.

Mas dessa vez, só uma figura traçava seus passos até a frente do grupo, ao centro da parede espelhada. Ela possuía autoridade, e isso não escapou de Jennie, mas seus olhos eram estranhamente doces, mesmo não conhecendo ninguém ali. Eles esperavam por algo, e o canto de seus lábios se levantou por um segundo ao ver que Jennie era a única sentada no chão, afastada das demais. Ela logo se aprontou, adentrando o grupo em um piscar de olhos sobre o silencioso mandar da nova mentora. Mesmo ainda ofuscada pelas diversas figuras ao seu redor, Jennie conseguia vê-la perfeitamente. Os olhos realmente eram doces, trazendo em si um semblante quase surreal e fantasístico. Seus fios de cabelo eram de um tom marrom acinzentado, com uma franja ainda não completamente cobrindo os olhos castanhos.

Jennie respirou fundo, e o chão tremeu tão bruscamente que seu pulmão teve que parar para processar o que estava acontecendo. A mulher, vestida em um traje jeans, se aproximou do grupo. Olhou para as outras meninas, e logo para Jennie. Os olhos de Jennie ainda corriam por cima a baixo tentando processar a mulher a sua frente, entender aquela criatura não tão real quanto ela deveria achar que era. Mas era. O pequeno corte da roupa jeans abaixo de sua clavícula dava clara e perfeita visão de uma parte de sua pele avelã, suave e enigmática. Todos os cantos da mulher eram assim, das curvas ao redor dos seus lábios, para os olhos, até a ponta de seus dedos agora exigentes junto da pontada forte de seu pé contra o chão, parando o inalar de Jennie.

— Não quero demorar com vocês, então vamos logo partir às apresentações. Eu, sou a mentora Manoban... Mas, tudo bem, vocês podem me chamar apenas de Lisa. — sorriu ao afirmar.

— Que bom que você não é um monstro como o nosso antigo mentor. — os olhos de Lisa eram dardos em direção a menina que agora lhe havia dirigido as palavras em alívio, e um sorriso curioso cresceu em seu rosto, em dúvida da afirmação.

— Qual o problema de Jonn? Eu sempre gostei das táticas dele. — ela respondeu, e a menina de cabelos escuros pareceu se aquietar. Uma risada escapou dos lábios de Lisa, vinda bem fundo de seus pulmões, e todos arfaram. — Eu estou brincando com vocês, minha nossa. Fui apenas brevemente atualizada sobre como ele dava aulas na LifEntertainment, então eu não o conheço de verdade. Digam o que quiserem.

As meninas ainda relutantes criaram uma sinfonia de risos em frente a Lisa, que apenas balançou a cabeça para os lados.

— Com respeito, é claro. Quem seria eu se dissesse o contrário? — afirmou por final, antes de se aproximar mais de todas. Ela ordenou que todas se sentassem, e elas obedeceram com sorrisos. Após receber em respostas doces os nomes de cada uma das nove meninas ali presentes, seus olhos devanearam quase não subitamente para o canto do grupo. Jennie, quase não estava no campo de vista da mulher, e a mesma pediu para que ela se aproximasse mais e dissesse seu nome, a pergunta acompanhada de algo que Jennie entendeu ser a mulher a chamando de "doçura".

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