me leve para a lua

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Foram apenas umas horas horrendamente longas após o pedido súbito de Lisa. A aula terminou com um estalar de dedos da mesma que atraiu o rosto de Jennie para o centro da sala onde a mentora estava.

— Kim! — a voz entoou alta no salão, atropelando os barulhos de bolsas sendo fechadas e passos rápidos sendo dados em direção à porta de saída. Os olhos de Lisa deixaram a maré de meninas fluir para fora da sala, regozijando-se no silêncio bem merecido após cinco horas de aula sucedidas.

— Lisa, eu... — o olhar da mentora endureceu-se rapidamente ao ouvir seu nome sendo chamado pela mais nova, dando Jennie uma nova onda de calafrios e uma pergunta incessante a gritar em sua cabeça. — Esquece. O que foi?

— Mal te disse nada e você já tá nervosa? — ela não precisou de muita resposta ao observar os dedos brincalhões de Jennie.

— Não estou-

— Mhm. Escuta — os olhos de Lisa pairaram pela porta de saída e voltaram novamente a uma Jennie ansiosa com seus globos escuros já fixados nos dela. —, Sobre mais cedo... eu não quero que você se sinta obrigada a nada, então caso quiser saber, eu só estava zoando com você.

As sobrancelhas de Jennie a indagaram. Por um momento, Lisa captou como um rápido rangido de disco uma expressão no rosto da menina que se parecia com decepção, algo que ela não costumava ver muito vindo de outras pessoas, muito menos por causa dela. E talvez por outro falho e mísero momento, ela desejou que Jennie dissesse algo. Um emaranhado novo de olhares se estendeu mais do que as palavras ali não ditas e elas se encontraram em puro e longo silêncio, triturando as teorias pulsantes que elas guardavam em si sobre o que aquilo logo viraria.

— Não... sabe de uma coisa? Você me deixou curiosa. — Jennie afirmou, recuperando algo a mais junto de seu fôlego, êxtase e vantagem momentânea vieram até para seu olhar prendendo o de Lisa sem a menor intenção, simplesmente natural, e inevitável.

— Sim? Por quê?

— Não sei, mas eu imagino que te conhecer mais possa me trazer algo de bom. Aliás, você é a minha professora.

— Jennie, não pense que se aproximar de mim vai te dar uma avaliação superior.

— Não! Não é isso. — silêncio novamente se instalou sobre ela, até Lisa o quebrar.

— Então o que é? — perguntou Lisa com os cantos dos lábios carnudos lutando para ficarem calmos.

— Já disse. Você me deixou curiosa. Então, o que vai ser? Posso saber para onde você vai me levar?

Se Jennie por algum acaso entrou em um clima novo de aventureira, querendo se aproveitar da fraqueza de Lisa, a mentora não o deixaria assim. Ela podia ver cada canto fraco de Jennie e cada um deles com algo que a menina desejara esconder dela com segredos e outras coisas mais de si que ela não ousava nunca mostrar nas aulas, como se tivesse algo muito a mais ali que só Lisa pudesse ver, em Jennie. Com todos esses detalhes que ela agora guardava em seus olhos sem dizer muito, ela pegou uma fração da energia provocativa de Jennie para lançar contra ela mesma em uma única jogada, decidida então em entrar no jogo de Jennie, seja lá qual esse fosse.

— Engraçado, não pensei nisso ainda, você nem me deu tempo. — Lisa afirmou arrancando uma risada de Jennie e um revirar daqueles grandes olhos iguais ao céu escuro. Na constelação de Jennie, ela se deixou rir ao estudar — ou pelo menos tentar — os pensamentos da mais nova, adentrando uma camada do espaço seguro de Jennie.

— Tudo bem, eu não sou muito exigente, para a sua sorte. Não precisa pensar muito grande.

— Quer saber? Tem razão. E não pensei mesmo. — os olhos de Jennie novamente estavam nela, na espera de algo. As mãos estavam prontas, uma coladas na alça de sua mochila preta e a outra dando leves tapinhas com as pontas dos dedos na garrafa de plástico transparente em um ritmo desconhecido. Lisa optou não dizer nada, mas não deixaria Jennie simplesmente perdida a procura de algo. — Você vem pra minha casa. Na verdade, eu te levo.

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