19. A starless sorrow - pt. 3

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TW: mutilação


5 anos antes

Somi encarava as paredes pelo que poderia facilmente ter sido uma era, até onde sabia. Não fazia diferença. Ela mal sabia quantas noites já dormira naquele quarto de paredes completamente brancas.

Brancas demais. Incomodamente brancas.

Mas não podia dizer que sentia falta das cores.

O quarto era pequeno. Um armário e escrivaninha de madeira de eucalipto, e uma pequena cômoda ao lado da cama do mesmo tom. Os lençóis e cobertores da cama eram tão brancos quanto as paredes. Tão básico. Tão claro. Sem vida alguma.

Talvez combinasse com seu coração e sua alma, afinal.

Não tinha a capacidade, a força mental para se incomodar com a falta de cor. Ou com qualquer outra coisa. Seu corpo havia virado chumbo desde o primeiro dia que cruzara as portas daquele hospital, e era como se de tempos em tempos ela tomasse consciência o suficiente para olhar para si mesma, para olhar para dentro de si e reconhecer o que havia ali... só para então perceber que, de alguma forma, o peso parecia maior. Mais escuro. Mais frio. E então se retirava mais uma vez, reclusa, fugindo daquele breu denso e gélido dentro de si e se escondendo em algum lugar entre a inconsciência e o agora.

Então deixava que a arrastassem. Cuidadoras vinham e iam, levando-a para o refeitório apenas para guiá-la de volta para o quarto depois de a comida ser deixada praticamente intocada. Enfermeiras entravam e saíam, após uma ou duas batidas na porta para colocar algumas agulhas em seu braço, ou oferecerem pequenos copos de plásticos com comprimidos.

Elas diziam o que cada comprimido era. O que cada líquido pingando para dentro de suas veias faria. Somi não escutara uma palavra sequer. Ela ouvia, sim, mas sua mente não processava nada; não guardava nenhuma informação. Não se preocupava o suficiente em fazer isso. Apenas uma frase se fixou em sua mente, depois de ouvi-la repetidas vezes em diversas circunstâncias. Às vezes entre sussurros dos funcionários, às vezes diretamente para si.

Estresse pós-traumático.

Havia uma cuidadora em particular que tagarelava incessantemente, e nunca se incomodava com a falta de respostas da parte da paciente. Somi desviara seu olhar uma ou duas vezes para o crachá da moça. Dahyun.

"Alguém te roubou de si mesma, não foi? Você parece tão frágil... Mas você está aqui. Aquilo tudo já passou, e está aqui agora. Você sobreviveu, não foi? Então não é tão frágil assim. Tenho certeza que, aí dentro, em algum lugar, tem uma garota corajosa e forte e alegre."

Era uma rotina. As cuidadoras jogavam seus lençóis para o lado, puxavam-na pelos braços e a empurravam em direção ao banheiro com algumas palavras de conforto como "hoje vai ser um dia melhor", mas sem verdadeiramente olhar em seus olhos.

Dahyun, naquele dia, apenas parou. Parou e olhou tão fundo em seus olhos, que se fosse em outra época, Somi ficaria tímida.

"Nós vamos cuidar de você, consertar você. E então, antes que perceba, estrelinhas vão tomar seus olhos e você vai voltar a sorrir. Tenho certeza de que seu sorriso é lindo, então vamos torcer para não demorar muito, sim?"

Os dias passavam, e Dahyun continuava a tagarelar sozinha, às vezes repetindo as mesmas frases, às vezes reclamando sobre Somi não comer suas refeições e precisar de soro várias vezes na semana.

E mesmo assim, Somi não se importava se ela estava ali ou não. Se falava ou se permanecia calada. Tudo era um vazio, e o tempo não tinha significância alguma.

𝚂𝚃𝙰𝚁𝙵𝙰𝙻𝙻Onde histórias criam vida. Descubra agora