1. I'll send the flood to drown 'em out

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 Somi olhou para o relógio branco, em uma parede branca, acima de uma porta branca e depois de volta para seu reflexo no espelho.

 8:48 da manhã. Onde ele estava?

 Ajustou a presilha que segurava o lado direito de sua franja e alisou a saia rosa pastel pela terceira vez. Trocou os aneis em seus dedos. Sentou-se na cama apenas para levantar segundos depois e encarar o maldito relógio de novo. Nem um minuto havia se passado.

 - Essa inquietação toda é só porque seu namoradinho ainda não apareceu? – Yeji levantou o olhar do livro que estava lendo em sua cama, do outro lado do quarto.

 - Não o chame assim – A garota respondeu, passando a mão pelos cabelos castanhos claros e bufando enquanto se sentava de novo. – E sim, é. Já é a terceira vez esta semana que ele se atrasa.

 Chan nunca chegava depois das 8:30. Na verdade, nunca chegava nem depois das 8:25. Todos os dias, por anos, chegava ao trabalho e ia diretamente ao quarto de Somi antes desse horário. Era sexta, e ele já havia se atrasado na terça e quinta daquela semana. Se esquivava de qualquer pergunta da garota acerca dos atrasos. O que ele estava escondendo?

 Antes que a companheira de quarto pudesse responder, alguém abriu a porta e as duas desviaram o olhar ansiosas para aquela direção. Somi baixou o olhar imediatamente ao ver que não era Chan e se dirigiu até a janela, se sentindo desconfortável e evitando a presença de Moon Bin. Yeji, por outro lado, fechou o livro e se endireitou na cama.

 - Olá, bom dia – Cumprimentou as duas, mesmo sabendo que só a garota sentada na cama abriria um sorriso tão grande ao ponto de fechar os olhinhos.

 - Bom dia, Bin. Pode caminhar comigo na trilha hoje à tarde? – Continuou sorrido enquanto apanhava o pequeno copinho com seus comprimidos, propositalmente tocando a pele da mão do funcionário.

 Yeji flertava descaradamente com o cuidador que levava suas vitaminas e medicamentos toda manhã. Ela sabia que qualquer cuidador poderia levar os compridos para os pacientes durante a manhã, mas casualmente quem levava os seus sempre era Moon Bin. Mas ninguém precisava saber que ela sabia disso.

 - H-Hã, claro – O garoto alto de cabelos escuros ficou desconcertado enquanto exibia um sorriso que o deixava infinitamente mais jovem. – Você precisa de vitamina D, e tal. É. Pode ser sim.

 Somi revirou os olhos sem que nenhum dos dois visse. Nem sequer havia sol lá for a, e um dos comprimidos que Yeji engolia era propositalmente para vitamina D. Ela sabia, porque também o tamava. "Tomaria", pensou, "se Chan sequer aparecesse".

 - Moon Bin – Somi chamou sem tirar os olhos da janela. O corpo de Bin se retesou ao ouvir sua voz. – Chan já chegou?

 - Não... Sinto muito. Mas ele mandou uma mensagem dizendo que já está chegando. Problemas de trânsito, sabe.

 "Mentiroso", Somi pensou enquanto sentia um gosto amargo na boca. Os cuidadores não eram autorizados a carregarem seus telefones consigo; ficavam guardados no vestiário. Chan não teria como contatá-lo. Yeji percebeu instantaneamente o erro do garoto enquanto engolia a última pílula, e vendo que ele continuava alheio à situação, resolveu encerrar o assunto.

 - Entendemos. Obrigada por avisar, Bin. Te vejo de tarde, tá? Até mais – O cuidador alto entendeu que estava sendo basicamente jogado para fora do quarto e saiu com um sorriso confuso.

 No momento que a porta se fechou, Somi se virou e foi até seu criado mudo em um rompante. Revirou até achar uma pequena bolsa e tirou de dentro dela um isqueiro, jogando tudo de volta na gaveta profunda.

𝚂𝚃𝙰𝚁𝙵𝙰𝙻𝙻Onde histórias criam vida. Descubra agora