15. The wind blows and everything grows apart

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Estava chovendo como nunca lá fora, e Somi abriu a gaveta da pequena cômoda ao lado da cama depois de se vestir, encarando todos os acessórios dali. Procurou por aquela velha presilha branca descascada, remexendo com a mão em meio a tantas outras que ganhou de Hyunjin ou ela mesma comprou, inutilmente.

A tinta descascada pinicou sua pele antes mesmo que os olhos encontrassem o acessório. Trouxe-a para perto de si, olhando atentamente. A tinta branca já estava amarelada, descascando em alguns pontos, e o metal já estava com traços de ferrugem. Pegou qualquer outra presilha na gaveta com a mão livre, e uma preta com rosas vermelhas, um pouco maior, veio. Hyunjin dera a ela, 2 anos atrás. Se encarou no espelho na parede oposta em frente à cama, segurando uma presilha sobre os cabelos, e depois a outra, devagar.

Era óbvio que a segunda era mais bonita. Somi gostava muito mais dela, mas não conseguia. Não conseguia se desvencilhar da branca descascada de forma alguma. Não queria mais usá-la, mas também não queria se desfazer dela, e usar outra no lugar dela parecia errado. Suspirou fundo. Bem, pelo menos já era alguma coisa. Já era um passo.

Jogou a preta de volta na gaveta, e fez questão de colocar a branca bem, bem no fundo, escondida. Ficaria lá, por enquanto. Presente, mas ocultada. Como tanta coisa em sua vida.

Estava a 1cm de alcançar a maçaneta da porta do quarto e sair quando a mesma foi escancarada e uma tempestade em forma de Yeji entrou, com Yuna sendo puxada para dentro pelo pulso. A última sorriu e abanou para Somi enquanto entravam.

- Reunião de garotas. Agora.

- Mas...

- "Mas" nada. – Yeji puxou Yuna para baixo, ambas se sentando no chão do centro do quarto, e Somi as seguiu.

- Oi, Yuna – Somi sorriu. – Folga?

- Meu turno só vai até o meio dia hoje, na verdade. Eu estava para ir embora quando Yeji apareceu e me sequestrou. – A garota mais nova olhou ao redor, analisando tudo. – Nunca entrei em um dos dormitórios, é minha primeira vez. Não imaginei que seria tão lindo, estou com inveja. Vocês todos só podem nadar em dinheiro, esse quarto é mil vezes melhor que o meu. E eu moro em uma casa de verdade.

Somi não podia discordar. Apesar de achar a suíte branca demais, o lugar era enorme, dando espaço suficiente para as duas garotas não precisarem dividir nada. Ambas tinham a própria cama – de solteiro, mas ainda assim grande – e armário, cômodas ao lado da cama, estante, espelhos e escrivaninhas. Havia um pequeno sofá encostado em uma das paredes, mas esse era de uso das duas. O banheiro também era bastante espaçoso. Ela não sabia o valor da mensalidade, mas sabia que não era nem um pouco barato. Somi tinha sorte da avó ser uma senhora muito abastada, porque mal podia imaginar quanto a idosa já havia gastado naqueles 5 anos.

Bom, era o mínimo por a deixar ali sozinha, sem nem sequer uma ligação.

Seria sempre o mínimo.

- Eu preferia uma casa de verdade, por menor que fosse o quarto – Somi respondeu, o olhar vagando perdido pelas paredes brancas demais.

Yuna baixou os olhos para o próprio colo, as bochechas vermelhas de vergonha. Não tinha pensado duas vezes antes de falar. "É óbvio que uma casa seria melhor, Yuna, sua idiota!".

- Desculpe. É que... Na companhia de vocês, até esqueço que isso aqui é um hospital.

Somi piscou os olhos para a garota envergonhada. Era possível que alguém achasse a companhia dela e Yeji tão normais ao ponto de se esquecer do ambiente hospitalar?

Não conseguiu evitar sorrir.

- Tudo bem, está desculpada, agora vamos ao que interessa. – A voz de Yeji cortou o recinto, e as duas outras sentadas se viraram para ela. – Bin disse que gosta de mim. Que está apaixonado, na verdade.

𝚂𝚃𝙰𝚁𝙵𝙰𝙻𝙻Onde histórias criam vida. Descubra agora