18. A starless sorrow - pt. 2

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5 anos antes

(fun fact: se você ler até o final desse capítulo, já teria lido 150 páginas se Starfall fosse um livro físico. (: Parabéns!)

  Hyunjin apenas encarou enquanto o mundo parecia desacelerar ao seu redor. Observou, como se em câmera lenta, a mão de Somi se esticar, e depois se abaixar novamente.

Mal conseguia acreditar nos próprios olhos ao ver aquele buquê escorregar das mãos de Chan como areia, o embrulho transparente emitindo o som que ele podia jurar ser o mais cruel que já ouvira ao se amassar no chão. E então continuou sem acreditar no que estava vendo ao ver o amigo virar o corpo e deixar que os pés o levassem para longe dali, correndo. Não esqueceria o olhar dele tão cedo, a expressão em puro terror, como se ouvisse a própria alma partindo dentro de si.

Então o olhar de Hyunjin foi para a amiga de joelhos no chão sujo, segurando aquela carta manchada de lágrimas na mão. Esperou e esperou enquanto se preparava para o momento em que Somi o olharia com o coração despedaçado e os olhos repletos de lágrimas incessantes, como se demorasse uma infinidade e ao mesmo tempo apenas segundos.

No entanto, as costas da amiga não tremiam. Os ombros não levantavam e subiam com soluços. Ela apenas estava imóvel, olhando para aquelas flores agora manchadas em um estado de catatonia nada adequado ao momento. Voltara a ser a garota sem reação que Hyunjin sentia que poderia se quebrar a qualquer momento desde que a encontrara na sala da diretora.

O que viu quando Somi virou lentamente para si foi o completo oposto. Não havia lágrima ou tremor algum, mas seus olhos também não esboçavam nenhum brilho sequer, estavam apenas vítreos. Havia consciência ali, sim, mas sem emoção alguma.

Hyunjin preferiria as lágrimas.

Um minuto inteiro se passou em silêncio enquanto se encaravam até a amiga se levantar, devagar, sem se importar em limpar a poeira dos joelhos e pernas. Esticou a carta para Hyunjin, ainda sem expressão alguma no rosto.

- Esconda. Se ficar comigo, os policiais vão achá-la. Vou pegar de volta com você quando conseguir.

Pegou a carta com as mãos um pouco trêmulas e o enfiou entre as páginas de algum caderno dentro da mochila, sentindo nojo ao apenas tocar no mesmo papel que aquelas mãos que haviam manchado Somi tocaram.

Havia um eco surdo em sua cabeça, impedindo-o de pensar direito, mas mesmo assim ele reagia. Não sabia direito quem estava controlando seus membros, nem como conseguia sustentar o olhar sem vida da amiga. Era como se uma força desconhecida dentro de si simplesmente não deixava a si mesmo processar tudo que estava acontecendo e tudo que havia descoberto em tão poucos minutos, fazendo-o se manter de pé e respondendo às reações do exterior. Porque se Hyunjin parasse por um segundo sequer para contemplar tudo que os rodeava... Ele desabaria. Como Chan.

Então, por Somi, ele respirou fundo e controlou o coração que explodia em angústia dentro do peito, deixando que aquela força bloqueasse qualquer hesitação.

- E agora? – perguntou, enquanto fechava a mochila.

Somi olhou em direção onde sua casa estaria, a algumas quadras. De onde estavam podiam ouvir a sirene das viaturas.

- Nós vamos até lá. Faremos o que pedirem. Já devem saber que estamos a caminho, vão começar a me procurar se demorarmos mais. – A garota deu um passo em direção à casa, mas Hyunjin a impediu, agarrando seu cotovelo.

Somi apenas o encarou, esperando. Seus olhos estavam inchados e as bochechas levemente vermelhas do choro, mas fora isso parecia completamente normal. Hyunjin procurou em cada centímetro de seu rosto e de sua postura um resquício de desespero ou medo, mas não encontrou nada. Queria chacoalhar os ombros da amiga e pedir que chorasse, que demonstrasse qualquer centelha de emoção para que aquela sombra assustadora sumisse de suas feições. Porque aquela apatia o assustava mais do que qualquer morte que os rondasse no momento, mesmo que ele próprio não demonstrasse absolutamente nada.

𝚂𝚃𝙰𝚁𝙵𝙰𝙻𝙻Onde histórias criam vida. Descubra agora