Estava quase dormindo profusamente, quando me assustei escutando um barulho alto vindo da janela, me sentei na cama e fiquei um tempo observando o vidro tentando enxergar algo, até que alguém bate no vidro com força como se quisesse entrar e eu me levanto preparada pra correr.
—Raquel, sua quenga venha abrir aqui pra mim – Reconheço aquela voz fofa e doce me xingando como uma criança
–Konan? – Rio de nervoso em um tom baixo e aproximo da janela e abro e ela entra com cuidado dando um sorriso largo e assim que entra me abraça fortemente como se não me visse a séculos
—Eii, que foi? – Pergunto preocupada, pois ela não queria me soltar
—Você não respondeu minhas mensagens, e seu celular dá desligado toda vez que ligo... Achei que tinha te perdido, então vim ter certeza... – Ela diz tristonha e com o rosto encharcado e vermelho enquanto me soltava devagar. Suspiro e coço a nuca. Realmente eu tenho sido bem ausente com Konan
— Me desculpa princesa, isso não vai se repetir... Estive muito ocupada esses dias, então por isso não respondi, e não queria conversar por call, me desculpa mesmo – Falo abraçando ela de novo com carinho. —Mas você não podia estar aqui a essa hora ... São quase meia noite, sua mãe te mataria se soubesse que você saiu essa hora – Falo preocupada e a solto devagar e levo ela até minha cama
—Estava preocupada demais com você, não ia conseguir dormir se não viesse te ver, por favor não conta pra minha mãe que eu saí –Ela diz me olhando ainda com os olhinhos meio inchados
—Não vou contar, não se preocupe, mas você não pode sair agora, durma comigo hoje e amanhã cedinho quando eu sair pra escola eu levo você e a gente compra pão e você fala que levantou mais cedo pra ir na padaria, e ninguém vai perceber que você saiu escondido... – Ela assente e me abraça de novo agradecida
—Me prometa nunca mais fazer isso Konan, você já tem 15 anos, sabe o perigo por aí, ainda mais nesse horário – Ela envergonhada assente e eu sorrio orgulhosa e lhe dou um beijo na testa. — Agora durma, está bem?! Descansa – Tiro o sapato dela e ela se deita na minha cama e eu a cubro.
—Você vai dormir a onde? – Ela pergunta se sentando na cama e eu olho pros lados tentando pensar nisso
— Vou pegar meu colchão de acampamento e colocar aqui do lado – Falo indo pegar, mas ela impede segurando meu pulso, me fazendo lembrar da cena do banheiro, onde Maria fez a mesma coisa, me viro pra ela boquiaberta, mas quando nossos olhares se encontram, eu desvio olhando pro lado e passo a língua sobre os lábios meio nervosa e preocupada
— Durma aqui, eu não devia ter vindo sem avisar e não quero que você durma mal, sei como esses colchões são horríveis – Ela diz baixinho e eu sorrio de canto voltando a atenção pra ela
— É apenas uma noite, não se preocupe – Tento me soltar, mas, ela aperta mais forte e pede de novo pra que eu durma ao seu lado um pouco medrosa e então vencida pelo cansaço me deito ao lado da pequena e a abraço fortemente e ela se aconchega em meus braços como um ursinho de pelúcia quentinho.[...]
Ao amanhecer me levanto, e Konan já estava de pé arrumando meu uniforme pra mim, ainda meio sonolenta me sento na cama e fico observando ela por um tempinho.
—O que está fazendo? – Pergunto parecendo um Zumbi
—Arrumando seu material, pra um bom dia na escola – Ela diz sorridente e me traz a mochila. – Já coloquei seu uniforme do serviço ai também
— Mexeu nas minhas roupas? – Pergunto meio séria e ela abaixa a cabeça concordando e eu rio nasal. – Obrigada por cuidar de mim – Beijo sua bochecha e ela sorri de orelha a orelha, mas sem mostrar os dentes
— Você precisa se arrumar logo – Ela diz me dando o uniforme da escola
— Não vou demorar ok? Fique aqui no quarto e se alguém aparecer se esconda, ok? – Ela assente confiante e eu bagunço seu cabelo como um carinho. – Boa garota – digo sorrindo fofa e me levanto.
Ao entrar no banheiro, me apoio na pia suspirando pesadamente e sem ânimo nenhum levanto a cabeça, olhando meu rosto detonado pela noite mal dormida, refletido no espelho. Nego com a cabeça, afastando todos os pensamentos ruins e como minhas higienes matinais, e quando eu ia sair já pronta, me assusto dando de cara com a minha mãe.
— Que horas você chegou ontem? – Ela pergunta séria
—Antes das 23, por que? – Falo calma e ela sorri fraco
— Porque não ouvi você chegando – Ela diz mais calma
—A senhora já estava dormindo, assim como todos, não quis acordar vocês, então entrei com a minha chave sem fazer algazarra – Falo saindo da frente dela e indo pro meu quarto e ela me faz parar no corredor
— Quero que continue assim, Raquel, sempre respeite os horários e minha confiança nunca vai acabar com você – Ela diz tentando ser carinhosa e eu sorrio de lado
—Pode deixar mãe, nunca vou querer perder sua confiança, conte comigo – Vou até ela e lhe dou um beijo na bochecha e ela dá um tapinha na minha bunda
— Se arruma logo, você tem que ir pra escola – Ela diz voltando a pose autoritária e eu assinto
— Já estou indo, tomo café na escola – Falo me despedindo e entro no quarto rapidamente e Konan se assusta se escondendo debaixo da cama – Sou eu, Calma – Sussuro e ela sai do esconderijo me olhando com um sorriso sapeca
— Já falei que você fica bonita de uniforme? – Ela pergunta fofa e eu rio baixo e ajudo ela a levantar
—Para de ser boba, você precisa ir pra casa, pule a janela e suba na árvore perto do portão e me espera lá, ok? – Ela assente obediente e vai fazer o que eu disse, pego dinheiro no meu cofrinho, e me fazendo de boa atriz, saio do quarto como se nada tivesse acontecido e aceno pra minha mãe e vou em direção ao portão, e o abro, porém, antes de sair chuto de leve o tronco da árvore e Konan desce com cuidado e eu gesticulo pra ela sair rápido e ela saí. Em um suspiro aliviado, pego minha bicicleta e saio também logo atrás dela.
— Vem, vamos passar na padaria e eu te deixo em casa – Ela concorda e como eu não tinha garupa, levo ela no quadro da Bicicleta, com muita dificuldade pra não cairmos.
Alguns minutos depois, o pão estava comprado e peguei apenas um pra eu ir comendo no caminho até a casa dela.—Está entregue, senhorita Konan – Anúncio parando a bicicleta na frente de seu portão. — Não acredito que você andando aquela hora pra minha casa, só pra me ver – Falo sem expressão e ela sorri fraco dando de ombros
—Obrigada por não me deixar, me meter em encrencas – Ela me abraça e eu sorrio confortável com sua calor, carinho e cuidado
—Obrigada por sempre cuidar de mim, ursinha, mas tome cuidado com algumas atitudes, ok? Agora vá, antes que percebam, prometo te responder mais tarde – Falo saindo, mas ela antes corre e me dá um último beijo na bochecha e eu rio ficando um pouco vermelha. E ela entra correndo no quarto pela janela e espero que ela lembre de destrancar o portão pra parecer que ela saiu cedo, mas não há tempo pra falar isso.
— Merda, to atrasada! – Falo pedalando o mais rápido possível, já que ônibus não rolava pra mim hoje.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desculpa, mas não posso gostar de você
RomanceNa vida temos poucas certezas, uma das únicas que possuo é que eu e Maria somos melhores amigas. Estamos intimamente ligadas e completamos uma a outra. Eu, certamente daria minha vida para que ela fosse feliz. alguns chamam isso de alma gêmea. Se eu...