Cap 8. Indiretas, diretas

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A semana terminou tão rápida, quanto começou. Maria e eu nos falamos pouco, bem pouco mesmo. Era só “Oi”, “Tchau”, “Bom dia” e de vez em quando um “Boa noite”. Naqueles dias senti falta, senti falta da companhia dela, senti falta das mensagens dela, de quando minha pergunta tinha uma resposta, quando respondia “oi amiga”, quase na mesma hora... Mas eu não ia correr atrás, ela ia precisar de mim, eu sabia disso... Ela errou, ela que peça desculpas, cansei de contar as vezes que deixei meu mundo cair, pra segurar o dela. Cansei de todas as vezes que pedi perdão mesmo tendo razão, só pra não ver ela chorar. Dessa vez ia ser diferente, e foi...

Era sábado meio dia, eu estava terminando de almoçar e meu irmãozinho pediu pra pegar meu celular pra jogar. Deixei ele ir brincar, mas ele de repente volta com o celular na mão, com uma carinha assustada:

—É a Maria... Ela tá chorando – Ele fala em Pânico e eu deixo minha comida rapidamente de lado e me levanto pegando o celular dele e saio pra fora
—Eii, tô aqui... O que foi? – Pergunto preocupada e ela desaba a chorar no telefone
—Eii Maria me responde, fica calma, respira, inspira, respira, não pira, calma... – Repito isso várias vezes até que ela se acalma
—Ok, agora me fala, o que ta acontecendo? – Pergunto preocupada
—E-eu sou uma idiota, me desculpa, eu não aguento mais ficar sem falar com você, eu sinto sua falta! Por favor me ajuda! – Ela diz em desespero
—Eii, eii, calma! Você, não me perdeu, eu to aqui ok? Parou!! Eu não deixei de ser sua amiga, apenas te dei seu espaço pessoal, Maria...calma
—Me desculpa por favor, me perdoa – Suspiro pesadamente e respondo com carinho:
— Eu nunca diria Não pra você, Maria... – Falo soltando uma risada baixa e ela começa a repetir várias vezes que era grata por me ter ao lado dela, e que ela era feliz comigo, e blá, blá, blá. Pra mim tudo fez sentindo quando ela disse:
—Tudo bem, estamos acertadas agora... Você pode vir aqui em casa hoje? Me ajudar me arrumar pra festa da Andressa – Ela diz fungando o nariz e eu fico puta
—Aaaaah Maria vai pra merda, vai! Eu vou ai mais tarde caralho, eu vou almoçar que eu ganho mais – Esbravejo irritadíssima e quando me sento desligo meu celular, aproveitando que meu irmão se distraiu com outras coisas

—O que aconteceu? – Minha mãe perguntou
— Nada, ela só quer ajuda pra se arrumar pra uma festa da Menina da nossa sala... – Falo simples
— Você vai na festa também? – Bebo meu suco e olho pra minha mãe
—Mãe, eu odeio festa lotada... – Falo calma e ela nega com a cabeça
— você tem que se enturmar mais filha, você precisa ir, se divertir, para de ficar enfurnada nesse quarto 24 horas – Ela aconselha e eu termino de comer
— Eu vou pensar mãe, de qualquer forma vou na casa da Duda ajudar ela com “a preparação” – faço aspas com os dedos e ela ri e eu levo as coisas pra pia.
Minha mãe tinha razão, eu estava na época da adolescência, nova, época de aproveitar a vida com orgulho, mas... Lembrar que a festa estaria lotada me dava arrepios... Mas pelo menos teria comida a vontade.
[...]
Quando foi 2 horas da tarde, eu estava pronta, indo ora casa da Maria ajudar ela
—Mãe? – A chamo, indo até o quarto dela
—Hum? –Ela responde sonolenta, por estar cochilando
—Pensei no que a senhora me disse... Eu vou sim na festa, ok? Não tenho hora pra voltar – Na hora ela acorda e me olha
— Não exagera! Você vai volte antes da meia noite, está ouvindo?? – Ela diz autoritária
—Sim senhora, tudo bem – Falo erguendo as mãos em rendição
— E leva sua chave, divirta-se, e juízo, se eu descobrir que tu fez merda, é castigo eterno ok? – Ela diz apontando o dedo e eu assinto
—Ok, agora to indo, beijooo – Falo animada e saio de casa e mando mensagem pra Maria “to chegando, sua fedida! Vai tomar banho”, ela logo responde com “KSKSKSKSKSK” e manda eu tomar em um lugar onde não bate sol.
Chegando na casa da madame, eu mesma abri o portão, já que estava só, encostado, e deixei a bike perto do muro. Entrei a vontade e vi a vó dela.
—Oi tia – Falo afrontosa, sabendo que a véia, não gosta de mim
—Vai a merda – Ela responde seca assistindo a novela
— Também amo a senhora – provoco e quando me viro no corredor dou de cara com a Maria, quase lhe dando um beijo por acidente, se ela não desse um passo atrás quando me virei.
—Eita! Oi cheguei – Falo fingindo inocência e ela me puxa séria pro quarto dela.
— Que foi? – Pergunto percebendo seu semblante fechado
—Minha avó, ia ficar cuidado de mim hoje e não quer deixar eu sair, por mais que minha mãe tenha deixado, minha mãe não avisou ela, e agora ela não quer deixar eu saiirrr – Na hora um sorriso meu se abre vagamente e um amor por aquela uva passa sentada no sofá nasce no fundo do petróleo do meu coração

—Olha só, que pena não é mesmo! Bem, vamos fazer outra programação então – Falo simples e ela surta
—NÃO RAQUEL! – Ela me puxa bruscamente até a janela e aponta. — Eu vou fugir essa noite, e você vai comigo!
— Ah não puta que pariu, de novo não – Bato na testa me lembrando do recente acontecimento com Konan.
— Anão é um homenzinho muito pequeno, tu vai sim e cala a boca, vem vamos nos arrumar! – Ela diz autoritária
— E se pegarem a gente? E se acontecer algo errado? – Pergunto em Pânico e ela massageia meus ombros
—Relaxa... Vai dar tudo certo, não vão me descobrir, calma... Vai dar tudo certo – Ela sussurra no meu ouvido, criando várias e enormes borboletas.
—Tá, tá, vamos lá... – Falo hesitante e ela começa a ase arrumar, escolhendo a roupa. Foram 2 horas e meia com a porta do quarto trancada, com ela tirando e colocando roupa na minha frente, até que ela teve a brilhante ideia
—Affs, tá tão quieto, vou por uma música, ai eu vou fingir que tô desfilando e aí você dá sua opinião – Assinto já segurando um travesseiro no meio das pernas sentindo algo estranho na minha intimidade. Eu esperava que fosse alguma música de kpop, uma música normal do StrayKids, mas NÃO! Por algum motivo o universo queria me fazer sofrer mais e mais. Na playlist aleatória foi cair justo em “Earned It” do  The Weeknd. Porra, pra que eu assisti 50 tons de cinza?! Agora todas aquelas cenas de repetiam na minha cabeça, imaginando cenas incríveis com Maria, ao som daquela música. Me controlar estava difícil ali, mas ela é só minha amiga, não devo sentir esse sentimento, isso só deve ser atração por ela ser uma grande gostosa,  ou fogo no cu... Eu sou hétero com certeza, 100% hétero, aquilo deveria ser apenas carência, é claro! Quando ela finalmente escolheu a roupa piorou tudo.
Uma saia jeans clara, e um top preta de mangas caídas e um salto scarpin preto sem muitos detalhes, ela estava perfeita, a roupa valorizando seu corpo e o salto, valorizando sua altura, que não era das maiores.
— Eai o que achou? – Ela pergunta fofa e eu quase babando saio do meu transe de pensamentos impuros e gaguejando consigo responder:
—T-t-ta perfeita, m-muito l-linda... Ta top! – Falo toda tímida e sem graça pela minha situação e ela ri
—Ok, agora sua vez, vai vestir a roupa que você trouxe! – Ela ordena e eu me levanto obedecendo.
Uma roupa simples, uma calça jeans preta, um tênis branco, uma regata branca e o mais amado casaco xadrez preto e vermelho.
—Está linda... mas nunca mais, vi você usando vestido, desde seu aniversário de ...
— 13 anos, é eu lembro do terrível acidente do vestido ficar preso em uma cadeira e rasgar – Falo fazendo descaso e ela ri
—Desculpa, rindo com respeito – Ela diz erguendo as mãos em rendição e eu rio junto e jogo uma blusa nela
—Preciso ir no banheiro, antes de terminar de te ajudar – Ela aponta pra porta do quarto dando permissão pra sair, eu destranco a porta e vejo a vó dela dormindo no sofá.
Vou ao banheiro e suspiro pesadamente tentando apagar aquelas imagens obscenas da minha cabeça.
Quando saio do banheiro, confiro se a vó dela ainda estava dormindo, e então entro no quarto vendo Maria já maquiada.
— Sua vó está dormindo – Falo tentando não fazer barulho e ela sorri
— Eu sei, coloquei sonífero no vinho dela – Ela diz sorrindo maliciosa e eu Arregalo os olhos perplexa. — Quando mamãe chegar, vai pensar que ela está bêbada, a porta do quarto vai estar trancada então ela não bai tentar entrar
—Caralho, você já pode ser assassina, sabia?! – Falo brincando e ela me olha ainda com o sorriso malicioso
-Eu sei – Ela acrescenta por último, bem convencida e larga o pincel do blush sobre a penteadeira
—Podemos ir? – Pergunto desconfortável e ela assente passando um perfume em mim
—Sim, Podemos – Ela diz tirando o excesso do batom e então eu pulo a janela primeiro e ajudo ela a pular logo em seguida, e Matheus logo na esquina, já nos esperava no Uber

Desculpa, mas não posso gostar de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora