Cap 4. Vela não, tocha olímpica

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Passei a tarde toda no serviço longe do celular, e quando deu 17 horas quando peguei ele pra ir embora, haviam várias mensagens de Konan no direct, perguntando por que eu estava tão sumida das redes sociais ultimamente, ela realmente estava preocupada comigo, mas quando fui responder, meu celular toca e vejo o nome “My Alien”, suspiro e atendo enquanto saia do trabalho, esquecendo de responder Konan
— Fala Maria – Digo ao atender
—Ain grossa, tá tudo bem? Sua voz parece estar alterada... –Ela diz com uma voz insegura
— Eu to bem, apenas estressada... Já estou indo pra sua casa, nos falamos daqui a pouco está bem? – Falo tentando destrancar a bicicleta enquanto falava com ela
—Ok, já traga uma roupa pra você – Ela acrescentou me fazendo assustar e dar um passo atrás, tropeço no meu próprio pé e caio sentada no chão.
— Ai... Como é que é?! Pergunto esbravejando e ela com a voz mais aveludada e calma do mundo me responde:
— Você vai comigo... Eu não tenho assunto com ele, preciso que você crie alguns na hora – inacreditável eu estava paralisada, ainda caída no chão.
— Não, eu não vou! Não vou segurar vela pra vocês! – Exclamo certa e determinada, mas do outro lado escuto ela fungando o nariz e chorando baixinho, suspiro pesado e esfrego o rosto contrariada
—Ta bom Maria, tá eu vou... Para de chorar... – Falo desanimada e com a voz tensa e ela grita feliz na outra linha e eu desligo o telefone, coloco meus fones e ligo pra minha mãe avisando que ia sair com a garota, minha mãe sem se importar muito, apenas avisou pra eu não chegar tarde da noite.
Logo eu já estava no portão de Maria, esperando a Rapunzel sair do quarto pra abrir o portão pra mim.
—Finalmente, achei que tinha morrido dentro do quarto – falo ao vê-la se aproximar do portão com a chave
— Quase morri dentro do banheiro, isso sim – Ela diz abrindo e eu entro na maior tranquilidade por já ser de casa
— O que tu fez? – Deixo a bicicleta apoiada no descanso e vou até ela
—Escorreguei enquanto tomava banho, e me machuquei – ela mostra o pequeno roxo em sua coxa.
— Acho então você experimentar alguma roupa que esconda isso – Falo exagerando
—Ta tão ruim assim? Achei que não daria pra ver – Ela fala colocando a mão no local e eu rio nasal
— To zoando, não dá nem pra perceber – Falo entrando pra dentro da casa e ela me segue
—Que bom, porque já separei algumas roupas aqui – Ela me empurra na cama, me fazendo sentar e abre o guarda roupa, me mostrando as peças que ela separou
—Vai vestindo, e eu falo qual é a melhor – Falo calma e ela assente e começa a tirar a blusa na minha frente. Sinto minhas bochechas queimarem, me fazendo desviar o olhar e comprimir os lábios.
—Eii que foi? Ta com vergonha de que? Temos as mesmas coisas... – Ela diz toda fofa e inocente
—N-não to com vergonha, apenas... Tô... Te dando privacidade – Falo engolindo a seco e ela na maior cara de pau vem até mim e pede pra eu ajustar seu sutiã.
—Poxa ainda bem, por um instante achei que você iria virar um tomate – Ela diz rindo e se afasta começando a vestir a primeira roupa, uma saia jeans clara, que cobria apenas até a metade de sua coxa, uma regata preta e um cinto preto também, e pra fechar, um tênis branco
—Ficou legal, mas acho que a blusa ficou decotada, 7/10 – constatei confiante e ela volta a tirar a roupa e colocar outra. Agora um vestido rosado um pouco transparente, com flores roxas e amarelas
— Como eu estou? – Ela pergunta dando uma rodadinha
— Ridícula – Respondo seca e ela bufa voltando a trocar de roupa, e aquilo estava até que ficando interessante, eu poderia ficar mentindo todas as vezes, dizendo que a roupa não havia lhe caído bem, sendo que ela fica linda de todas as maneiras, mas ela estava ficando frustrada. A próxima roupa que ela me mostra era uma calça rasgada no joelho, um top preto e um casaco xadrez cinza e preto e o mesmo tênis branco, ela havia ficado perfeita, mas por algum motivo eu não queria que ela ficasse mostrando sua beleza pra qualquer um... Mesmo que esse qualquer um, também fosse meu melhor amigo.
— E agora? – Ela pergunta angustiada
— Faltou pano pra terminar essa ai? – Zombo rindo e ela se irrita e joga um livro de sua mesinha em mim, por pouco desvio e ergo as mãos em rendição e ela volta a se trocar, mas dessa vez ela deixa a roupa cair e pra pegar, ela se curva mostrando um pouco mais do que o tecido de suas peças íntimas e eu me engasgo com a minha própria saliva e tentando esconder o rosto vermelho abro o livro que ela havia jogado em mim e finjo não ter visto nada.
— E agora? Essa está boa? – Ela pergunta cruzando os braços e eu abaixo o livro do rosto aos poucos e vejo uma ótima roupa confortável e comportada pra ela.
—Está linda... – Sorrio boba lhe olhando de cima a baixo. Um lindo vestido preto um pouco colado, valorizando suas curvas sem ser vulgar, e uma blusa de manga longa branca como sobreposição, com o mesmo tênis branco pra calçar. Ela sorri orgulhosa e se olha no espelho toda feliz.
A felicidade dela normalmente me contagia, mas naquele momento estava sentindo meu coração apertado, o sorriso forçado em meu rosto era quase evidente, mas, eu sempre soube fingir muito bem, e esconder meus verdadeiros sentimentos e intenções. Maria está descobrindo o que é amor, ela se sente tão feliz e tão ansiosa pra todo segundo estar com o Matheus, Sinto estar sendo deixado de lado por ambos, me sinto ameaçada, quero afastar os dois, mas... Eu não sei nem o motivo dessa vontade, mas sei que se ele machucar o coraçãozinho dela, não me importo quem ele é, eu vou o machuca-lo também! Perdida nos meus pensamentos enquanto observava atentamente Maria se arrumando, apenas saio do pequeno transe quando ela anuncia que está pronta...

—Agora vá, você tem que se arrumar – Ela diz me empurrando pro banheiro
—Puts, eu esqueci de passar em casa pra pegar roupa, me empresta alguma? –Ela bufa e aponta pro guarda roupa dando permissão e eu rio de nervosa e pego a primeira combinação de roupa que vejo. Uma calça Jeans preta rasgada no joelho e na coxa, uma blusa branca, e um casaco xadrez preto e cinza. Fui tomar o banho e logo eu estava pronta.
—Tenho mesmo que ir? Não quero segurar vela – Falo insegura e ela vem até mim sorrindo com doçura e segura meu rosto com carinho
— Eu preciso de você, então por favor... Não pergunte de novo –Ela exclama calma, e eu assinto e ela desce as mãos pegando na minha, e me leva até sua penteadeira e arruma meu cabelo e passa um pouco de pó na minha cara
—Sua cara está tão acabada amiga, você anda dormindo bem? – quando ela pronuncia aquela frase, todas as cinco noites que passei acordada nos últimos dias vem na minha mente como um pequeno filme, eu só sabia pensar nela... sempre imaginei meu futuro com Maria, seríamos amigas pra sempre,  compraríamos uma casa e morar juntas, se precisasse eu faria uma faculdade diferente apenas pra ficar ao lado dela, e nunca deixá-la sozinha, mas agora com Matheus na jogada todos aqueles sonhos estavam em risco, eu só sabia ver ela e Matheus realizando tudo aquilo, e isso me deixava com raiva, ao mesmo tempo triste e com a autoestima no chão.
—Tô, tô Sim! Estou dormindo muito bem – Minto e suspiro e ela deixa aquilo passar e vai até sua caixinha de jóias e pega um colar do Harry Potter e coloca em mim
—Pera aí, por que está me dando isso? – Pergunto sabendo o quanto ela era apegada naquele colar
—Não estou te dando, apenas emprestando porque ele combina com essa roupa – Ela diz convencida e eu rio baixo e olho as horas
— Que horas você tem que ir? – Pergunto lhe olhando e ela pensa um pouco tentando lembrar
— As 19horas na praça do cais –Ela diz pausadamente
—Então vamos – Mostro o relógio marcando 18:50 e ela arregala os olhos e pega o celular e chama um Uber correndo, pego meu celular apenas e a sigo pra fora até o carro chegar

—Me conta o plano? – Sugiro enquanto olhava as últimas notícias
— Vamos ao cinema, e depois comer algo, tomar um sorvete talvez e ficar conversando um pouco, vendo os barcos da Marinha lá no Cais – Ela diz animada, e eu aceno com a cabeça e coço a nuca
—Se você me deixar de vela, eu juro estragar todo seu encontro, e os próximos que virão também – ameaço e ela ri erguendo as mãos em rendição —Ótimo – finalizo minha declaração e o carro chega e entramos nele indo pra praça.

[...]
Chegando no cinema, Matheus já estava na portaria nos esperando
—Achei que não viria – Ele diz se referindo a Maria e me vê chegando logo atrás —Também não sabia que você viria melhor... –Ele parece um pouco incomodado com a minha presença, mas tento ignorar
— Pois é, vim de última de hora – Rio sem graça
—Eu não saio sem a Raquel, desculpa – Maria diz timidamente
—Tudo bem, não se preocupe... E aliás, está linda assim – Ele diz quase babando encima dela
—Bem... Obrigada, eu tive uma ajudinha – Maria estava quase falando bobagem, então interrompo
—Chega de papo, o filme deve que já vai começar, vamos, vamos! Que filme é mesmo? – Pergunto comprando um bilhete pra mim
— O único filme que estava passando hoje era esse... – Ele diz meio preocupado — Espero que gostem de Terror – ele brinca e Maria se anima
— Amo filmes de terror – Ela diz sorrindo largo e ele pega na mão dela
— Qualquer coisa, pode me abraçar ok? Eu te protejo – Ele dá um pequeno beijo na mão dos dois juntos e eu observando aquela boiolagem quase vômito
—Ah qual é, O POÇO? Que caralho de nome é esse?! – Reclamo comprando pipoca e refrigerante pra mim e Matheus logo depois de mim, compra um balde gigante de pipoca e um refri pra eles dois dividirem, indignada vou na frente procurando um assento.
Acho a poltrona e me sento e os dois logo chegam e se sentam ao meu lado perto da parede.
—Tomara que o filme seja bom pelo menos, sem sustos... Sem suspense, sem música que vai ficar ecoando na minha cabeça depois... – falo baixinho.
—Então você deveria ir assistir Barbie Butterfly, princesa – Um babaca qualquer que estava sentado na poltrona ao meu lado diz
—Ah vai-se ferrar – Esbravejo irritada e o filme começa e eu começo a comer. A cada susto eu derramava um quilo de pipoca no chão, havia mais pipocas no chão do que na minha pança ou na vasilha. Quando olho pro lado vejo os pombinhos nem presentando atenção no filme, estavam brincando de guerrinha de polegares, chateada abaixo a cabeça e tento não ligar pra essas coisas, mas algo dentro de mim chorava, e eu não sabia o que era...

Desculpa, mas não posso gostar de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora