— São dezenas de dívidas, Júlia, dezenas e dezenas. Seu irmão tem duas alternativas: concluir o contrato de casamento ou passar tudo que está no nome dele em relação a marinha para o meu pai.
— Você tá feita na vida...
— Não sei não, hein. Isso pode acabar me lascando, eu não sei nem administrar minha vida direito... Bem, faremos o segui...
Iasmin parou diante a uma caixa de arquivo vertical na estante, com o nome do navio onde navegavam. Em seguida, a puxou e abriu, revelando seu conteúdo. Passou os olhos pelos papéis, surpreendendo-se.
— Júlia, leia isto.
A atriz tomou os papéis em mãos, e em seguida, passou os olhos pelos títulos. Riu, debochada.
— Que estúpido! Tudo que ele fez está aqui, registrado.
— Tudo mesmo, cada irregularidade desta embarcação.
— "26 botes salva-vidas a remo". Cara, que idiota! Além de estar contra as leis maritimas, ele também está contra a ética. Botes a remo? Os navios do seu pai tem aqueles botes a motor, com rádio transmissor e tudo mais. Que cara bocó esse meu irmão, hein...
— Muito otário mesmo. Bem, vamos tirar as cópias desses documentos todos na sala gráfica do navio, vem.
As duas colocaram todos aqueles documentos na pasta-carteiro que trouxeram para tal fim. Tinham praticamente arquitetado um plano.
— Não estamos cometendo um crime, Iasmin?
— Não creio. Eu sou advogada das duas firmas, portanto, tenho livre acesso a todos esses documentos. E quanto às cópias, fique tranquila. O congresso vai me agradecer por elas caso um desastre aconteça com o navio.
— Ainda bem que não estamos navegando no gelo...
— Júlia!
As duas riram (mesmo amedrontadas com a ideia de uma catástrofe). Matheus se reuniu a elas no corredor.
— Onde vão, senhoritas?
— Bem... — Júlia apontou para a pasta. — Estamos indo contrabandear provas, gostou?
— Adorei. Posso me juntar a vocês nessa tarefa nobre?
— Claro. — Iasmin sorriu, escondendo a enorme tristeza que o baque da descoberta de uma possível traição lhe causara. Pensou consigo mesma: Será que não estava a colocar os carros frente aos bois? Talvez nada significasse as evidências que encontrou na cabine da irmã.
Falando no diabo... Iasmin engoliu seco ao ver Iolanda no fim do corredor. Ágil, agarrou os acompanhamentes pelo braço e os puxou até um alcova na entrada do salão de fumar da primeira classe, escondendo-os.
— Iasmin!? Meu vestido!
— Cala essa boca, a cobra tá se arrastando pra cá.
Iolanda passou, virando a esquina no corredor, e eles retomaram seu caminho, caminhando velozes. Chegaram na sala da gráfica, e em dez minutos todas as cópias estavam prontas. A própria Iasmin fotocopiou todos os papéis, ajuntando-os por grupos em sacos plásticos impermeáveis. Tirou 3 cópias de cada papel, para garantir. Quando completou o serviço, rapidamente dirigiu-se ao cofre do balcão do comissário chefe, para guardar as cópias em um cofre que alugou na hora. Depois, guardou a segunda leva de cópias na cabine, no cofre atrás dos vestidos pendurados no armário embutido. Por último, teve a audácia de remover a grade de proteção do duto de calefação da sala de estar da cabine e lá escondeu o terceiro maço. Levaram vinte minutos para esconder todas as cópias, e logo, os três entraram no escritório do noivo traíra e devolveram os originais em seus lugares de origem.
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Escotilha Da Liberdade
General FictionEm uma viagem de navio da Espanha para o Brasil, a jovem advogada Iasmin se vê entre a cruz e a espada, tendo que decidir entre seguir uma vida infeliz casando com um homem que não ama, ou enfrentar a realidade, se entregando a uma imediata paixão a...