4. Flagrante

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O dia se passou calmamente, nada de anormal no navio. As mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas e com as mesmas conversas vulgares e intrometidas sobre as vidas alheias nas instalações da primeira classe. Ao cair da noite, todos se preparavam para o jantar. 

Iasmin arrancou uma folhinha do calendário na parede. Dia 3 de setembro de 1981. O relógio marcava 18 horas e tanto a advogada como a atriz não estavam com nenhuma vontade de se retirarem de seu camarote duplo de primeira classe, no convés B, onde se localizavam os mais luxuosos de todo o Princesa Isabel. Iolanda praticamente invadiu a cabine, como se fosse convidada para estar ali presente. 

— Boa noite, prontas?

— Iolanda... — A advogada levantou e serviu-se de um copo de água. — Não estou com a mínima vontade de sair hoje, pretendo comer na cabine mesmo. 

— O clima está agradável hoje, vamos!

— Só se for para você! Está começando a esfriar...

Júlia se levantou da cama, onde estava sentada lendo uma revista qualquer, subtraída da biblioteca. — Vamos, Iasmin, tenho um motivo especial para sair hoje. 

Iolanda sorriu, maliciosamente. — Parece que o capitão não mexe apenas com os comandos do navio, não é, Villanueva? 

Júlia apenas revirou os olhos, limitando-se apenas a olhar para ela desprezadamente. Por fim, Iasmin levantou-se e se trocou em 5 minutos. Iolanda quase caiu para trás. 

— Calças compridas, Iasmin? Nos jantares do navio deve-se usar vestidos, deve-se estrear um vestido novo todo dia e...

— Nos jantares do navio, deve-se cuidar de sua vida, sabia? — Júlia fechou a gaveta da penteadeira com força. Iolanda não teve tempo de responder pois um camareiro do navio bateu na porta. 

— Está aberta. 

— Encomenda para a Senhorita Júlia. 

Um buquê de rosas vermelhas ENORMES fora depositado na mesa de café da manhã, e Júlia tomou o cartão em mãos. A herdeira dos Reyes apenas fechou a porta e esperou a amiga ler o bilhete.

— "Júlia. Sinto muito pelo jeito catastrófico em que nossa agradável conversa terminou ontem pela manhã. Espero ter mais de um milhão de oportunidades de passar com você novamente. Com carinho, Arthur." — A atriz dobrou o bilhete ao meio e o depositou no envelope de novo, incrédula. Apenas o atirou na mesa, tirou as flores murchas do vaso e colocou as rosas.

— Fisgou um peixão, hein? — Iolanda forçou intimidade, dando um tapinha no braço da atriz. 

— Fisguei. Arrume um pra você, talvez assim você fique menos... entediada. 

— Qual foi, atriz? Se bem que você anda meio safada, não? Sabe, diziam que a sua mãe era assim, meio... solta. 

Júlia era um poço de paciência, até mexerem com os seus. Pegou a outra pelo braço violentamente e a sacudiu. — Qual é a tua, hein? 

Iasmin se enfiou no meio, empurrando as duas para lados opostos. — PAROU! Iolanda, você foi muito arrogante com a Júlia, que é minha amiga, e comigo também ao vir sem ser convidada. Realmente o clima não está bom para suas palhaçadas. Você passou dois ou três dias trancada na sua cabine, perdendo seu tempo precioso, mas vir aqui despejar o seu veneno acumulado também não rola, então dá licença, obrigada. — Sem deixar oportunidade de reação, Iasmin empurrou a irmã para o corredor e fechou a porta. 

Ao ser jogada no corredor, Iolanda caiu sobre uma cadeira. Pareceu um conto de fadas quando Carlos Enrique apareceu magicamente e lhe estendeu a mão. — Você se machucou?

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