11. Verdades

12 1 4
                                    

Ninguém pode negar que os homens do recinto e Júlia Villanueva ficaram surpresos com a atitude de Iasmin. Altiva e muito dona de si prosseguiu.

— Assim que cruzarmos a linha do Equador, acontecerá o casamento, então eu quero tudo preparado. Carlos, você pode sair agora. Os outros, me acompanhem se possível.

Sem protestar, Carlos levantou, ainda que reclamando pelos cotovelos, e se retirou do salão.

*****

Na ponta de comando, Iasmin observava a integridade do equipamento.

— Eu acho que temos alguns equívocos quanto aos nossos cálculos... — Anotando números em seu caderno, o engenheiro Banderas olhava confuso para as folhas de papel e os mapas. — Aonde estamos exatamente? O navio fez a volta e saiu do curso tantas vezes...

Sem dizer nada, Arthur esticou o braço e girou a manopla do telégrafo para "Deadly Slow". Assim que o navio diminuiu a velocidade, o capitão olhou para os lados, para o céu, para os mapas e demais equipamentos de localização e anotou as coordenadas em um papel, entregando para o engenheiro. Antônio voltou a calcular. 

— Estamos á exatas 26 horas da linha do Equador, navegando na velocidade de 20 nós. São 910 quilômetros.

— Então, estarei me casando amanhã, ao meio dia... — Iasmin fitou o mar no horizonte, observando a imensidão do azul. — Mas não quero me casar no salão de jantar...

*****

— Meu deus do céu! 

Andando de braços abertos pelo lounge vazio, localizado no Deque Dos Botes, o mais alto do navio. A cúpula retângular servia o grande salão de abundante luz natural e iluminava o ambiente esplendorosamente. Funcionários do navio haviam limpado o mesmo e retirado a maioria dos móveis, dispondo as cadeiras em fileiras em frente ao altar montado no fundo do ambiente. Júlia seguiu a amiga, olhando para os lados. 

— "Min", você não acha que o lugar é pequeno para tanta gente? 

— Não, apenas a primeira classe estará aqui. 

— Que feio, Iasmin, fazendo distinção de classes...

— Não, Júlia, não... — A advogada se virou e repousou as mãos nos ombros da loira. — Eu não quero mil e oitocentas pessoas observando o meu fracasso. E terá festa em todas as classes, não se preocupe com os menos afortunados.

Inundando o local com a lama de sua presença, Carlos entrou no lounge. — Iasmin, nós precisamos conversar. 

— Mas que inferno...

Em passos firmes, Iasmin seguiu para o convés dos botes, observando os pequenos barcos pendurados pelos guindastes de ferro. 

— Iasmin, eu queria falar com você sobre...

— Desde quando, Carlos. — Direta e implacável, Iasmin foi direto ao ponto.

— Foi apenas aquela vez, e nós nem chegamos...

Mostrando em sua face triste o desgosto pelo noivo, Iasmin se aproximou de forma violenta do mesmo. — Você mente, Carlos Enrique. Você é um desgraçado! Você não precisa mentir para mim, não, eu não sou estúpida como você pensa. Eu sempre percebi.

— Pe...percebeu?

— Quem não percebe? Iolanda sempre viveu apaixonada por você, sempre suspirando pelos cantos, olhando você com aqueles olhos de quem deseja, de quem seduz, de quem quer tomar para si. E nunca negou, uma vez ouvi uma conversa na extensão do telefone onde ela dizia com todas as palavras que ela é louca pra tomar você de mim. Ela nunca te falou?

Escotilha Da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora