12. Vestido De Noiva

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Domingo, 13 de Setembro de 1981. Sete horas da manhã.

Domingo de sol no Oceano Atlântico. O "Isabelita" agora estava 170 quilômetros distante da linha do Equador. A missa das 6h30, celebrada pelo capitão todos os domingos, era aberta a todas as classes. Arthur havia acabado o ato religioso há cerca de cinco minutos, e quando se despedia dos últimos passageiros, um operário da sala de máquinas chegou apressado, e sussurrou um recado ao seu ouvido. O comandante correu para a ponte de comando, entrou na casa do leme e apertou o botão que ligava o microfone. Segundos depois, o movimento nos corredores parava com o seguinte recado. 

"Atenção, senhores passageiros do SS Princesa Isabel De España, aqui é o capitão Arthur Magno. Informo para fins informativos que faremos uma pequena parada para a manutenção do maquinário. Não há motivo para pânico, e o trânsito pelos corredores segue livre."

— O que pode ser isso? — Iasmin, que tomava seu desjejum com Júlia e Matheus no Café Varanda, segurou os braços da cadeira na intenção de se levantar, mas voltou a repousar assim que o recado foi dado e o microfone da ponte, mutado mais uma vez. 

Matheus, pensativo, compartilhou sua conclusão com as duas: — Talvez o tal tubo da hélice de estibordo tenha apresentado mais algum defeito, já que o navio navegou acima dos 24 nós nos últimos dias na intenção de compensar o atraso. 

— Que estupidez, tudo em vão... — Júlia negou com a cabeça, descontente com a situação. Seu contrato com a rede de televisão espanhola poderia ser afetado pelo atraso. — Deveríamos ter aportado no dia 8, e estamos no dia 13. Que vergonha, vocês não acham?

— Com toda certeza, Jujuba. — Iasmin serviu-se de café, contido em um mimoso bule de porcelana. — Depois que eu assumir essa companhia, vou começar a colocar ordem nessa zona... Quer dizer, isso se nós sequer chegarmos à São Paulo, porquê do jeito que as coisas andam, é capaz de...

Em um ato de descuido, Iasmin derrubou o pequeno bule na mesa, e a peça rolou até o chão e se espatifou. Os três se olharam, pensando a mesma coisa: mau-presságio. 

*****

— Vai demorar muito esse reparo, Banderas? — Carlos secava a face suada pelo vapor da sala de máquinas com um lenço branco. 

— Vai demorar umas quatro horas, o trabalho de soldagem deve ser feito com cautela e tem que ser minunciosamente concluído. As baterias vão dar conta de segurar a eletricidade por esse tempo, mas os luxos devem ser cortados. Tudo o que não for necessário deve ser cortado. 

Revirando os olhos, o presidente da VML se conteve apenas em concordar. — Tá, façam o que puderem.

Carlos subiu até a ponte de comando, onde Arthur repousava os braços sobre o guarda-corpo da passarela de estibordo, observando o mar.

— Diga, Carlos?

— Eaí, como que fica? Nós temos muito em jogo nessa viagem, Arthur... 

— Como se eu não soubesse. Poderíamos ter chegado antes do prazo se não houvessem tantas complicações. 

— Capitão Magno, é o seguinte. — Carlos cruzou os braços, virando as costas para o mar. — Eu já tive muitos problemas nessa travessia e eu quero tentar seguir tudo em paz a partir daqui. 

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