5. Fogo!

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Iolanda desfilou exibida pelo salão. Alguns comentavam a pouca vergonha, outros estavam adorando. Iasmin ficou arrebatada de vergonha, queria se enfiar embaixo da mesa. Assim que a irmã se sentou, colocou sobre ela seu sobretudo.

— Você enfiou a noção no rabo? Onde diabos você acha que você está? Mamãe te mataria se te visse agora, Iolanda!

— Mamãe não está aqui, querida. — Iolanda disse dócilmente e sorriu para os demais.

Iasmin voltou a se sentar. O jantar logo foi servido. A cozinha do navio oferecia dezenas de pratos. Fora o salão de jantar, também havia a bordo o Restaurante A La Carte, onde os passageiros podiam pedir qualquer prato 24 horas por dia, e o Café Varanda, um café todo tematizado com plantas e heras trepadeiras (naturais), e seu próprio convés de passeio. Iasmin pediu o prato de massas do dia, e Júlia, uma sopa qualquer. Iolanda se aventurava em um bife do tamanho de um trem, e os demais, experimentavam o cordeiro, muito popular entre os velhos jogadores de baralho do navio.

Quando todos estavam se alimentando, e a champanhe corria solta, as conversas começaram. Primeiro, falaram sobre a decoração, depois, das máquinas, e em seguida, o assunto voltou para o incidente do dia anterior.

— Arthur, conte-nos. — Disse Carlos, repousando os talheres na beira do prato. — O que foi aquilo ontem?

Na voz do empresário, notava-se o tom sútil de descontentamento e grande curiosidade.

O comandante logo se pôs a falar, gesticulando.

— Nosso moderno sistema de radar, Carlos, tão defendido por alguns, fez com que nosso navio mudasse violentamente o curso, indo em direção a costa, algo que não estava programado. Perdemos incontáveis horas de curso, o que nos causará um atraso de no mínimo um dia. O navio se chocou violentamente com a rochas submersas, mas apenas um pequeno buraco foi aberto no casco. Em duas horas, o navio já estava selado de novo. Temos homens muito competentes, ele usaram das melhores técnicas para consertar o dano em tempo relâmpago.

Júlia ouvia tudo atentamente. Lembrava da voz máscula e firme do capitão, ordenando a manobra brusca do leme a fim de evitar a colisão, seus gestos, a correria da ponte de comando... Era como se aquele homem brilhasse! Antes que pudesse perceber, a atriz já estava louca de paixão pelo comandante.

— Oh, novelista? — Iolanda estalava os dedos, já alta pelas inúmeras taças consumidas no jantar.

Júlia voltou a atenção para ela. — Pois não?

— Tá na lua?

— Não, estava prestando atenção no capitão e sua explicação.

— Quanto interesse, hein...

Prevendo o desastre, Iasmin se adiantou: — Eu acho natural, porquê não se interessar? Estamos todos a bordo do navio.

Iolanda riu, estava a beira do desequilíbrio. Sua risada chamou a atenção de todos que estavam mais próximos. Preocupada, Iasmin colocou a mão no ombro da irmã, sussurrando:

— Você bebeu demais, vou lhe acompanhar a sua cabine, sim?

— Qual foi? Deu pra bancar a preocupada agora?

— Eu não quero que você dê escândalo aqui no meio de todos!

— Tá bom, tá bom. — Iolanda secou mais uma taça.

O jantar seguiu normalmente. Quando os pratos começaram a ser recolhidos, um pequeno tremor pode ser sentido. Taças empilhadas em pirâmide no centro do salão tremeram, e logo, as luzes se apagaram. Pode-se ouvir murmúrios em meio aos passageiros, e barulhos de cadeiras sendo arrastadas. Todos então ficaram em silêncio. Logo, pôde-se ouvir os motores a parar, e o navio ficou imóvel. Tudo era silêncio.

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