Você vive, você aprende

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- Miguel, dá para sair da internet? Eu precisofazer uma ligação.

Mal havia deixado a mochila no quarto e ainda estava suja com o uniforme da escola, quando abri o escritório em que ficava o disputado computador. Apenas uma enorme caixa cinza, pesada e parecendo uma televisão de quatorze polegadas disputada entre meus irmãos e eu.

Miguel, no entanto, era meu irmão mais tranquilo. Filho do meio, um ano mais velho. Tinha certeza que ele era o filho preferido de meus pais. As glórias eram muitas: aos 19 anos já estava no segundo ano da faculdade. Enquanto Pedro e eu saímos, tínhamos amigos considerados suspeitos, mentíamos para viver a vida em ritmo alucinante, Miguel não.
Sem nem discutir, desligou a internet e passou pelo corredor por mim como se eu fosse invisível.

Fui para o quarto correndo e disquei para Lilian.

- Lilian, terminei com Bernardo!

- Está apaixonada por quem?

- Que?

- Ah não, para! É aquele lance ainda de não querer transar?

- É.

- Bom se você não quer, não quer. Ele te obrigou?

- Não, claro que não. Que horror! Eu que estou incomodada por não conseguir e achei melhor terminar.

- Quer que eu vá até aí? - Lilian falava com muita compreensão, mas conhecendo minha amiga há anos, eu achava que ela não estava entendendo nada. Só estava sendo boa para mim.

- Vem amanhã?

- Quer fazer alguma coisa especial?

- Vamos a locadora e depois fazemos um brigadeiro.

Trocamos beijos e desligamos o telefone. Me lembrei do show dos meninos. Senti uma ponta de ciúme. Me questionei se devia ir escondida, ou falar com meus pais.

Atravessei o corredor e entrei no quarto dos meus irmãos:

- Pedro? - Chamei pelo meu irmão.

- Já foi... - disse Miguel, enquanto jogava Super Mário no Nintendo 64.

- Você não vai? - Perguntei quase implorando por uma resposta positiva

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- Você não vai? - Perguntei quase implorando por uma resposta positiva.

Miguel me fitou incrédulo e eu saí dizendo apenas um deixa para lá desanimado.

Deitei no chão do quarto, com a cabeça perto de uma pilha de roupa sujas acumuladas da semana, braços e pernas disputando espaço com a quantidade de porcarias que não haviam encontrado seu caminho para os lugares e estavam morando no chão. Estendi o braço e peguei o discman que estava sobre a mesa de televisão do meu quarto. "Jagged Little Pill" de Alanis Morissette, já estava dentro do aparelho, fones de ouvido e enquanto ouvia "You Learn". Tentei não chorar.

Garota AzedaOnde histórias criam vida. Descubra agora