Por que você não se lembra do meu nome?

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- Gente, não estou no clima de festas. – Murmurei, me escorando na parede bege, encardida e chapiscada do corredor do quinto andar que dava para o elevador.

Já estávamos no prédio de Soraia que deveria ser a última parada antes de chegarmos ao objetivo final estabelecido por ela: ir para qualquer lugar com cerveja. Entre ligações para conhecidos que Soraia fez de um telefone fixo, puxando um bloquinho de anotações da bolsa, descobriu que uma galera conhecida, se sabe lá de que noite, ia para a DDC, uma nova festa alternativa que começava a ganhar fama entre a galera do rock.

As meninas me ignoraram por completo enquanto eu relutava para sair. Soraia pouco se importava a respeito de como eu me sentia acerca dos acontecimentos que mal completavam vinte e quatro horas. E Lilian, sempre se sentira tão ofuscada pela presença da outra garota, que não tinha nem forças para lutar contra as ideias dela. Além do que, eu sabia que no fundo, passar a noite bebendo e dançando a agradava muito.

Decidi que iria vestida como bem entendesse. E essa foi a primeira vez que utilizei esse recurso, o qual eu recorreria inúmeras vezes depois: o de sair com qualquer roupa para atrair ninguém, ou alguém louco o suficiente para puxar assunto comigo.

A DDC acontecia no centro da cidade e atraía uma legião de desajustados em busca de música boa e bebida barata. O prédio que fora construído em 1911 com uma arquitetura inspirada no art nouveau e azulejos europeus, tinha virado um antro de ratos e coisas não muito ortodoxas. No fim de semana, seus andares eram abarrotados pela galera que procurava algo diferente. Um lugar que um dia fora magnifico e ponto de encontro da elite da cidade, totalmente zoado pelo os anos noventa e a decadência da nossa geração.

 Um lugar que um dia fora magnifico e ponto de encontro da elite da cidade, totalmente zoado pelo os anos noventa e a decadência da nossa geração

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Já estávamos em Laranjal, bairro que as meninas moravam e agora nos bastava apenas pegar o metrô e descer na Estação Fluminense.

Soraia, antes mesmo de chegar a porta da estação, já havia começado a "peregrinação do álcool", como costumávamos chamar a busca pela bebida barata nas nossas saídas. Nesse meio tempo, Lilian correu para o McDonalds a fim de beliscar umas batatas com milkshake, para aguentar o tranco da noite. Era pesado, sempre era.

Eu, cá no meu canto, carregava uma bigorna no estômago e fumava meu segundo cigarro do dia. Nos reunimos em frente a Galeria Falcon, cada uma portando sua bengala emocional e atravessamos a rua. Esperamos na calçada da saída do metrô o fim do meu cigarro e da cerveja de Soraia.

Sou excelente fisionomista, e já tinha visto o cara que passou ao meu lado algumas vezes na Escola de Música, especialmente às sextas-feiras. De longe, sem nenhum dos dois dar muita atenção ao outro. O que me chamou atenção foi a blusa do Radiohead. Meu deus, como ele poderia ter conseguido aquilo, se a banda só tinha dois discos lançados na distante Inglaterra. A capa de Creep impressa na camisa preta. Devo ter dado uma olhada mais demorada que o esperado, pois seus olhos puxados pretos bateram nos meus. Abaixei a cabeça.

Garota AzedaOnde histórias criam vida. Descubra agora