Prólogo

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Os passos dela foram milimetricamente calculados. Ela sabia exatamente quantos deles precisaria dar para chegar até o balcão.

Tudo havia sido meticulosamente planejado, desde os óculos de armações e lentes grossas, o moletom velho e os tênis baratos e gasto até bolsa estilo mensageiro.

Por sob as lentes grossas os olhos azuis brilhantes e treinados monitoraram tudo ao redor, desde a criança que jogava as frutas do prato debaixo da mesa enquanto seus pais estavam distraídos demais com seus celulares, até ao casal de adolescentes em um canto sussurrando palavras apaixonadas um para o outro enquanto o rapaz da mesa ao lado disfarçadamente deslizava a mão para dentro da bolsa da garota.

Os olhos alegres, o sorriso tímido nos lábios e o cabelo loiro dourado delicadamente trançado que caia sobre o ombro direito davam a ela a aparência de uma mulher inocente e tímida.

Kara deslizou para o banco alto de madeira e apoio os cotovelos sobre o balcão.

— Um café, por favor– Ela pediu ao barista.

A bebida quente foi colocada na frente de Kara e ela levou a xícara aos lábios e fingiu beber.

Ela odiava café, apesar de o cheiro ser estranhamente maravilhoso.

Ela retirou um celular antigo e surrado do bolso e deslizou o dedo pela tela.

Na parte superior o aviso de uma mensagem de um número desconhecido chamava a atenção e ela clicou para abrir.

Gisele Bündchen deslizando pela passarela.

Kara quase revirou os olhos. Quase.

Os ouvidos dela captaram o som quando a porta da cafeteria foi aberta e saltos clicaram pelo piso branco.

Quando a mulher passou por Kara em direção ao banheiro, ela se reajustou na cadeira para guardar o aparelho celular no bolso novamente.

Então alguém se chocou subitamente contra o ombro direito dela e um líquido quente encharcou imediatamente a blusa moletom que Kara vestia.

Ela trincou os dentes.

—Oh meu deus!– Kara ergueu os olhos para encontrar uma mulher morena e de olhos arregalados olhando para ela– Eu sinto muito!

— Está tudo bem– Ela assegurou enquanto se levantava.

Ela podia sentir a atenção das pessoas migrando para elas.

—Não, por favor, deixe me ajudá-la a se limpar – A mulher agarrou a mão de Kara e começou a arrastá-la em direção ao banheiro.

Então ela entendeu.

O banheiro era pequeno e havia apenas um espelho retangular sobre as únicas duas pias, um dos três boxes ao fundo estava ocupado.

— Eu sou tão desastrada!– A mulher sorriu nervosamente antes de puxar um maço de papéis de enxugar a mão da caixa na parede e começar a esfregá-los na mancha de café no braço de Kara.

—Não se preocupe, eu entendo – Kara sorriu. — Não sou a pessoas mais coordenada da cidade.

No boxe ocupado alguém puxou a descarga.

—Bom, você é a quarta pessoas essa semana. Não acho que você seja tão descoordenada assim.

A porta do box abriu e a mulher de blusa moletom e capuz caminhou até o lavatório.

Kara gemeu internamente.

Ah, não. Elas não eram nenhum pouco profissionais.

A mulher encapuzada se aproximou para lavar as mãos na pia ao lado de Kara e então de repente a mulher desastrada tropeçou novamente, aparentemente no piso e caiu em cima de Kara que caiu em cima da outra mulher.

Kara estendeu as mãos e apoiou o ombro da mulher que tinha caindo em cima dela e fingiu não sentir a mulher logo atrás dela deslizando algo no bolso da blusa dela.

— Oh, meu deus!– A mulher exclamou— Eu lhe disse que era desastrada!

—Desculpe– Kara se virou para a mulher de moletom em quem havia caído em cima.

A mulher apenas balançou a cabeça coberta pelo enorme capuz e saiu rapidamente do banheiro.

A outra terminou de ajudar Kara o mais rápido possível e em um piscar de olhos ela saiu pela porta também.

Com o banheiro vazio Kara retirou os óculos e encarou o próprio reflexo no espelho pequeno e sujo.

Ela levou a mão ao bolso do moletom e lentamente retirou um colar de diamantes de dentro.

Ela era uma criminosa agora.

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