Sinto muito, por desejar o que desejo.

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Hange se dirigia a sede do Reconhecimento depois de ter deixado minha casa. Sua cabeça ficada revendo esse momento que tivemos juntas e se sentia em paz por saber que aquela confusão havia acabado. Ela ainda não sabia

Passando pelas ruas do distrito, ela notava os detalhes de todas as coisas, olhos sempre atentos. As crianças que corriam brincando de pega-pega e o comercio que funcionava normalmente. Alguns cavalos passavam soltos pela rua, o sol estava alto e seus raios fritavam em sua pele. Seus pensamentos agora estavam focados em sobre como ela iria explicar toda aquela confusão. O relacionamento não foi surpresa para ninguém, mas Haru... Ela chacoalhou a cabeça tentando pensar direito, estava confusa, afinal. Como explicaria aquilo?

Seu passo apertou, no instante em que seu corpo se impulsionou para andar mais rápido, foi cortada pela voz que chamou bruscamente seu nome.

- Hange! - O capitão estava ao lado da porta de uma das casas, com o peso escorado em uma perna só e de braços cruzados.

- Onde você vai correndo assim, fundo de garrafa? - Levi a encarou com os olhos semicerrados. Ele parecia extremamente sério.

Hange engoliu em seco. - Ahh, e aí Levi? - Ela sorriu nervosa. - Eu estou indo para fazer meu relato sobre o que aconteceu. - Ela olhou para as próprias mãos. - E sobre a morte de Haru.

- A morte de Haru? - Levi a encarou. - Eles nunca acharam o corpo, Hange. Você não sabia?

Hange ficou pálida, o rosto nublou e ela cortou a respiração. Um misto de raiva e medo a consumiu, desde a ponta dos dedos dos pés até o ultimo fio de cabelo. Seu peito queimou.

Eu vou matar esse desgraçado.

- Levi, mas o que aconte... - Eu soube o que aconteceu. - Levi a cortou e levantou a mão como sinal para que ela o esperasse falar. - A tropa não chegou a tempo de pegá-lo, você saiu com tanta pressa que nem conferiu se estava morto mesmo. Hoje de manhã saíram de novo para fazer buscas. Eu tirei o dia de folga porque tenho uma coisa para você, foi difícil, mas o Erwin compreendeu.

Levi abriu a porta e entrou, Hange o seguiu.

A casa era escura e cheirava a mofo, como uma gaveta que não fora aberta por muito tempo. Não havia móveis ou qualquer outra decoração. Levi seguiu até um cômodo no fundo, onde havia uma porta. Ele entrou. A porta dava para uma escada que mostrava algo como um porão, só que mais fundo. Eram dois pedaços de escada, ela descia pela lateral de uma parede, virava e descia pela da frente.

- Levi! - Hange disse com desconfiança. - O que é isso?

- Hange... - Eles chegaram ao fundo. No centro da sala havia uma cadeira com uma pessoa, suas mãos pés estavam amarrados enquanto um lençol empoeirado cobria sua cabeça.

Levi se aproximou e puxou o pano velho, uma nuvem de poeira se levantou.

Hange olhou aquele rosto, em choque. Era ainda mais hediondo do que qualquer face imaginada por uma historia de terror. Estava desfigurado e consumido pelo ódio. Um rosnado brotou em seus lábios como uma rosa putrefata. Ele sorriu, um sorriso de escárnio marcado em seu rosto e que sempre estivera lá. Ela só não havia notado.

- Eu achei que você fosse querer terminar o serviço, Tenente. - Levi disse cobrindo novamente o rosto de Haru, tirando Hange da atmosfera enraivecida que a consumia.

A garganta dela fervia como ferro em brasa e todo seu corpo havia esquentado. Em algum lugar mais acima, água pingava e caia no chão perto deles, fazendo um eco que naquele silêncio, soava como aplausos do demônio.

Hange abaixou a cabeça e falou entre meio sorriso para Levi. - Ahh, você me conhece tão bem.

Levi estava sentado do lado de fora da porta, em cima. Era possível ouvir alguns sons abafados lá em baixo. Batidas secas. Ele conhecia aquela mulher o suficiente para saber que quem terminaria o serviço, seria ele. Hange sabia ser uma pessoa ruim, mas não era um monstro. Era só uma nerd muito animada e, ele queria essa pessoa de volta. Assim como Erwin, que concordou em segurarem Haru ali, o resto ele resolveria.

Embaixo, ela terminava seu trabalho.

- Parece que você precisou de uns pontos. - Haru disse sorrindo ligeiramente, mas o que ela fez logo em seguida o deixou sério novamente. Nas partes do seu rosto que haviam sido cortadas, haviam lascas de madeira presas e infeccionadas. Ela mexia em cada uma delas, não tirava, só as movimentava, um líquido branco e pastoso vazava dos ferimentos. Aquela dor direcionada consumiu todo o corpo do rapaz, ele podia senti-la no pescoço, maxilares, nas têmporas. Hange não falou uma palavra todo o tempo em que estivera ali.

Haru... Ela se lembrava de todos os anos em que passaram juntos, foram anos normais, afinal.

Eu sinto tanto, por desejar o que desejo.

Ela se virou e começou a subir as escadas. Haru entendeu e começou e gritar.

- Sua BOSTA! Foda-se, ah, sua miserável! ME DEIXE EM PAZ!

Ela parou. "Você devia ter deixado a minha garota em paz." Hange tentou gritar de volta - mas tudo que saiu foi um ofegar ferido e triste.

Levi se levantou enquanto esperava ela sair. - Você pode terminar para mim, Levi? - Ela disse com o olhar enevoado.

- Eu vou. Pode ir.

- Obrigada.

Hange deixou a casa e continuou seu caminho até a sede. Uma irritação brotava pela pontada de culpa que surgiu em seu peito. Mas não importava, ela ainda tentava admitir a ideia de que agora Haru havia finalmente morrido. Agora foi para valer, não?

Ela voltou seus pensamentos para nós duas. Meu Deus, nós ainda temos tanta coisa para fazer. Ainda nem saímos juntas, de pensar que isso quase acabou aqui... Se Levi não o tivesse encontrado.

Isso a fez recordar que eu estaria de volta ao trabalho em dois dias, seu coração esquentou e ela suspirou. Tudo voltaria ao normal?


continua...

Before Chaos - Hange ZoeOnde histórias criam vida. Descubra agora