Capítulo 07

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Pensar em deixar a Evelin foi doloroso. Eu gosto da nossa amizade, das nossas conversas, do jeito que ela me faz sentir o cara mais interessante do mundo. A gente têm uma conexão. Mas, de alguma forma, eu sinto que esse caminho não é para ser seguido ao lado dela. Talvez a Eve fique mais segura se não me acompanhar.

Em poucos dias, eu iria para um lugar distante demais para manter algum tipo de contato com ela. Não dava, não naquele momento. Eu não precisava de uma distração como aquela com todas as coisas acontecendo ao meu redor.

Mas eu precisava conversar com ela. A ideia de fazer mal a garota que esteve comigo nos meus momentos me deixava chateado, por isso, eu precisava conversar. Precisava explicar que o problema não era ela, definitivamente não.

O silêncio pairava pelo quarto e, dessa vez, não era um daqueles silêncios confortáveis que ela me proporcionava. Não. Esse demonstrava a conversa difícil que teríamos pela frente.

— Você tá diferente — ela começou a dizer, a voz tremendo levemente. — Tá acontecendo alguma coisa, gatinho?

Se eu te dissesse, você não acreditaria.

— Estão acontecendo muitas coisas comigo nesses... nesses últimos tempos, sabe? — falei, com a voz um pouco falha.

Minha cabeça voava longe, pensando numa forma de fazer com que aquela conversa não fosse tão ruim, mas parecia que já não tinha nada que eu falasse depois daquela frase que não fosse machucá-la por si só.

— Olha, Eve, eu não posso continuar aqui, com você. — falei, quase num impulso. Eu odeio rodeios. Precisava acabar logo com isso.

Ela se assustou. Acho que eu fui direto demais. Seu olhar buscava respostas em mim, mas eu não podia dar. Ela ficou um tempo em silêncio, tentando digerir o que eu tinha dito.

— Você... não precisa fazer isso — respondeu, depois de um tempo, soltando um daqueles sorrisos tímidos, tentando se recuperar do choque. — Eu tô aqui pro que der e vier, não vou me assustar com o que quer que você me mostre. Eu... eu gosto de você. Muito. — Ela voltou os olhos verdes para os meus, e foi aí que eu percebi que, para ela, era muito mais do que amizade. O brilho de esperança que existia antes no seu olhar, agora parecia ofuscado.

— Você... Desculpa, Eve. Você é uma amiga incrível. Gostava do que tínhamos. Eu só... preciso cuidar de algumas coisas.

Amiga... Aquela palavra saltou da minha boca de repente. Eu gostava dela. A Eve me intrigava, mas não o suficiente para que eu de fato quisesse algo a mais que só aquilo que nós já tínhamos. Eu não me via em um relacionamento com ela, mas achava que era recíproco. Pelo jeito que ela me olhou ao ouvir essa frase, não. Não era nada recíproco.

— Então é isso? Você vai simplesmente se afastar? — perguntou, agora com a voz embargada, tentando esconder o que estava sentindo.

Eu precisava ser firme, mas cada vez que eu falava, a culpa aumentava. Não podia contar a ela a verdade. Não agora. Havia coisas maiores em jogo, e proteger aqueles que são importantes para mim significava deixá-la no escuro, mesmo que isso a machucasse.

— Sim.

A expressão dela se tornou ainda mais triste, como se cada palavra minha fosse um golpe.

— Se é assim que você se sente — E deu uma risada sarcástica, com os olhos cheios de água. Eu nunca tinha visto ela chorar.

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