Capítulo 11

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Meu coração martelava como um tambor de guerra. O silêncio ali era sufocante, quebrado apenas pelo leve farfalhar das vestes sendo ajustadas por mãos precisas, mãos que sabiam exatamente o que fazer — ao contrário de mim. Eu não ousava erguer o olhar para os criados ao meu redor; havia algo neles, uma reverência, uma expectativa que, sinceramente, eu tinha medo de não corresponder.

Cada segundo que passava me fazia refletir que, de fato, eu sabia pouco demais sobre o que me aguardava dali para frente. Era como se o destino tivesse me puxado para um jogo que eu não fazia a menor ideia de como jogar, com regras que não me deram a chance de aprender. Talvez o Darlan tivesse razão, afinal.

Meu peito estava apertado, uma mistura de medo e expectativa — uma ansiedade que crescia cada vez que o acorde da música que vinha de fora, da praça onde os burburinhos e risos ansiosos das vozes começavam, de seres que esperavam o grande momento.

Era difícil acreditar no que estava acontecendo. Há pouco tempo, eu tinha uma vida tranquila e previsível, limitada às rotinas familiares da cidade onde eu cresci. Tudo era tão simples, tão seguro. E agora... agora eu estava aqui, num mundo estranho e imenso, sendo vestido para um ritual que parecia sair direto de uma lenda. Um mundo que, segundo um livro esquecido no porão da minha casa, eu era destinado a proteger.

— O que te aflige tanto, Príncipe? — Uma senhora de cabelos curtos, brancos e encaracolados perguntou. Como se lesse os meus pensamentos, ela continuou. — Você sente como se tivesse sido jogado em um papel que não escolheu, não é? Como se, de repente, o mundo te exigisse uma força que ainda não sabe se tem. — A voz dela era calma, quase como um sussurro, mas tinha a segurança de quem já viu gerações de príncipes enfrentarem o desconhecido.

Acenei com a cabeça em um suspiro, lutando para encontrar palavras que dessem conta daquela turbilhão dentro de mim. Mas não precisou. Ela continuou a dizer:

— Sua mãe também se sentiu assim quando seu pai a pediu em casamento. Ela também tinha medo do novo destino. — suspirou, como se lembrasse de toda a história. — Não foi fácil para ela vir para Fennoria sendo considerada uma humana impostora e deixar a sua vida na Terra de lado.

As palavras dela me pegaram de surpresa. Minha mãe, uma lembrança distante, quase inexistente, mas sempre carregada de um carinho familiar. Eu tentei imaginar a cena: ela, jovem e assustada, sendo levada a um destino que não conhecia, igual à mim.

— Ela hesitou? — perguntei, quase num sussurro, sem me dar conta de que estava verbalizando a pergunta.

A senhora sorriu, com aquele ar paciente de quem guarda memórias preciosas.

— Sim, por um instante — respondeu. — Mas assim que seu pai tomou sua mão e prometeu que estariam juntos, ela encontrou a força que precisava.

— O que aconteceu com ela? — A pergunta saltou da minha boca.

Sua expressão gradativamente se transformou em algo triste, mas ainda havia serenidade. — Ela desapareceu pouco antes de te levarem embora. Seu pai mandou procurarem por toda a Therralia, mas ninguém nunca a encontrou...

Uma pontada de tristeza percorreu o meu peito. Será que o desaparecimento dela tinha haver com aqueles que o Livro narrou? A ideia de que ela ainda poderia estar por aí, perdida, me fez estremecer. Um turbilhão de perguntas começaram a borbulhar na minha cabeça. Talvez, se ela ainda estivesse aqui, as coisas teriam sido diferentes. Talvez eu nunca tivesse ido para a Terra, e só talvez, eu estaria apto para aceitar o meu destino.

— Sabe, Príncipe... nem sempre temos todas as respostas, mas com o tempo você as encontrará. Talvez o peso do destino seja algo que se torna mais leve com as pessoas que escolhemos ao nosso lado. Foque nisso.

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