Capítulo 13

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Respirei fundo mais uma vez o ar leve de Fennoria, enquanto observava as ondas quebrarem ao longe, fazendo a maré chegar em pequenas ondinhas nos meus pés, que estavam enterrados na areia. A Praia dos Caranguejos, que deságua no Mar Velho, tinha se tornado o meu lugar preferido em toda a Província de Rivária.

As palavras da Fada ecoavam na minha cabeça, confusas. Ela havia insinuado que o castelo era um ninho de cobras, mas quem eram as cobras? O meu irmão? Por quê? Eram muitas perguntas e, como príncipe, eu deveria saber as respostas. Precisava conversar com Darina. Se algo errado estava acontecendo, eu precisava saber.

O sol não estava tão forte, faltavam poucas horas para escurecer. Admirar o horizonte azul e ouvir a melodia das ondas do mar era quase como um tranquilizante a transição que eu estava vivendo; era bom dar uma pausa de toda loucura, poder respirar um pouco. No entanto, eu precisava voltar. Em algumas horas, uma reunião importante sobre a segurança de toda a Lighard seria feita, e eu precisava estar lá. Respirei fundo, me preparando mentalmente.

O que eu deixei passar?

☙☙☙

O salão de reuniões estava grandioso, decorado com bandeiras que representavam cada Condado de Lighard. As paredes eram adornadas com tapestries que contavam a história de união do nosso reino, uma lembrança constante do que precisávamos proteger. Os governantes dos Condados estavam reunidos ao redor de uma grande mesa redonda abastecida com os mais variados tipos de comida, suas expressões variando entre determinação e preocupação. Era um momento crucial, pois o assunto era a segurança do Mar Médio, um dos principais pontos estratégicos de defesa de Lighard que havia sido comprometida, deixando-o vulnerável a invasões de outras nações, principalmente de Terora, cujo rei era o próprio Tenos.

Eu estava sentado ao lado do meu irmão, o então representante de Fennoria. Ele parecia mais relaxado do que deveria, como se estivesse aguardando um espetáculo. As conversas aumentavam cada vez mais o tom, mas notei que seus olhos passavam de um Conselheiro para outro, quase como se estivesse observando as reações deles ao invés de contribuir com soluções. À medida que a discussão prosseguia, ele finalmente fez seu primeiro movimento.

— A questão aqui não é apenas o Mar Médio, é? — ele comentou, dirigindo-se ao representante de Ravina, cujo Condado era o principal fornecedor de tropas para aquela região. — Se as forças de Ravina tivessem sido mais diligentes, talvez essa situação nunca tivesse chegado a este ponto.

O representante, um homem de rosto endurecido pelo tempo, franziu o cenho, irritado. — Estamos fazendo o melhor com os recursos que temos, Darlan. E se os suprimentos de Dornell não tivessem demorado tanto a chegar, não teríamos essa vulnerabilidade.

O clima no salão esquentou, e alguns Conselheiros começaram a trocar olhares de desconfiança. Vi a satisfação disfarçada no rosto de Darlan enquanto o representante de Ravina continuava a atacar a eficiência dos demais Condados. Darlan sorria sutilmente, como se a confusão fosse uma brisa suave de primavera, enquanto os ânimos se acirravam.

Eu intervi, tentando dissipar o ambiente carregado. — Senhores, precisamos lembrar que estamos aqui pelo mesmo objetivo: proteger o Mar Médio e nosso povo. Se continuarmos a nos culpar, não encontraremos uma solução.

Eu estava pegando o jeito, afinal.

Mas Darlan não recuou, ao contrário. Voltou-se para o representante de Belvora com uma expressão que transmitia preocupação, mas suas palavras estavam repletas de insinuações sutis. — Todos queremos o melhor, Arthur. Mas quem pode garantir que nenhum de nós está... desleixado? Os relatórios da guarda de Belvora, por exemplo, têm estado incompletos ultimamente. Quem pode dizer se a mesma dedicação ainda existe?

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