Chapter 5 - A gente junto

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[Como foi hoje?]

Era o terceiro dia que Kageyama me ligava depois do trabalho, todos os dias fazia a mesma pergunta clichê, não seria nada de se estranhar a princípio, exceto quando se lembra de que ele pode estar tentando se manter informado da rotina do banco.

— Você é muito interessado no meu trabalho. Foi igual a ontem, os clientes gritando indignados por algo, bebês chorando na fila, Kenma estourando as veias da testa quando ninguém lhe escuta, o mesmo de sempre.

[Parece divertido]

— Essa não seria a melhor definição, mas tudo bem. – Prenso o celular entre o ombro e o rosto enquanto pego uma caixa de leite da geladeira e despejo em um copo. – E você? Como está no seu trabalho extrema e perigosamente secreto? – Me acostumei a brincar com as palavras sempre que faço perguntas diretas demais e já sei que não serão respondidas.

[Shoyo... você sabe que-]

  — Sim, sim, eu sei.

Suporto o fato que ele não queira me contar toda história de uma vez por trás dos acontecimentos daquele dia, ele deixa claro que tudo está ligado com sua vida pessoal e pode ser perigoso, é óbvio que também está com medo da minha reação. Entendo, mas mesmo assim não deixarei de perguntar. Também tenho o direito de saber quem é a pessoa que me liga todos os dias me dizendo estar com saudade daquele dia, apesar de ambos saberem que não é só do sexo que ele sente falta.

Perguntei o porquê ele me protegeu e nunca vou esquecer seu rosto envergonhado me xingando e confessando seu interesse em mim, depois disso, imagino que posso fazer com que ele se abra se fizer as perguntas certas. Não o questiono com frequência para que não fiquemos com um climão, porém me da a impressão que se eu não perguntar sobre ele, fico o tempo todo falando sobre mim enquanto ele apenas me escuta em silêncio, me deixa meio inseguro sobre o que se passa em sua mente nessas horas mas não detesto inteiramente. Ver seu rosto singelo apenas me encarar com atenção, seria um pecado dizer que não é fofo.

[Quer ir em algum lugar esse final de semana?]

  — Hmm, pergunta direito.

Aprendi a me fazer de difícil também, meu orgulho precisa ser amaciado de vez em quando, e ele não parece se importar em me mimar, embora possa ver seu lado marrento quando o provoco suficiente, e é claro que eu vou provocar agora.

[Como supostamente eu "perguntaria direito"?]

  — Você tem que me pedir para sair com você. – Silêncio. – Tobio?

[Você parece uma adolescente virgem assim.]

  — Ultimamente me sinto assim com muita frequência. – Afasto o celular do rosto e solicito mudar para chamada de vídeo. – Mas se não me pedir eu não vou.

[Não quero ver sua cara feia. – Recusa o pedido.]

Hoje ele está está particularmente mais fácil de irritar.

— Atenda para ver quem está feio! Está com vergonha agora? – Processo uma excelente provocação. – Ah, claro que está. Deve estar todo vermelho e sem jeito para me olhar enquanto me pede para SAIR COM VOCÊ! – Recebo uma solicitação de chamada de vídeo. Tão simples. – Então pode me encarar ago-

Perco a voz, para não dizer que ela praticamente morreu, assim que a conexão estabelece. Ele está com os cabelos lisos molhados e colados na testa, alguns fios chegam até a altura dos olhos cor de mirtilo, o formato de seu rosto é tão angelical que quase me fez esquecer quantas linhas de expressões o marcam quando fica irritado comigo, suas bochechas estão rubras e começo a sentir as minhas ganharem a mesma tonalidade assim que paro meu olhar em sua boca, ele está forçando os lábios em um claro sinal de vergonha. Deveria ser proibido alguém ser tão lindo a ponto de que sentimos vontade de beijar até a pontinha de seu nariz. Meus olhos descem um pouco mais, ele está vestindo um moletom um azul-escuro, um pouco mais desbotado que a cor de suas íris, paro o olhar na gola levemente caída, consigo ver a marquinha de sua clavícula.

I'm not scared - KagehinaOnde histórias criam vida. Descubra agora