Chapter 4 - Os irmãos Pólux e Cástor

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Ele não pode? O que isso significa?

A brisa gélida da noite bate contra minha pele e faz meus pelos do braço arrepiarem, me viro para encará-lo mesmo com meus cabelos atrapalhando, já está escuro suficiente para que seja necessário forçar a visão para lhe fitar nos olhos, mas não ouso piscar nem por um segundo. Por dentro quero gritar com ele, quero cobrar explicações, mas, porque minha boca não abre?

Porra... eu não entendo, eu não te entendo Kageyama.

Viro para a vista aberta. Todas as luzes da cidade estão acessas, todas de cores diferentes ou um simples branco. Geralmente fico mais feliz quando vejo tantas cores bonitas juntas, a paisagem é realmente romântica, mas nada, que aconteceu entre nós, combina com isso. Olho para cima e vejo a noite estrelada, não me lembro de ter visto tantas estrelas em Kanto antes.

— Consegue ver a constelação de Gêmeos? – Ele quebra o silêncio.

Olho para onde está apontando. Não consigo ver, mas acredito que seja por não conseguir diferenciar uma estrela da outra e também não saber nada sobre o assunto.

— Kageyama... Por que me protegeu?

Não o olho mais, sei exatamente a cara desentendida que está esbanjando. Não quero vê-la.

— Digo, do assalto daquele dia. – Não ganho uma resposta então continuo. – Poderia ter me contado-

— Você contaria? – Sem pensar duas vezes me viro para ele. – O que você faria?

Suas íris estão bem dilatadas encarando a noite escura, o mesmo azul-escuro intenso, parecem tão perdidas nela que tenho vontade de agarrá-lo para que não me abandonasse. Seu cabelo moreno cai sobre seus olhos, não consigo mais o fitar. Ele está aqui, bem a meu lado, então, porque o sinto tão distante?

— "O que eu faria?" Como assim? – Pergunto.

— Você evitaria que uma pessoa passasse por uma situação perigosa?

  — Se eu pudesse, claro.

  — Mesmo que nem a conhecesse?

  — Eu já disse, é óbvio que-

  — Mesmo que essas coisas sejam normais para você? – Não respondo.

Já receberam um olhar tão sôfrego que lhe pareciam implorar para sufocar em seus braços? Foi com esse olhar que Kageyama me fitou, como se fosse encontrar alguma certeza em minhas respostas, como se quisesse confirmar suas escolhas, ele me suplicou com um único olhar.

Por que essa expressão tão desesperada? Por que seus olhos estão tão marejados? O que te machuca tanto? Por que me esconde tão profundamente toda sua agonia?

  — Mesmo sabendo que isso causaria problemas futuramente?! – Não fala muito alto, mas sinto como se sua alma gritasse. – Mesmo sabendo que seria idiotice fazer isso?!?!

— Se você pudesse evitar, deixaria que alguém corresse perigo? – Tento parecer simples. – Bem, provavelmente já foi assim, entretanto, esse não foi meu caso. – Me inclino em sua direção. – Então... por que por mim? Por que fez por mim?

Sem nenhum sinal de intenção a responder. Muito pelo contrário. Se afastou mais e apoiou as mãos no rosto. Não vou arrancar mais nada dele.

"Normal". Seria normal se fosse eu a ser baleado, não seria nada de diferente do que acontece no dia a dia dele. Ele não sentiria nada, nem mesmo remorço.
O quão estúpido estou sendo vindo aqui?

— Você é muito idiota, Hinata. – Meu sangue ferve. Sim, eu sou. Ameaço protestar mas ele continua. – Eu gostei de você, seu imbecil.

E como se tivesse acabado de receber minha primeira declaração na adolescência, minhas bochechas queimam, porém, esfriam rapidamente de novo. Não consigo me sentir mais ridículo que agora.

I'm not scared - KagehinaOnde histórias criam vida. Descubra agora