Anos depois

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- Entendi. Em vez de lidar com os problemas, você fugiu de tudo.

- Isso, fugi dos meus problemas...e da Sarah.

- Nunca mais falou com ela?

- Depois que me mudei, foram vários meses sem nenhum contato. Eu me sentia muito culpada por ter agido daquele jeito. Depois de um tempo, quando recuperei a razão, tentei procurá-la para pedir desculpas, mas era tarde demais. Ela não queria me ver nem falar comigo. E não passo culpa-lá por isso. Sarah havia seguido a vida, andava com outras pessoas e acabou se mudando para o Rio de Janeiro, depois que se formou no ensino médio. Perdemos contato, mas, aparentemente, ela se manteve próxima da minha avó. Ela era como uma segunda mãe para Sarah.

- Sabe o que aconteceu com ela?

- Nunca procurei saber. Sempre tive medo de descobrir.

- Bom, temos que cuidar disso já. - Gil apoiou o garfo sobre a embalagem de comida e pegou o celular da bolsa.

- Ei, o que você está fazendo?

- Você sabe que me autoproclamei stalker profissional. - ele sorriu. - Vou procurar ela no Instagram. Sarah Andrade.. é esse o nome? E ela mora no Rio de Janeiro? Na cidade?

Cobri os olhos com as mãos.

- Não posso olhar, não vou olhar, e deve haver uma centena de mulheres chamadas Sarah Andrade. Você não vai conseguir encontrá-la.

- Como ela é?

- Na última vez que a vi, ela tinha dezesseis anos. E claro que deve ter mudado. Mas o cabelo era loiro escuro.

Ela era linda. Ainda consigo me lembrar de seu rosto como se fosse ontem. Nunca iria esquecer. Gil lia em voz alta as informações das diferentes Sarah que apareciam nos resultados de busca. Nada chamava minha atenção.

Até que ela disse: Sarah Andrade/ Rio de Janeiro música-

Meu coração parou e, surpresa, senti lágrimas tentando abrir caminho e ultrapassar a barreira das pálpebras. As emoções vieram à tona imediatamente Inquietante. Era como se ela houvesse voltado dos mortos

- O que foi que disse? Onde ela trabalha?

- Sarah Caroline. É ela?

Eu não conseguia formar as palavras, por isso fiquei quieta, enquanto pensava naquele nome. O mesmo que ela sempre havia usado quando era garota e tocava violão na esquina da rua onde morávamos.

- É ela. -por fim, admiti.

- Meu Deus, JULIETTE.

Meu coração começou a bater mais depressa.

- Que foi?

-A garota é..

-O quê? Fala!- praticamente gritei antes de beber o que sobrava da água.

- Ela é.. linda. Absolutamente linda.

Cobri o rosto com as mãos.

- Pelo amor de Deus, não me fala isso.

- Dá uma olhada

- Não posso.

Antes que eu recusasse de novo, Gil colocou o celular na frente do meu rosto. Minhas mãos tremiam quando o peguei.

Meu Deus!

Por que fui olhar?

Pelo que dava para ver em uma foto, ela ainda era tão bonita como eu lembrava, mas, ao mesmo tempo, muito diferente. Adulta. Na foto do perfil, ela se debruçava sobre o violão e parecia pronta para cantar ao microfone. A expressão em seu rosto era tão intensa que me deu arrepios. Tentei ver outras fotos, mas o perfil era fechado.

Gil estendeu a mão para pegar o celular de volta

- Ela é cantora?

- Acho que sim - respondi ao devolver o aparelho.

Ela compunha canções para mim.

- Vai entrar em contato com ela?

- Não.

- Por que não?

- Acho que não saberia o que dizer. O que tiver que acontecer vai acontecer. Vou ter que falar com ela em algum momento. Só não Vou tomar a iniciativa.

- E como vai ser essa história da casa?

- Bom, o advogado me deu uma cópia da chave e disse que outra foi enviada para a Sarah. A escritura vai ter meu nome e o dela. Minha avó também deixou uma quantia em dinheiro para os reparos e a manutenção da propriedade fora da temporada. Imagino que ela também tenha sido informada de tudo isso

- Você não quer vender a casa, quer?

- De jeito nenhum. Aquela casa guarda muitas lembranças e era muito importante para minha avó. Vou usá-la neste verão e depois talvez a alugue, se Sarah concordar.

- Está dizendo que nem imagina como ela planeja usar a outra metade da casa? Você vai simplesmente aparecer lá em algumas semanas? Se ela estiver lá, tudo bem, se não estiver, tudo bem também?

- É mais ou menos isso.

- Ah, isso vai ser interessante.

Entre tapas e beijos - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora