Só amigas mesmo?

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Duas semanas se passaram, e as coisas não haviam melhorado entre mim e Sarah. Em vez de me provocar, ela se contentou em me ignorar completamente.

A casa tinha quatro quartos. Como transformei um deles em sala de ginástica, Sarah usava o outro como escritório durante o dia. Dava para ouvir sua voz abafada lá dentro durante telefonemas de negócios. Aparentemente, a empresa para a qual ela trabalhava vendia software de soluções empresariais.

Zara e eu trabalhávamos quase todas as noites no restaurante, além de algumas tardes ocasionais. Um dia, estávamos no intervalo quando ouvimos  Pocah, a dona do restaurante, comentar que a banda que tocava quase todas as noites havia desistido. O Sandy's era, provavelmente, para quem procurava música ao vivo, o lugar mais popular da ilha. O estabelecimento era mais famoso por isso do que pela comida. A desistência da banda não era boa para os negócios.

Zara falou em voz baixa:

- Acha que Sarah toparia tocar aqui?

Eu já me sentia meio enjoada por nada, mas a simples menção ao nome dela fez meu estômago ficar ainda mais revirado.

-  Acha que ela ia querer tocar em um lugar como este?

- Bom, ela está acostumada com casas maiores, mas não está fazendo nenhum show. Tirou o verão para dar uma folga na música, mas tenho a sensação de que já se arrependeu. Sarah está de mau humor desde que chegamos aqui. Acho que é vontade de voltar a tocar. Pode ser bom para ela voltar ao palco, mas sem muitas pretensões. Não vai haver nenhuma pressão. Ninguém a conhece qui.

Pensar em ver Sarah se apresentar me deu um arrepio. Por um lado, seria incrível, Por outro, eu sabia que seria doloroso ter que atura-la no restaurante todas as noites: Era pouco provável que ela concordasse com a idéia, por isso decidi não me torturar enquanto ela não se tornasse realidade.

- Vou falar com a Pocah - anunciou Zara.

Tentei mudar de assunto.

- Acha que você e a Sarah vão se casar?. - Não sei por que fiz essa pergunta. Estava curiosa sobre a seriedade da relação delas, e as palavras simplesmente escaparam.

Zara hesitou;

- Não sei. Eu a amo de verdade. Espero que sim, se a gente puder resolver as nossas diferenças.

- Que tipo de diferenças?

Ela bebeu um gole de água e franziu a testa

- Sarah não quer ter filhos.

- Que? Ela disse isso?

- Sim. Ela acha que é irresponsabilidade trazer uma criança ao mundo, a menos que você tenha certeza absoluta de suas capacidades como mãe. Acha que os pais dela não deviam ter embarcado nessa de paternidade e diz que isso não é para ela.

- Fala sério..

- Não me entenda mal. Não quero ter filhos tão cedo. Nesse momento, minha carreira está em primeiro lugar, mas um dia gostaria de ser mãe. Então, se ela realmente não quiser ter filhos, isso pode se tornar um problema

- É bem provável que ela mude de ideia quando ficar mais velha, Sarah ainda é muito jovem.

Zara balançou a cabeça.

- Não sei. A coisa é séria. Ela agradece todos os dias por ser mulher que gosta de mulher, evita certos riscos.

Tentando não pensar nas duas transando, eu simplesmente disse:

- Nossa.

Fiquei triste por saber que Sarah se sentia assim por causa dos pais. Eles estavam sempre trabalhando e no davam muita atenção ela quando éramos crianças. A mãe da Sarah sempre viajava a trabalho. Por isso minha avó era tão importante para ela. Na verdade, minha mãe também não deveria ter tido uma filha, mas saber que ela não havia sido uma boa me não me impedia de querer ter filhos um dia.

Entre tapas e beijos - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora