Quase um perdão

4K 386 63
                                    

Sandy's sentiu o impacto da perda da banda principal da casa. Pocah conseguiu substitui-los por talentos locais medíocres, mas as pessoas notaram a diferença. O lugar esvaziava muito mais cedo que de costume, e não recebíamos tantos clientes.

Zara tinha falado com Sarah sobre tocar na casa em algumas noites, mas, até onde eu sabia, ela não estava interessada. Portanto, dá para imaginar minha surpresa quando ela apareceu no restaurante no começo de uma noite de sexta-feira com o violão a tiracolo.

Não percebi que era ela logo de cara, só quando olhou para mim. Meu estômago reagiu assim que a vi parada perto da porta, como se não soubesse para ir. Como estava frio demais para a estação, ela usava um moletom azul-marinho e um gorro. Caramba, como Sarah ficava sexy com aquela roupa. Parecia realçar seus olhos. Na verdade, ela ficava sexy com qualquer roupa, mas hoje estava particularmente atraente

Considerando como Sarah me tratava, a atração física que eu sentia por ela nunca deixava de me surpreender. Acho que era mais fácil me concentrar no físico. Seu exterior, muito diferente do que eu lembrava, ajudava a me distrair do que eu sabia que existia dentro dela. A verdade era que, por mais que a desejasse fisicamente, ainda não dava para comparar esse desejo com a saudade que eu tinha do minha velha amiga. Em algum lugar escondido sob os gelo e a beleza, eu sabia que ela ainda estava lá, e isso me frustrava.

Até onde eu sabia, Sarah não havia contado nada a Zara sobre aquele incidente constrangedor, tampouco me torturou por isso. Não sei por que ela decidiu deixar isso passar, mas minha gratidão seria eterna.

Zara tinha sido chamada para um teste naquela manhã, e pensei que ela a tivesse acompanhado.

Parei de limpar a mesa é me aproximei dela.

- O que você está fazendo aqui?

Ela levantou o violão.

- O que parece que vim fazer?

- Pensei que tivesse ido para Nova York com a Zara.

- Ela não vai demorar para voltar. E já tinha me comprometido com esse show. - concluiu quase sarcástica.

- Pensei que era contra tocar aqui. Ouvi quando disse a Zara que preferia se apresentar em uma penitenciária a um restaurante caído de praia.

- É. Bom, parece que ela mostrou algumas gravações das minhas apresentações para a Pocah, e ela me fez uma proposta irrecusável.

- Por quanto tempo vai tocar aqui?

- Não sei. Algumas semanas. Até irmos embora.

- Não vai ficar até o fim do verão?

- Não. Nunca tive essa intenção.

A decepção foi imediata. Eu devia estar feliz por ela ir embora logo, mas a notícia provocou o efeito contrário.

- Nossa, tudo bem. Bom, quer que eu mostre o lugar?

- Não precisa. - respondeu ela, antes de se afastar de mim a caminho do fundo do restaurante.

Sarah desapareceu por pelo menos uma hora. Ela vai se apresentar as oito em ponto, e ainda faltavam vinte minutos para a hora do show. A curiosidade me venceu e fui procurá-la. A porta de uma das saídas do fundo estava encostada, e eu a vi beber uma cerveja no gargalo aparentemente estressada. Sarah ficava nervosa antes de tocar. Apesar de considerar a apresentação uma piada, ainda assim seria uma aparição pública.

Sarah olhou para o lado e me viu. Fixamos nossos olhares uma na outra. Era irônico, mas os únicos momentos em que eu conseguia sentir o que restava da nossa antiga conexão eram os de contato visual silencioso. Momentos de silêncio podiam ser os mais eloquentes. Eu a deixei sozinha de novo e voltei ao salão para atender a clientes que estava ignorando.

Entre tapas e beijos - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora