Era como se Krystal estivesse nua em meio à uma multidão, sentia-se totalmente vulnerável e frágil, para ela, o mundo parecia ruir aos poucos, da forma mais gradual e cruel o possível; não tivera coragem de proferir em voz alta o seu desejo por garotas, o seu temor fora bem maior do que qualquer outro sentimento que estivesse a consumindo naquele momento, o que consequentemente a fizera desistir e mudar de ideia, mais uma vez, dando aos seus progenitores uma desculpa qualquer. Desde então, uma semana havia se passado, sua rotina prosseguia monótona, a não ser pela culpa que a corroia, tinha a impressão que havia traído a si própria ao refutar a sua sexualidade, voltando atrás quando tivera a oportunidade de contar aos seus pais sobre.
— Soojung, você está aí..? — A voz de Sunyoung soava longe de si, como se estivesse em outra dimensão, sensação que era proveniente ao fato de que, mais uma vez, a Jung estava absorta de tudo ao seu redor, pensativa. Um acenar de mão à sua frente lhe fizera abandonar o seu universo particular, com os olhos parcialmente arregalados e uma sobrancelha arqueada, em um questionar silente para a coreana, que tentava chamar-lhe a atenção de todas as formas possíveis.
— Você disse algo? — Tal frase, ainda que sucinta, fora o suficiente para deixar uma Luna impaciente, com um biquinho quase inexistente nos lábios. Fofa, pensou Krystal.
— Há algo que quero perguntar você.
A platinada permanecia calada, gesticulando com a destra em um pedido para que a menor prosseguisse, todavia, a Park parecia hesitar e estar um tanto nervosa, o que atiçava a curiosidade alheia, que só passara a existir a partir daí.
— Você acha que é possível duas mulheres se amarem? — O questionar da amiga poderia ser visto como casual, porém, para a Jung soara como um tiro disparado em seu peito; tinha vagas recordações da reação da morena, quando afirmara que sua suposta paixonite não se tratava de um garoto. Entretanto, se negava a afirmar que não, estaria sendo falsa consigo mesma novamente, e a americana estava cansada disso, o que a fizera optar por respondê-la com dar de ombros, notando-a assentir uma só vez, com um semblante não legível no rosto, pelo menos, para Soojung.
— Ei, pirralha, vem logo, nosso pai não tem o tempo todo! — Esbravejou Sooyeon, com a cabeça para fora da janela do Cadillac 69 do pai de ambas, qual buzinava freneticamente a fim de apressar sua caçula. Mentalmente, a jovem Jung formulava palavrões e mais palavrões, todos direcionados à irmã. Jessica conseguia ser irritante sem esforço algum, quando queria, e na maioria das vezes ela aparentava querer isso. O percurso de volta para casa fora inteiramente silencioso, ainda que Bee Gees estivesse tocando na rádio, sua banda favorita, a platinada não cantarolava as músicas como de costume, pelo contrário, novamente estava alheada e o motivo disso era a conversa que tivera com Luna, afinal, com qual proposto aquilo lhe fora questionado? Park estava interessada em alguma garota?! Não, claro que não. Impossível.
Assim que o carro fora devidamente estacionado, a primogênita dos Jung's fora a primeira a deixá-lo, batendo a porta com uma força desnecessária. Não fizera questão de passar dez minutos sequer em casa, o que fizera a platinada suspirar, sentia falta da antiga Jessica, aquela que a protegia dos valentões da sétima série. Tal pensamento, causara um suspirar prolongado na americana, que jogou-se sobre o colchão de maneira desleixada, contudo, não permanecera naquela posição por muito tempo, o som de um amassar de papel embaixo de si a fizera sentar-se contragosto.
Aparentemente, era uma carta, e por segundos, a platinada se questionou se deveria abrir aquele envelope ou não, no entanto, sua curiosidade fora maior do que qualquer outra coisa, e então, assim ela fez. O remetente se tratava de Kwon Yuri, uma figura desconhecida pela Jung caçula, que indagava-se sobre o porquê de Sooyeon nunca ter dito nada sobre 'aquele garoto'. Este que era muito romântico por sinal, qualquer garota gostaria de receber uma mensagem daquelas, talvez naquele momento, sua irmã estava com ele.
Passado os dias, Krystal permanecia com as especulações sobre 'o suposto rapaz' que afirmava ter tido o coração roubado pela primogênita dos Jung's, até mesmo cogitou a dar início à um diálogo com a irmã sobre aquele assunto, todavia, desistiu, estava incerta e tinha consciência que, infelizmente, não tinham intimidade o bastante para aquilo. Em passos lentos, rumava até a biblioteca pública, Luna havia a convidado para passarem um tempo naquele estabelecimento, queria apresentá-la a um ser alguém.
Alguém este que, assim como a Park, já a esperava na porta do local de encontro, tendo a destra entrelaçada à canhota da morena mais baixa.
— Soojung-ah! Você veio! — Sua felicidade em vê-la fora nitidamente denunciada por sua entonação, que era esganiçada. — Bem, esta é a Amber, uma..
A tomboy recém-apresentada, dera término àquela frase, um tanto hesitante, cumprimentando a jovem com um típico aperto de mão.
— A-amiga! Sou amiga da Sunyoung, prazer.. — Curiosamente, seus lábios tremeram ao proferir tais dizeres. De fato, era uma garota muito bonita, Jung não poderia negar, todavia, um tanto curiosa, seus curtos fios e suas roupas largas eram atípicas para uma garota naquela época, com certeza, ela chamava atenção, isto, quando não era confundida com um garoto.
— Prazer, Amber! Agora estou curiosa, me digam, como se conheceram? — Um curvar de lábios espontâneo moldara os lábios da Jung, que sendo acompanhada pelas outras, caminhava até a grande porta amadeirada da biblioteca.
Passaram a tarde toda absortas de tudo que as rodeavam, viajando em mundos de aventuras e romances, qual grande parte deles, provocava um choro incessável na Park. Quando finalmente deixara o estabelecimento público, se despediram na frente do mesmo, com abraços e beijos na bochecha. Amber era uma garota muito agradável, o que explicava o bom relacionamento de amizade que tinha com Sunyoung, certo?
— Até mais! — Por fim, se despediram pela milésima vez, contudo, agora fora a última delas, uma vez que a platinada começara a caminhar pela calçada, cessando os passos abruptamente quando seu corpo se colidira com outro, que era muito alto, por sinal. Assim que seus olhos foram de encontro aos alheios, a americana gelou. Era ela, Choi Jinri.
Estava ciente da sua volta à cidade, entretanto, encontrá-la estava fora de cogitação, mas, o não-planejamento dela não iria impedir que isso ocorresse de maneira intencional, e Jung só se dera conta disso àquela hora. Sentira muita falta da sua garota, queria abraçá-la, beijá-la, descontar toda a saudade que a conssumira naquele meio ano em meio à atos afetuosos.
— Me desculpa, Soojung. — A coreana de cabelos curtos, se pronunciara, sendo sucinta. O que causara um arquear na sobrancelha alheia, porém, a platinada tivera certeza de que tudo ocorria bem assim que a Choi esboçara seu característico sorriso de dentes pequenininhos, e por Deus, como Krystal sentira falta daquele curvar de lábios! O que só servira de impulso para que ela pudesse agarrar a cintura alheia, pressionando os dígitos contra aquela região, em um abraço de urso.
— Eu achei que nunca mais veria você! — Confessou, em meio à uma risada amarga, qual viera com o acréscimo de lágrimas. Assim que aquele contato corporal fora desfeito, a encarou nos olhos pela segunda vez desde muito tempo, suspirando inaudível.
— Acho que no fim, nos encontraríamos uma hora ou outra, afinal, estamos na mesma cidade! — Jinri enfatizara aquela frase do começo ao fim, expressando a sensação de extasiante que sentira ao pronunciá-la. Sem ao menos esperar por um convite, Soojung colara os lábios aos da garota, e ainda que surpresa, a coreana correspondeu-a, acrescentando a língua naquele ósculo, tornando-o impossivelmente melhor do que o outro, quando fizeram isso pela primeira vez.
— Péssima hora para isso, garota, péssima hora. — Ao outro lado da rua, Victoria afirmara tal dizer para si própria, avistando o pai de Soojung estacionar o cadillac à frente da biblioteca e, consequentemente, presenciar aquela cena.
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𝐛𝐚𝐝 𝐫𝐞𝐚𝐬𝐨𝐧𝐬 𝐭𝐨 𝐥𝐨𝐯𝐞 𝐲𝐨𝐮 | 𝐤𝐫𝐲𝐭𝐨𝐫𝐢𝐚.
RomanceE de novo aquelas malditas lembranças a consumiram; era como se ainda pudesse sentir alguém tateando seu corpo com maestria, provocando gemidos e suspiros seus, era tudo tão real para ser apenas um sonho.