Capítulo 2

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- Sangue Aristocrático -

Minutos ou horas se passaram, no escuro, o tempo deixara de importar. Aurora apenas encarava as sombras, sabendo que não tinha por que sequer fingir que ia dormir. Não existia a menor chance.

O corpo estava tenso como uma tábua, a mente ainda martelava as palavras emitidas por Malfoy. Parte sua queria negar, queria fingir que aquele dia não aconteceu. Mas isso não levariam seus problemas embora.

Além disso, ela sabia que a ameaça fora real. Para Draco, Aurora não passava de uma inconveniência, seria simples tira-la da jogada. Ele estava acostumado a ter tudo o que queria, do jeito que queria; estava acostumado às pessoas ajoelhando-se aos seus pés e fazendo suas vontades. Mas Aurora preferia partir-se a curvar-se a alguém.

Remus a ensinara a ser forte, a lutar pelo seu lugar no mundo, a usar seu nome como uma coroa, independente de qual fosse ele. E Aurora obedeceu, cuspindo veneno em qualquer um que tentasse destronar-la.

No momento em que ela conheceu Malfoy, sabia que ele era uma ameaça. Draco não era apenas um garoto metido e arrogante, ele era inteligente, alguém que fora ensinado desde pequeno sobre as regras do jogo social no qual estavam inseridos. E havia um poder terrível em saber exatamente quem você é e o que é capaz de conseguir.

Se não fosse por Draco Malfoy, os estudos de Aurora em Hogwarts poderiam ter ocorrido sem grandes perturbações. Se não fosse por ele, ela não teria que se preocupar com um rival, não teria que viver sempre em estado de alerta, olhando por cima do ombro para tentar anteceder o ataque.

Se não fosse por ele, Aurora não teria pânico de grandes multidões. Não seria tão insegura com a própria aparência. Não teria medo de todo dia virar motivo de chacota ou de ser o alvo de sua tortura verbal.

E se não fosse por ela, Draco ainda teria alguns ossos do corpo intactos; o do nariz, do braço direito, do tornozelo. E claro, não teria também a cicatriz na panturrilha referente a quando Aurora queimou suas calças.

Eles se odiavam e não era segredo para ninguém. Mas eles também pertenciam ao mesmo grupo de amigos e isso acabou os levando a situação que seria suas ruínas. O segredo sombrio que compartilhavam era capaz de destrui-los, e os dois sabiam.

Desde a Batalha do Ministério, Aurora se inseriu numa bolha de escuridão, fazendo de tudo para manter os pensamentos longe. Agora, ela sabia que teria de encarar de frente.

Por um momento, Aurora pensou em quem e no que era. Nas coisas que a motivavam e nas coisas que a formaram. Lembrou do pai, das visões que tivera dele em Azkaban; sozinho no escuro, no meio de uma cela imunda, quase morrendo de fome - ela não sabia como, mas uma vez entrara na mente dele. Sentira o que ele sentiu naqueles dias de sofrimento. Sentira o fedor de moscas, morte e podridão. Sentira o incomensurável amor que o mantivera vivo durante aqueles anos.

Aurora permitiu que a raiva subisse a superfície, levando a tristeza e a culpa embora. O quarto ao seu redor ficou mais escuro, silencioso diante daquele poder profundo sendo liberado. Um poder antigo e desconhecido.

E naquele momento, ela percebeu que faria qualquer coisa para se livrar daquele destino, faria qualquer coisa para vingar Sirius, afinal a morte dele também pertenciam aqueles que o colocaram em Azkaban, a morte dele também pertencia ao Ministério, e um dia, prometeu a si mesma, um dias todos eles sentiriam o verdadeiro gosto do sofrimento.

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