- Mentiras de verão -
Um segundo.
Era assustador pensar no quanto a vida de qualquer pessoa poderia ser virada de cabeça para baixo em um único segundo.
Um único momento. Uma única escolha. E está tudo acabado. Tudo que você era e tudo que acreditava deixa de existir. Tudo vira areia e não há nada que você possa fazer a não ser vê-la escorrendo pelos seus dedos.
Arcturus soube disso no momento em que a marca da morte fora cravada em seu pulso. Conseguia ver claramente a fenda escura que rachara sua vida ao meio.
Ele sabia que tomar aquela decisão seria como cortar o próprio pescoço, mas nada o faria voltar atrás. Quando se ama alguém do modo mais puro e genuíno, as próprias necessidades deixam de importar.
O Lord das Trevas fora claro quando disse que queria um dos herdeiros Black entre seus seguidores. E embora o motivo ainda fosse um grande enigma, Arcturus nunca permitiria que fosse Aurora a ser escolhida. Ela era sangue de seu sangue. A única família que lhe restara. E ele a protegeria acima de tudo.
A cidade inteira dormia um sono profundo enquanto Arcturus retornava para casa, pensando nos acontecimentos daquela noite e nas coisas terríveis que teria de fazer a seguir.
Quando chegou no Largo Grimmauld, a rua de casas geminadas onde apenas a Mansão Black se destacava, Arcturus parou por um segundo na entrada. Todo o seu corpo tremia e o antebraço esquerdo formigava, fazendo ser possível sentir a serpente se movendo contra a carne. Per árdua ad Astra. Repetiu ele, na própria mente, de novo e de novo, como um mantra. Das dificuldades se chega às estrelas...
Tomando um fôlego de coragem, Arcturus adentrou o hall, sendo recebido pela escuridão. A Mansão Black sempre fora mais assustadora durante a noite, com seu silêncio profundo e a madeira rangente a cada passo. A aura de mistério pairava sobre todo o ambiente, e Arcturus pensou em todos os cantos escuros e passagens secretas que ele e Aurora passaram a maior parte da infância tentando descobrir. Uma casa repleta de segredos e crianças repletas de curiosidade.
Ele atravessou os corredores mal iluminados, aliviado ao perceber que todos já dormiam e aparentemente ninguém notara sua ausência. Entretanto, ao entrar no próprio quarto, Arcturus permaneceu parado rente a porta, tentando manter o equilíbrio ao ser surpreendido por Aurora, que estava adormecida em sua poltrona.
— Aurora. — chamou ele, a voz soava insípida e estranha aos próprios ouvidos.
Ela abriu os olhos de supetão, remexendo-se. Estava encolhida na poltrona, abraçada aos joelhos e com um manto pendendo dos ombros.
— O que está fazendo aqui? — perguntou Arcturus, com uma calma fria, fechando a porta às suas costas.
— Acho que peguei no sono sem querer. — respondeu ela, coçando os olhos. — Onde você estava? Fiquei preocupada.
— Agora não é hora, pode por favor ir para o seu quarto, estou exausto.
Aurora ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. Seu rosto pálido, mal iluminado devido ao único abajur acesso, contrastava com a escuridão. Mesmo com a distância, Arcturus podia perceber que ela o examinava com um olhar crítico, dos pés a cabeça.
— Passei a noite esperando você chegar, não vou sair até que diga a verdade, oras. — seu olhar intenso se fixara nele. Provavelmente ela havia notado os sutis sinais de fadiga e a tensão nos ombros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Black Heiress
FanficVoldemort havia retornado e trouxe consigo todo o medo que a sociedade bruxa não sentia há anos. A guerra era iminente, o caos restaurado. E aqueles cujo destino fora traçado pelo sangue de seus ancestrais seriam os primeiros a sofrerem as consequên...