Capítulo 6

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- No turning back -

Aurora materializou-se outra vez numa cabine telefônica de uma rua estreita e escura. Do lado de fora do caixote vermelho, o céu estava sem estrelas, negro e infinito. O presságio de uma noite de desastres.

Ao sair da cabine, ela olhou com cautela à sua volta, o coração na garganta. A estradinha era ladeada por um silvado e por uma sebe alta e cuidadosamente aparada, no final do caminho reto, um belo casarão se destacava entre as sombras, as luzes faiscando nas janelas do andar superior. O que Arcturus estava fazendo num lugar como aquele? O que ele tentava esconder com tanto afinco?

Aurora andou em direção a mansão, sozinha em meio ao silêncio e a escuridão. O pressentimento ruim que a espreitava não passou e o medo fervilhava nas entranhas à medida que se aproximava dos portões de ferro forjado, cujo serpentes contornavam-o de cima a baixo.

A parte sensata do cérebro ainda gritava que aquela era uma ideia extraordinariamente imbecil. Talvez pudesse voltar depois, se preparar melhor, contar a alguém o que estava acontecendo... Mas no fundo Aurora sabia que não conseguiria se conter, a curiosidade sempre fora um mal que a assolava. Não havia nada a fazer a não ser seguir em frente.

O portão estava enfeitiçado com um tipo de magia avançada, fazendo com que abri-lo fosse mais difícil e exigisse mais concentração do que o normal. Depois de alguns segundos, Aurora girou os punhos, ouvindo o leve sussurro de metal contra metal, então o estalo da tranca se abrindo.

O jardim adiante era extenso e escuro, com sebes altas que pareciam labirintos e uma provável fonte jorrando atrás dos arbustos. Aurora apressou os passos pela estradinha de cascalho, observando a propriedade grandiosa. Seria imprudente tentar entrar pela porta da frente, embora fosse o lugar que mais facilitaria localizar-se lá dentro. Com isso, Aurora seguiu em direção a uma janela da lateral, erguendo-se na ponta dos pés para ver o interior.

A janela arqueada dava diretamente para um grande saguão, suntuosamente decorado com mobílias antigas e estatuas de pedra. Um enorme lustre pendia do teto e o brilho dele reluzia pelo chão de mármore como um espelho. Ao impulsionar o vidro para cima, a janela se abriu com um pequeno ruído. Aurora conseguiu passar pelo vão e cair do lado de dentro, contudo, antes que pudesse se erguer, ouviu o som de vozes vindo em sua direção.

Em pânico, ela engatinhou até se esconder atrás de um longo piano de cauda. Inclinando a cabeça levemente para o lado, foi possível ver quando dois homens altos usando túnicas atravessaram o cômodo em direção a uma estante de antiguidades na parede oposta.

Com os olhos cerrados, Aurora percebeu um deles levantar uma pequena estatueta e a estante deslizar para o lado, revelando uma entrada secreta. Os dois entraram pela passagem, e depois de um segundo de hesitação, Aurora os seguiu.

O pânico se prendia a ela, como uma sombra seguindo seus passos. A passagem levava a um conjunto de escadas para o andar inferior, adiante, havia um corredor, a escuridão era como uma boca aberta, pronta para engoli-la.

Devia haver uma explicação para tudo aquilo, pensou Aurora, com uma angústia crescente. Na pior das hipóteses daria de cara com um grupo de pessoas no meio de uma orgia. Arcturus ficaria furioso, mas depois de um tempo eles dariam boas risadas de tudo aquilo.

Aurora tentou se agarrar ao pensamento de que tudo ficaria bem, mas o medo continuava revirando seu estômago como uma refeição mal digerida. No fim do corredor, havia um par de portas duplas semiabertas, o brilho das velas lá dentro oscilavam suavemente.

Por uma pequena fresta, Aurora conseguiu enxergar uma tumba fria e iluminada por tochas. O lugar fedia a sangue e podridão, o chão de pedras era pintado com uma série de desenhos necromântico; uma estrela de cinco pontas dentro de um círculo, e símbolos antigos e rabiscos que faziam os olhos doerem. Havia também gaiolas vazias pelos cantos, uma mesa cheia de objetos ensanguentados e vidros com líquidos suspeitos e escuros.

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