Capítulo 7

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- A maldição -

Nada era tão exaustivo quanto a angústia; a espera sem fim, as inúmeras possibilidades do que viria a seguir, a ansiedade que comprimia o peito como se alguém estivesse o pisoteando. A sensação era como cair no abismo do desconhecido.

Encolhida na poltrona do quarto de Arcturus, Aurora estava abraçada aos próprios joelhos, tentando se recompor e alinhar a mente. Tudo que ela havia visto era real. Os gritos de horror daquele homem eram reais. E Arcturus estava lá, compactuando com aquela monstruosidade.

Parte dela não conseguia entender. Talvez ainda estivesse tomada pelo choque, ou talvez a verdade fosse nebulosa demais para ser encarada de frente. Infinitas perguntas rondavam sua mente, de modo que o quarto ao seu redor parecia estar se movendo; as paredes mexendo como se respirassem, ameaçando desabar em cima dela.

Tinha um motivo, repetia Aurora para si mesma. Pois era impossível pensar na perspectiva de que a pessoa que ela mais amava no mundo se tornara aquilo por vontade própria. Arcturus, que era esvaído de qualquer maldade. Que era a pessoa mais doce que Aurora conhecia, e fazia de tudo ao seu alcance para ajudar aqueles que precisavam. O que realmente o definia, seus atos ou seus pensamentos? O que de fato importava, a pessoa que ela conhecia ou a versão deturpada na qual ele havia se tornado?

O barulho da maçaneta girando fez com que Aurora se aprumasse na poltrona, o coração disparou no peito, como se um pássaro estivesse preso dentro do tórax. A porta se abriu com um ruído familiar e o garoto entrou em seguida, meio cambaleante. Retirou o casaco preto e o jogou na cama, ao ver Aurora, levou a mão ao peito, arfando.

— Mas que droga, já falei para você parar de fazer isso! — exclamou. — está pior que uma assombração, por Merlin!

— Você está mancando. — observou ela, olhando-o dos pés a cabeça. Ele parecia cansado e fraco, como se tivesse atravessado o inferno e retornado. — o que aconteceu?

— Acho que virei o pé na escada. — Arcturus maneou a cabeça. Com um gesto de mãos, dispensou a pergunta e rumou para o banheiro.

— Vai ficando mais fácil com o tempo, não é? — perguntou Aurora, a voz inexpressiva. — As mentiras... depois de um tempo elas começam a sair com tanta facilidade que até você mesmo se esquece da verdade.

Arcturus parou ante a porta, a mão quase agarrando a maçaneta. Ele virou-se lentamente, na luz fraca do abajur, sua expressão era ilegível.

— Do que diabos está falando?

— Você, suas mentiras. — disse ela, simplesmente. — Porque escondeu a verdade durante esse tempo todo?

Houve um momento de silêncio, um momento longo e tenebroso. Aurora podia jurar que seu coração parou por alguns segundos, antes de recomeçar a bater violentamente contra o peito. O oxigênio do quarto parecia ter sido sugado e estava ficando cada vez mais difícil respirar.

— Como descobriu? — as palavras dele soaram planas, mecânicas. Aquilo a irritou mais do que tudo.

— E isso importa?! — Aurora levantou-se da poltrona, o queixo elevado como se o desafiasse. — você é um deles, não é? Você é um Comensal da Morte...

— Fale baixo! — vociferou Arcturus, olhando furtivamente para a porta. Por um momento Aurora o odiou. Ela o desprezou. Essa realmente era sua maior preocupação?!

Arcturus começou a andar em sua direção, mas ela recuou um passo para trás. Em outro momento, o olhar no rosto dele poderia ter partido seu coração.

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