O Vizinho

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Às 23:30, meu apartamento está o auge. Em comemoração à conquista de um novo emprego, resolvi fazer uma pequena comemoração que acabou não tão pequena assim. Sabe como é, uma amiga chama um ficante que tem um amigo e por aí vai.
No final das contas, eu não me importava, estava tão feliz que queria compartilhar com o máximo de pessoas possível.

Quando vou até a cozinha buscar mais comida, penso ter ouvido a campainha. Observo pelo olho mágico e não vejo ninguém, mas ao ouvir novamente de forma inconfundível, percebo que a pessoa deve estar na porta da sala.

Penso que deve ser meu amigo Gustavo, que até agora não havia chegado e vou até lá recebê-lo. Quando abro a porta, porém, dou de cara com um homem que nunca tinha visto antes. Ele usa uma calça jeans clara, uma camiseta branca meio amarrotada, assim como seu cabelo um tanto desalinhado. Ele é alto e com um olhar rápido, percebo um peitoral largo e bíceps do tamanho ideal. Para completar, ele tem uma barba por fazer e olhos num tom de mel incrivelmente lindos.

Infelizmente, tais olhos não estavam olhando para mim de uma forma muito simpática. O homem dá um rápido olhar para meu corpo, mas logo volta a me encarar, parecendo estar meio bravo.

— Escuta — ele quebra o silêncio com uma voz grave —, será que você pode dizer até que horas vai durar essa festinha aí? Já é quase meia-noite e amanhã ainda é quinta-feira, sabe? Acredito que a maioria das pessoas desse prédio precisa trabalhar amanhã.

Esse cara é meu vizinho? Como nunca o vi por aqui?

Nesse momento, minha amiga Samanta aparece ao meu lado e já ia me dizer algo, mas estaciona quando vê o vizinho gato.

— Não vai me apresentar, Bia? — pergunta em tom sugestivo.

Olho para o vizinho, que encara minha amiga com um olhar ainda mais irritado do que antes e eu digo:

— Desculpa, não queria incomodar, mas é que estou comemorando algo importante. Vou diminuir o volume da música, tudo bem?

Ele dá uma olhada para o interior do meu apartamento, volta a olhar para mim e diz:

— Eu espero que sim.

Quando estava afastando-se, questiono:

— Qual o seu nome?

O homem, entretanto, apenas entra no apartamento ao lado do meu e fecha a porta, sem responder. Como nunca vi esse cara, se ele mora ao meu lado?

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       Na semana seguinte, inicio o novo trabalho na agência de publicidade e sempre dou uma olhada para a porta próxima à minha para ver se encontro o vizinho, mas ele deve ter um horário de trabalho diferente do meu, pois nunca pegamos o elevador juntos.

Apenas no final da semana seguinte acabei encontrando-o novamente e foi no elevador, como pensei que seria. Estava quase fechando as portas, quando corri e meti a mão, fazendo com que se abrissem. O vizinho estava lá dentro com a cabeça baixa vendo algo em seu celular e quando me vê, encara-me por alguns segundos e diz, com as sobrancelhas levemente levantadas:

— Não tem medo de perder os dedos?

— O medo de perder o elevador quando preciso ir urgente ao banheiro é maior.

Consigo ver um leve sorriso nele, mas o cara parece não querer dar o braço a torcer comigo, pois logo fica sério novamente. Quando chegamos ao nosso andar, ele segura a porta para eu sair, olhando para mim e agradeço. Faço questão de andar devagar na frente, com meu melhor rebolado sutil dentro da minha calça apertada e ouço seus passos atrás.

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