Capítulo XIX - A um telefonema de distância

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Os passos ritmados e pesados tomavam direção do elevador, Aveta organizava em sua mente os pontos principais da sua descoberta, o que precisava fazer e também o que diria primeiro a Laerte. Ela respirava com controle, postura e disciplina. Precisava não somente ser forte, também necessitava aparentar que era.

— Penélope — disse, observando a mulher escorada à parede, ao lado de um dos quadros que ornamentavam o corredor.

A princesa apressou a caminhada.

— Aveta — respondeu a duquesa, estreitando as pálpebras e colocando as mãos nas têmporas.

— O que está sentindo? — Aveta questionou, sem encostar-se na moça à frente.

— É só uma tontura — respondeu Penélope, fixando as pupilas heterocromáticas na parede contrária.

— Vou pedir ajuda — disse a princesa.

— Não! — retorquiu a duquesa, com a entonação elevada. — Por favor, não fale sobre isso com ninguém — pediu.

Aveta contraiu os músculos da face e seu rosto pendeu vagarosamente para a direita.

— Penélope, você... — Parou antes de terminar a frase, percebendo que estava certa em sua suposição. — Oh! Meu Deus. — Revirou os olhos e sacudiu a cabeça. — Elijah é o pai, não é?

— Princesa, por favor, eu não posso falar sobre isso.

— Você tem noção do quanto é perigoso? Você agora é um alvo direto — murmurou Aveta. — Quantos meses?

— Dois. — Penélope estava encurralada.

— Quem mais já sabe?

— Só Elijah. E eu irei contar ao Pietro, quando ele chegar.

A princesa olhou para os lados e aproximou a face do rosto de Penélope.

— Me escuta — sussurrou. — Ninguém mais pode saber. Nem mesmo o Pietro.

— Ele é meu irmão. Precisa saber. Ele pode ajudar a me proteger — afirmou a duquesa.

— Não importa o que ele é. Você não vai dizer nada, pelo menos por enquanto.

Aveta sentiu os músculos em tensão pelas suas costas e pescoço. Era um risco tremendo dizer à moça sobre suas descobertas, afinal de contas, todos eram suspeitos em potencial. Assim como Pietro, Penélope também estava em sua lista mental de quem teria alguma possibilidade realmente significativa de ser o mandante de tudo que estava acontecendo no continente.

— Me dê dois dias, então conversamos sobre isso. Mas não diga nada a ninguém se não quiser morrer.

A duquesa assentiu, sacudindo a cabeça devagar. Parecia haver temor em suas íris, mas Aveta não podia se dar ao luxo de confiar em alguém e entregar sua jogada.

— Onde está Elijah? — perguntou a princesa.

— Estava no quarto. Acabou de saber sobre a gravidez.

— E como ele reagiu?

— Está com medo, assim como nós estamos. — Penélope pôs a mão no pescoço e mexeu os ombros.

— Se precisar de alguma coisa, me chame — reforçou a princesa. — Agora deite-se e descanse.

Aveta deu meia volta e voltou a se direcionar ao elevador, para onde ia desde o princípio. Assim que chegou aos seus aposentos, procurou por Laerte. Não encontrando o marido em nenhum dos espaços, decidiu olhar em seu celular para contatar o pai. Precisava de um conselho, um norte, era a única pessoa no mundo a quem ela recorreria em qualquer situação em que precisasse demonstrar fraqueza.

— Uma chamada perdida — disse ela, olhando para o ecrã desbloqueado.

Kaya K.

Ela respirou fundo, encarando o rosto da amiga estampado no contato. Fugira de Kaya enquanto pôde, mas estavam em desvantagem.

— Inferno de sentimento — murmurou, antes de mover a cabeça para os lados e soltar o ar pela boca.

O polegar procurou o local onde a seta verde indicava para retornar a chamada, Aveta levou o aparelho à orelha e esperou.

Pensei que não quisesse falar comigo — disse a princesa mais nova, antes mesmo de qualquer outra coisa.

— Me desculpe. Eu estava resolvendo umas coisas. Está tudo bem?

Não, Aveta — respondeu Kaya, com a voz chorosa.

— O que aconteceu? — Aveta perguntou, preocupada.

Seu pai me disse que estamos isolados, e que provavelmente você não vai estar aqui quando o bebê nascer — ela relatou, claramente abalada. — Eu estou sozinha.

— Kaya, John está com você. Sua família toda está em Salazar.

Mas você, não.

Aveta ainda tentava entender que tipo de âncora a amiga via em sua imagem. Não estava tão acostumada com afeto daquela forma, era insólito que alguém pudesse sentir tanto sua falta sem algum tipo de interesse.

— Eu vou estar aí quando o bebê nascer — disse Aveta. — Não importa o que acontecer.

Seu pai nos proibiu de sair do castelo. Vi muitos agentes do reino saindo com papéis hoje. Acho que eram ordens. Não acredito que vocês consigam voltar a tempo.

— Se eu estou dizendo que eu estarei aí, é porque eu estarei — retorquiu Aveta, com autoridade. — Você será a rainha de Salazar, precisa ter mais controle sobre suas emoções, Kaya.

Não consigo ser como você — a amiga disse.

— Não quero que seja como eu. Quero que acredite em mim e que se acalme, estamos fazendo o possível para que tudo se resolva da melhor forma. Não sofra por antecipação.

Era possível ouvir o fungar do outro lado da linha. Nesses momentos, Aveta sentia falta de quando não precisava se preocupar com ninguém além de si mesma. Pois além de temer por Lidium e ter de pensar em soluções rápidas e eficazes para aquela situação, ela também temia por Kaya e John, que certamente não detinham a destreza de seu pai para lidar com situações como aquela.

Você está bem, Aveta? — Kaya perguntou, um pouco mais calma.

— Sim. Estou ótima — respondeu a princesa, tentando forçar uma paz que não lhe cabia naquele momento. — Era só isso?

Não, mas... deixa. — Kaya desligou o telefone inesperadamente.

Aveta sentia-se mal por não poder devolver o carinho de Kaya da maneira que ela merecia, mas precisava ser a princesa que sempre fora: destemida, corajosa e sem alicerces sentimentais. A moça jogou o telefone sobre a cama e suspirou, prendendo o lençol entre seus dedos. Estava pronta para relaxar o corpo quando ouviu a porta ser aberta.

— Laerte, precisamos conversar — disse ela, ainda de olhos fechados.

— Errou, Aveta. Não sou seu esposo. Mas, sim. Precisamos conversar.

O Jogo Da Realeza - Lidium (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora