Capítulo XV - O novo jogo

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O corredor parecia pequeno para o número de pessoas que transitavam por ele. As paredes metálicas refletiam os rostos perturbados, cansados e conflituosos. O rei decidira promover a reunião na sala onde outrora Aveta estava com Tyliard e Elijah, e, apesar de tecnológica, esta não era muito espaçosa. Eles adentraram em sincronia e sentaram-se nas cadeiras pré-dispostas atrás dos painéis e nos cantos do cômodo.

— Bom, por onde vamos começar? — Aveta questionou, cruzando os braços, ainda de pé, recostada no suporte lateral de uma das paredes.

— Creio que...

Antes que Elijah pudesse completar sua fala, a escuridão tomou forma diante de seus olhos. Aquilo não era rotineiro.

O coração de Laerte palpitou algumas vezes, enquanto tateava a parede ao seu lado, procurando pela mão de Aveta.

— Acalmem-se — ela pediu.

Então as luzes se acenderam devagar, ainda com falhas, e algumas continuaram a tremeluzir no breu. Assim que os painéis reacenderam, algo incomum pairava no ar. As cores predominantes em cada um dos pixels, antes azul e verde, agora viajava entre o laranja e o vermelho. O reflexo nas paredes, distorcido pelas sombras de todos ali presentes, fazia com que o lugar parecesse uma cela do inferno.

— Nobres de Lidium e Salazar — uma voz gutural aterradora ressoou por cada canto. Não se via ninguém.

O espanto tomou a face de alguns deles. Aveta e Laerte permaneciam atentos, assim como Wictoria e Valentina.

— Esta é a primeira mensagem que irão receber, mas não a última. Todos os seus passos estão sendo vigiados.

O painel central tomou a forma de um rosto robótico, que mexia-se conforme as palavras saíam.

— Vocês derrubaram um jogo legítimo.

Aveta balançou a cabeça e revirou os olhos, soltando o ar rapidamente pelo nariz.

— Então agora terão que jogar pelas próprias vidas. Os sistemas estão em nossas mãos, e temos pessoas por todo o continente, inclusive em Salazar.

— E quem é você? — Aveta questionou em bom som.

— Princesa, é um prazer revê-la — disse a voz. A moça estreitou os olhos. — Em breve saberão. No momento, podem me chamar de Ás.

O rei Constantino pareceu incomodado. Era de se esperar, já que quem os oprimia fizera questão de usar o baralho, um dos símbolos mais importantes de Lidium, como forma de ironia e sarcasmo contra eles mesmos.

— O que você quer? — Foi a vez de Valentina questionar, dando um passo na direção da tela.

— Ora, o que todos querem. Poder. Justiça. Vingança. — Um zumbido forte interrompeu a transmissão, mas logo a conexão se restabeleceu e a pessoa prosseguiu: — Vocês terão a opção de escolher entre entregar os reinos de Lidium e Salazar a mim, de bom grado, para que eu unifique o continente e forme um só povo. Ou podem tentar lutar até que exterminemos cada um dos sucessores aos tronos de ambos os reinos.

A rainha Louise levou a mão ao peito e seus olhos marejaram. Era possível notar os lábios trêmulos.

— O continente não é formado apenas por Lidium e Salazar — comentou Laerte, tombando a cabeça em interrogação, com o cenho franzido.

— Aos demais líderes fizemos ofertas irrecusáveis. Mas tínhamos absoluta certeza de que Salazar e Lidium não cederiam de maneira tão fácil. Sabemos que são soberbos e egoístas.

Mesmo com a frieza que a modificação da voz pudesse transmitir, era possível notar o amargurado na entonação de quem falava por trás daquela tecnologia.

— O nosso tempo aqui está acabando. Vocês têm dez dias para decidir o que querem. Depois disso, daremos sequência ao nosso plano.

— A Guarda Unificada sabe do seu plano? — Wictoria inquiriu, chamando a atenção de Tyliard e Valentina para si.

— Uma parte dela, sim. Não adianta tentar pedir ajuda. Nós somos a maioria, e a minha vitória é inquestionável.

— Isto é um blefe — disse Constantino, com a respiração ofegante.

— Sua filha não concorda — afirmou a voz.

Louise, que antes chorava contida, agora estava estagnada, como se estivesse petrificada. Elijah tomou a fronte desesperada que insistia em se esconder atrás da expressão empedernida que tentara manter ao longo da conversa.

Constantino contraiu os músculos do maxilar e se aproximou do painel, enquanto a figura humanóide se dispersava aos poucos, dando lugar a um ambiente escuro, com ruídos ininteligíveis que se misturavam ao som claro de água caindo. Alguns segundos depois, uma silhueta masculina se revelou entre duas árvores, com uma espada em mãos. Amarrada a um dos troncos, Ylana derramava lágrimas dolorosas que marcavam o pano que tapava sua boca, entre os dentes, abafando os gritos angustiantes que a garota tentava lançar à floresta.

— Minha filha! — Louise tropeçou nos próprios pés enquanto corria na direção da tela.

Elijah cerrou os punhos e começou a soltar e puxar o ar pela boca como um animal selvagem. Aveta tentou manter a calma, mas era impossível disfarçar que estava extremamente aflita com a situação. Ao tempo em que Penélope tentava acalmar a rainha, a mente da princesa de Salazar tentava resolver as questões e desbravar todos os labirintos psicológicos, derrubando as barreiras que a impediam de enxergar a saída lógica e eficaz para tudo aquilo.

— A princesa Ylana permanecerá aqui até que vocês se decidam. Caso optem por lutar contra nós e o nosso sistema, ela será a primeira na lista de extermínio.

— Como...

— Até o próximo contato — disse a voz, interrompendo Penélope.

Antes que alguém fosse capaz de indagar sobre qualquer coisa, a imagem se dissolveu em milhares de fragmentos e as luzes azuis voltaram a se acender por completo. Todo o sistema de Lidium parecia intacto, a não ser pela câmera no canto do cômodo, que se movia lentamente para esquerda e para direita, sem parar. Não era um costume que ela se movesse.

— Preciso pensar. — Aveta levou a mão às têmporas e respirou fundo.

Wictoria abriu a porta do cômodo com rapidez e saiu às pressas, seguida de Tyliard, que parecia preocupado.

— Ei! — ele chamou.

— O que quer? Não vê que os reis precisam da sua ajuda?

— Penélope e Valentina estão com eles. Eu só iria atrapalhar. Está pensando em alguma coisa? — questionou o agente.

— E-eu não posso mais continuar — ela disse. Não parecia a mesma pessoa de horas atrás.

— Continuar o quê? — Ele balançou a cabeça para os lados, tentando entender.

— O rei Jonathan, ele...

— O que tem o meu pai, Wictoria? — Aveta surgiu sorrateiramente, por trás dos dois.

A general engoliu em seco. Não havia mais como escapar daquela pergunta, não diante da situação em que se encontravam.                                               

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Tudo bem, pessoal?
Finalmente eu postando cedo haha
Fiquem ligados lá no livro 1, pq assim que chegarmos aos 40k, teremos um bônus narrado pelo tchan tchan tchaaaannn...

Príncipe John.

As coisas estão ficando tensas e macabras por aqui. Parece que o jogo começou.

Até quinta-feira ♥️

O Jogo Da Realeza - Lidium (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora