Capítulo 21

132 14 0
                                    

Olivia não tinha sido vista em nenhum dos dias desde que David chegara. Ela nem sequer havia comparecido a cerimônia de enterro do seu pai. Ela tinha o direito de estar com raiva dele, mas ela o desprezava a ponto de não comparecer para evitar encontrá-lo? Ele precisava saber, precisava vê-la, precisava falar tudo o que estava engasgado em seu peito, e tinha que ser hoje. Já tinham se passado três anos, e as palavras não ditas ainda estavam entaladas na sua garganta. Mas antes ele precisava encontrá-la.

Pensou que ela pudesse estar na cozinha, ajudando nas tarefas para não precisar encontrar com ele, mas ela não estava. Também não estava na sala das mulheres, nem na biblioteca, e nem em qualquer lugar daquela maldita casa. Mas ela não podia ter partido, David se recusava a pensar nessa possibilidade. 

Ele nunca tinha ido até a ala norte da casa, mas como ele agora era o Conde, e o dono disso tudo, ele estava certo que ninguém ia impedi-lo. 

Com um castiçal na mão, ele seguiu para a ala dos funcionários. Ele também nunca tinha visitado o quarto de Olivia, mas ele suspeitava que, por ser a dama de companhia de sua irmã, ela tivesse um dos melhores quartos reservados para os criados. Pensar nela dormindo em um quarto para criados fazia sua cabeça doer, ela deveria dormir no melhor quarto da casa, - ela deveria dormir no quarto da Condessa, - ou no seu próprio quarto, concluiu David.

A porta do primeiro quarto estava entreaberta, então ele espiou o lado de dentro. Certamente era o melhor quarto dos criados, provavelmente o quarto destinado a governanta. Olivia podia dividir o quarto com a mãe, mas esse quarto não tinha o cheiro de Olivia. Além de ser arrumado demais, nada fora do lugar, nenhum objeto pessoal a mostra. Havia uma mesa em um canto do quarto, e ele caminhou até ela, pegando um caderno de anotações. Atividades da casa, lista de pratos para a recepção do funeral... Definitivamente esse era o quarto da Sra. Watson. E como havia somente uma cama, não havia a menor chance de Olivia dormir ali. 

A segunda porta estava trancada, e ele podia apenas torcer para não ser o quarto dela, pois ele não podia correr o risco de bater. A terceira porta estava fechada, mas ele tentou girar a maçaneta e a porta abriu. Ele não precisou sequer entrar no quarto para saber que aquele era o quarto de Olivia. O ambiente pequeno, mas bem arrumado, com uma cama de madeira, uma escrivaninha e um armário. Um pequeno espelho estava pendurado na parede oposta a cama, e na escrivaninha havia uma coleção de livros e uma escova de cabelo. Ele não tinha se enganado, o cheiro que ele tinha sentido naquela atendente da estalagem, era o mesmo perfume que agora inundava o pequeno quarto. O cheiro tão característico de Olivia, que continuava o mesmo frescor de sabão e água de rosas. Embora ela não estivesse ali, ela estava em todos os lugares daquele quarto: nos livros sob a mesa, no laço cor-de-rosa adornado em volta do espelho, na roupa de cama branca bordada com minúsculas flores. Ele abriu o pequeno armário - que estava muito vazio para ser o armário de uma mulher - e tocou nos vestidos ali. O toque que ele havia sentido quando a tocava.

Ele ouviu passos se aproximando, então soltou o vestido e fechou a porta do pequeno armário. Nervosismo e antecipação se misturavam no seu peito. Onde estava Olivia, e o mais importante, o que ele diria para ela? Mas não demorou para ele perceber que os passos que se aproximavam não eram de Olivia.  Os passos estavam arrastados demais, e pesados demais para ser da jovem. Alguns segundos depois, Ligia se aproximou da porta.

- O senhor precisa de alguma coisa? - Perguntou a antiga criada, que se apoiava em uma bengala.

- Eu estava procurando pela Srta. Watson. - Explicou David.

- Minha menina se foi. - A idosa falou, e David percebeu que ela ergueu o queixo enquanto falava. - E não é adequado que o senhor esteja sozinho no quarto de uma moça.

Os herdeiros do CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora