David decidiu que visitaria os estábulos para ver se estava tudo bem com Trovão. Era seu cavalo preferido, e o montava há tantos anos que sentia uma conexão com o animal. Apesar de terem perdido a competição, ele tinha feito um excelente trabalho e merecia uma atenção de seu dono. Ao chegar nos estábulos, dispensou o lacaio. Pegou uma escova e começou a escovar a crina negra do animal.
Lembrou-se de quando aprendeu a cavalgar. Fora ali mesmo em Penwood House, tinha cerca de cinco anos. Sua irmã tinha acabado de nascer e sua mãe estava gravemente doente, presa a cama. Tinha sido um momento da vida em que seu pai tinha se afastado um pouco do trabalho, e mantinha-se próximo a família recém completa. Todas as manhãs levava o filho para um passeio na propriedade, somente os dois, e durante a tarde visitavam o leito de sua mãe, e passavam o tempo com ela e sua irmãzinha recém-nascida.
Inicialmente o conde levava o pequeno David para montar junto em seu cavalo, sentado à sua frente na sela. Quando o rapazinho pegou confiança, o Conde mandou buscar um pequeno pônei e presenteou o seu filho. Logo o menino era capaz de montar e conduzir sozinho, e em determinada manhã galopou pela colina da propriedade. Seu pai tinha ficado muito orgulhoso, e naquela mesma tarde quando visitaram sua mãe, David contou alegremente para ela de sua enorme conquista. "Já sei montar mamãe", dizia ele. Ela ficou tão feliz, e mesmo com a saúde fraca e incapaz de se movimentar muito, abraçou o menino. "Já é um rapaz David", disse a antiga Condessa "É o orgulho da mamãe. Logo será um homem feito e cuidara muito bem de sua irmã".
Na manhã seguinte David recebeu a notícia de que sua mãe tinha falecido. A época ele não entendia muito bem a questão da vida e da morte, mas lembrava-se que havia se sentido tão triste o quanto uma pessoa era capaz de se sentir e recordava-se de sua mãe com muito afeto. A partir daquele dia, cavalgar se tornou sua mais prazerosa atividade.
Estava perdido em seus pensamentos quando ouviu passos entrando no estabulo. Eram passos leves, então concluiu que era uma mulher. A princípio pensou que fosse sua irmã Charlotte, para zomba-lo por sua derrota na corrida, e então teve uma surpresa quando percebeu que não se tratava de sua irmã. O sol ainda não tinha se posto completamente, e ele foi capaz de concluir a fraca luz que era Olivia quem se aproximava.
- Atrapalho? – perguntou a moça. – Posso me retirar. – Acrescentou.
- Não atrapalha senhorita. Me alegro em vê-la.
Fez um sinal para que ela se aproximasse.
- Torci para o senhor vencer a competição essa manhã.
- O fez? Isso me surpreende. – disse ele enquanto levantava uma sobrancelha loira.
- Me custa confessar. – Ela riu envergonhada. Ele também sorriu.
- Charlotte não gostaria de saber disso.
Olivia abafou um risinho.
- Espero que não seja o senhor a contar a ela, então.
Os dois se encararam e sorriram.
- Disse-me que não sabe montar. Vou ensina-la.
- Não é necessário senhor. – Ela cruzou os braços. – Absolutamente.
- Tem medo? – desafiou ele.
- É claro que não.
- Então o que a impede?
Ela cruzou os braços na frente de seu corpo, e franziu o cenho pensativamente. Tentava encontrar uma desculpa para negar o convite, David tinha certeza. David se adiantou e selou Trovão, abriu a portinhola do estabulo e puxou o cavalo para fora pelo arreio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os herdeiros do Conde
RomansaNa Inglaterra do século XIX, o libertino David retorna para a residência da família a fim de assumir seu papel de herdeiro de um Conde. Sua irmã Charlotte, como todas as outras moças de sua posição, pretende se casar, mas seu sonho é destruído em u...