Capítulo 3

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Anahi estacionou seu Mustang conversível na entrada da casa do pai.

Uma sensação agradável a envolvia toda vez que ia ali. Ela crescera naquela casa, brincara com os caminhõezinhos e armas de plástico do irmão, sob o velho e frondoso carvalho, e de bambolê e pega-pega com seus primos.

O cesto de basquete havia deteriorado anos atrás, mas eles ainda brincavam todos os feriados: ela, Gabe, Marsha, as crian­ças, Mike e os outros primos. Ninguém se importava porque só havia o aro da cesta.

Saindo do carro, passou pelas petúnias vermelhas e rosadas, que floresciam nos canteiros que ladeavam a entra­da de carros.

Anahi sorriu ao ver o pai na porta. Seu pai era um chefe de polícia. Após a morte da esposa, ele encon­trava grande prazer em ficar com os netos sempre que podia, para dar uma folga a Gabe e Marsha. Também passava as horas livres cuidando da casa e do jardim, que estavam sempre impecáveis.

As cortinas verde-escuras da sala de estar, estavam abertas, possibilitando uma linda vista do jardim enluarado; a ilu­minação indireta dos abajures, o piso de madeira polido, a fragrância de jasmim e limão do lustra-móveis, criavam um ambiente aconchegante e acolhedor.

A mesa estava posta para dois, e o cheiro delicioso de guisado impregnava o ar.

Além de tudo, Joe gostava de cozinhar, e cozinhava magnificamente bem.

Era um pai, tio e avô muito querido, além de um profissional exemplar, íntegro, honesto, dedicado. Anahi só gostaria que ele a deixasse mais à vontade para namorar quem ela bem entendesse. Joe não disfarçava a ansiedade para vê-la casada, com alguém que não fosse Al. Ela sabia que o pai não aprovava seu namoro.

Não que ela morresse de amores por Al. Não era apaixo­nada, mas gostava dele, era um namorado que pelo menos era culto, educado, levava-a para jantar em bons restaurantes, fazia-lhe companhia e tinha uma boa conversa. Anahi sabia que faltava alguma coisa, de ambas as partes, faltava fogo, paixão, aquela atração incendiária que ela tanto gostaria de sentir, mas preferia não pensar sobre isso. Era mais cômodo não pensar.

Ela e Al nunca haviam conversado sobre casamento, e Anahi achava melhor assim. Como namorado, Al era razoável, mas como marido... Ela não conseguia imaginar-se casada com ele.

Talvez seu pai percebesse isso, e por isso fosse tão contrário ao relacionamento. Não havia outro motivo, pois Al era um rapaz de boa família, e estava bem de vida.

— Chamei você aqui para saber se está disposta a me ajudar. — anunciou Joe, assim que terminaram de jantar e foram se sentar na sala.

— Ajudar você? — Anahi apertou os olhos. — Em quê?

— A casa vizinha à dos suspeitos dos roubos está para alugar, pela imobiliária onde você trabalha. — explicou ele. — Pensei que seria um ótimo posto de observação. Mas para que eles não desconfiem de nada, vamos fazer tudo parecer muito natural, com os novos moradores indo visitar o imóvel, depois mudando-se para lá... Tudo isso, entende? Como além de corretora de imóveis, você ainda tem seu distintivo de polícia, seria perfeito. Você pode ajudar, sem se envolver demais.

O coração de Anahi disparou. De volta à antiga profissão? A familiar adrenalina correu por suas veias. Respire fundo, dis­se a si mesma. Aquela vida estava para trás. Seu pai só queria que ela mostrasse a casa, não que prendesse os criminosos.

Podia fazer o que ele queria sem se envolver. Poderia até usar vestido e sapatos de salto alto. Um calafrio de excitação lhe percorreu a espinha, mas ela tentou ignorar a sensação. Apenas fingiria mostrar uma casa, nada mais. Afinal, seu pai estava lhe pedindo... De repente, uma dúvida a assaltou.

— Tem certeza de que é só isso mesmo que vou ter de fazer?

Anahi só queria uma confirmação. Não pretendia cair em uma armadilha para voltar ao trabalho policial.

— Palavra de escoteiro! — Joe ergueu os dedos.

— Achei que tivesse contado a mim e a Gabe que foi expulso da corporação dos escoteiros por não obedecer às regras...

— Coisas passadas, coisas passadas. — ele apressou-se a dizer e mudou de assunto: — Os ladrões estão ficando cada vez mais ousados. Anteontem roubaram a casa da Sra. Huntley em plena luz do dia. Levaram tudo dos cômodos da frente, até os tapetes.

— Como? Ninguém os viu?

Joe balançou a cabeça.

— A Sra. Huntley estava nos fundos da casa, entre a cozi­nha e o jardim, servindo um almoço para alguns convidados. A única pessoa que estava na parte da frente da casa era a empregada, que já é uma senhora de idade. Continua lá por­que trabalha lá desde sempre. Os ladrões disseram a ela que tinham vindo retirar alguns itens para limpeza, ela acredi­tou. Quando começou a trovejar e a ameaçar chover, a Sra. Huntley chamou os convidados para entrar. E então...

— Descobriram que o tornado já tinha passado por lá e varrido tudo.

— Exatamente. E então filha, aceita?

Anahi respirou fundo.

Calma, disse a si mesma. Era apenas uma pequena tarefa para ajudar o pai, não um retorno à corporação. Poderia até ser uma mudança bem-vinda para sair da rotina. Ela não fizera nenhuma venda depois da casa de Randolph. Até a venda para o irmão de Troy tinha dado errado. John decidira abrir a agência de turismo num bairro mais central. Troy lhe pedi­ra mil desculpas por seu irmão não ter aparecido, conforme ficara combinado.

Anahi olhou novamente para o pai, cuja expressão parecia exageradamente inocente. O que ele estaria tramando? Ela não retomaria a carreira policial de jeito nenhum, isso já estava decidido.

— Tudo bem, mas só desta vez. — concordou ela por fim. — Só para ajudar você neste caso difícil.

Anahi queria que caso o pai estivesse com outras ideias, entendesse que estava perdendo tempo.

— É claro! Só preciso tirar o prefeito de cima das minhas costas. Esse homem não me dá sossego.

Anahi sentiu um gosto amargo na boca. Seu pai e o pre­feito se conheciam desde crianças, haviam inclusive estudado juntos no ensino fundamental, e nunca haviam gostado um do outro.

— Não confio nele. — disse Anahi. — Ele só está querendo solucionar os roubos para se promover e ser reeleito.

— Concordo em gênero, número e grau. E o cabo eleitoral dele está fazendo um bom trabalho, sabia? O problema é que o infeliz tem uma ficha limpa. Bem, se ele estiver escondendo alguma coisa, aparecerá mais cedo ou mais tarde. Sempre aparece.

Anahi tinha esperança que sim, e que fosse mais cedo do que tarde. Enquanto isso, faria o possível para ajudar o pai. Mas seria a última vez que realizaria um trabalho policial.

— Está bem, vou fazer o papel de corretora, ou seja, de mim mesma. E o que digo ao meu chefe? O departamento de polícia vai alugar o imóvel, é isso?

— Sim, nós vamos alugar a casa pelo período necessário para a investigação. Assim os recém-casados podem se mudar imediatamente. Já conversei com seu chefe por telefone e expliquei a situação, ele está sabendo de tudo. E combinei com ele que por razões óbvias, você seria a corretora que mostraria a casa aos pombinhos.

Anahi suspirou resignada.

— Muito bem. O que tenho de fazer?

Perigosamente JuntosOnde histórias criam vida. Descubra agora