Capítulo 10 - Horas recontadas

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Volto... buscar... bebida... gente. Essas foram as palavras que Sasuke conseguiu captar quando Naruto escoou seu corpo para fora do domínio sufocante dele. Pelo tom sussurrado, ou talvez pela má dicção de Naruto (sob o barulho de beijos molhados e música alta lá embaixo), Sasuke supôs que aquilo fosse uma desculpa — mais uma das famosas desculpas de Naruto, a especialidade da casa —, mas se esforçou para não ligar, porque eles já haviam evoluído bastante no quesito toques, beijos e tal. E, ao que tudo indicava, iriam ainda mais longe naquela noite.

Ainda assim, Sasuke observou frustrado, porém paciente, quando Naruto se ajeitou, já em pé, vestindo sua camiseta novamente (que na verdade era de Sasuke) e batendo no bolso da bermuda antes de sair pela porta. Conferindo se o celular dele ainda estava ali, supôs Sasuke.

— Não demora — disse ele a Naruto, que sequer ouviu.

Ele apressou o passo para fora daquele quarto e, a cada corridinha que tentava dar, esbarrava em alguém pelo corredor; quando não, acabava por quase empurrar alguém da escada, pela qual descia afobado. Chegando na curva que dava para notar a sala, avistou Gaara, ali sentado no braço do sofá, aparentemente alheio às piadas que o time da escola contava entre si, e para quem mais estivesse ao redor dele.

Lá estava Gaara, enfim. Com um copo de caipirinha na mão. E, pela cara dele, aquela não era a primeira.

E Itachi não estava ali ainda, perto de Gaara; então Naruto foi procurá-lo.

Por sorte, ou azar, o achou na cozinha, preparando mais uma bebida. Acreditou ser para Gaara. Não o havia visto tomar um gole sequer desde que chegaram. Por quê? Acaso não estaria curtindo aquela porcaria de festa que ele e Sasuke tanto idealizaram?

— Eu sei o que está tentando fazer — falou Naruto; o tom de voz fechado, porém alto o suficiente para que Itachi o escutasse sob aquele volume de música, festa e jovens. Naruto se aproximou. Mais convidados passavam ao redor deles, se esbarrando. — E estou te avisando pra parar.

Itachi o encarou com curiosidade, quase como um ser exótico. Como uma criança birrenta que diz: “Me dá meu HotWeels agora, anda! Tô mandando!”

Ele nem sabia exatamente do que Naruto estava falando, mas aquele tom… Ah, Itachi tinha pensamentos determinados sobre certos tons…

— Você está me avisando?

Largando a mistura de vodka e morango ali perto da pia, Itachi fechou a geladeira com uma cotovelada, e quando Naruto menos percebeu, lá estava ele, segurando-o pelo pescoço, pressionando a base da sua coluna contra a bancada da cozinha, nem se preocupando em ao menos olhar para os lados para conferir se alguém — especialmente Gaara ou Sasuke — estava olhando.

— Moleque — alertou Itachi, quase que numa confissão, quase rindo daquela pose toda dele —, com quem você pensa que está falando?

Naruto precisou se lembrar que agora não poderia ter medo, nem recuar. É, sim, Naruto se lembrou. Forçou-se muito para isso. Mordeu os lábios com força enquanto o suor começava a denunciar seu nervosismo. Fechou os olhos e respirou fundo, embora fosse difícil com Itachi quase o asfixiando ali, se recordando do quanto as mãos dele eram pesadas mesmo.

— Se eu fosse... você... — falou Naruto, tossindo. — Eu não faria isso.

— Que bom que você não sou eu.

Dessa vez, era incrível, a tola pretensão de Naruto fez Itachi rir — chegara a esse ponto! Depois de Gaara, Naruto era definitivamente o segundo a diverti-lo tanto naquela noite, e Itachi até que estava agradecido por isso: aqueles dois o livraram do tédio absoluto de encarar um Sasuke ranzinza e introspectivo no próprio aniversário, bem como de passar toda a noite fazendo hora para aqueles tapados do time, lá na sala. Como que reconhecendo isso, Itachi foi bondoso, soltando Naruto, que respirava melhor agora; e então voltou a preparar a caipifruta de Gaara, pondo os morangos e a vodca no liquidificador.

Chocolate Amargo   (sasunaru narusasu itasasu itanaru itaara gaanaru)Onde histórias criam vida. Descubra agora